Executivos precisarão de habilidades analíticas em vez de conhecimento acumulado; de habilidade para inspirar em vez de controlar; usarão insights para criar uma visão e propósito de longo prazo para a organização, em vez de estratégia de curto prazo
A Inteligência Artificial (IA) está redefinindo o conceito de liderança nas esferas mais altas das corporações. Antigamente, líderes carismáticos como Henry Ford e Elon Musk personificavam suas empresas, com a cultura corporativa e as decisões estratégicas frequentemente atreladas às suas personalidades e intuições. Essa dinâmica está prestes a sofrer uma transformação.
A IA não substituirá o talento dos líderes, mas vai mudar a forma como atuam. Ela ainda está aquém da capacidade humana de resolver problemas complexos e mal definidos. Exemplo: não é possível simplesmente perguntar: “Quais são meus gestores regionais com melhor desempenho?”. É necessário ensinar ao algoritmo os critérios para definir o que é alta performance.
O aumento da capacidade de processar e analisar grandes volumes de dados em tempo real permite que as decisões da alta liderança sejam baseadas em insights profundos, não apenas em intuições ou experiências passadas. Líderes serão desafiados a se adaptar a essa nova realidade, onde o acesso à informação de qualidade exige um novo tipo de gerenciamento que valorize a curiosidade e a capacidade de questionamento.
Uma das primeiras áreas em que a IA deve se tornar indispensável para os gestores é a de Recursos Humanos (RH). O recrutamento, por exemplo, exige respostas nas quais a IA se destaca, como “as habilidades específicas desta pessoa se encaixarão bem nesta vaga?” ou “de que treinamento adicional este funcionário precisa para uma promoção?”. Além disso, a IA será inestimável para melhorar a retenção e prevenir a rotatividade – a empresa poderá usar dados passados sobre funcionários que saíram para prever não apenas quais têm mais chance de deixar a companhia, mas também o porquê.
A transição para lideranças que utilizam a IA vai gerar um deslocamento significativo das habilidades tradicionalmente valorizadas em executivos C-level. Atualmente, o sucesso de um líder muitas vezes é medido pela capacidade de tomar decisões rápidas e assertivas com base em experiências pessoais e conhecimento acumulado. No futuro próximo, eles deverão usar a IA para formular perguntas estratégicas que orientem a organização não apenas em termos de eficiência operacional, mas também em inovação e adaptação estratégica. Esse novo paradigma não apenas aumenta a eficácia das decisões, mas também amplifica a responsabilidade dos líderes em aprender continuamente e adaptar-se às novas ferramentas e metodologias.
Longe de ser apenas mais uma camada de tecnologia, a IA inaugurará uma nova era de liderança. Executivos precisarão de habilidades analíticas em vez de conhecimento acumulado; de habilidade para inspirar em vez de controlar; usarão insights para criar uma visão e propósito de longo prazo para a organização, em vez de estratégia de curto prazo. Na cultura corporativa, isso significa menos razões para admirar líderes apenas por seus palpites certeiros e mais para aplaudi-los por fazer as perguntas certas.
Fonte: Época Negócios