A inflação em alta e as expectativas em relação a 2022 avançando devem fazer com que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) promova novo aumento na taxa básica de juro (Selic) nesta quarta. O consenso de mercado é de um aumento de um ponto percentual, elevando-a para 6,25% ao ano, a maior taxa desde julho de 2019, quando estava em 6,5%.
Para médio e longo prazo, a tendência é de novos aumentos, e alguns economistas já preveem que a Selic possa chegar a dois dígitos no ano que vem.
“A inflação desfavorável hoje é resultado das políticas monetária e (principalmente) fiscal excessivamente expansionistas no passado”, diz o economista-chefe da XP Investimentos, Caio Megale.
Os últimos números sobre a inflação não se mostraram promissores, O IPCA de agosto fechou em 0,87%, o maior resultado para esse mês desde 2000. No acumulado de 12 meses, os preços subiram 9,68%.
“O dado é preocupante pois os preços estão vindo de vários setores – combustíveis, energia, alimentos, bens industriais e serviços – e os núcleos de inflação se encontram acima do limite superior da meta”, diz o economista Gustavo Sung, da Suno Research.
Não bastasse isso, o economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, lembra que uma série de fatores tem impactado negativamente a retomada da economia, desde ruídos políticos até a possibilidade de que uma crise hídrica tenha impacto contracionista sobre a atividade. As projeções para o crescimento da economia brasileira em 2022 caíram de 2% para 1,63% nas últimas quatro semanas.
“O cenário inflacionário continuou se deteriorando e os riscos permanecem elevados. A situação hídrica gera pressão sobre a inflação corrente, via aumentos das contas de luz e, também, sobre a dinâmica de preços do ano que vem, através da inércia resultante de um IPCA mais elevado e do risco de novas medidas que visem à redução do consumo de eletricidade”, apontam economistas do Itaú.
Megale, da XP Investimentos, cita outro fator de atenção: a política fiscal, ou seja, a estratégia do governo para a administração das receitas e despesas públicas. Ele aponta que uma política excessivamente expansionista – e sua consequência sobre a perspectiva da demanda agregada e da taxa de câmbio – torna a batalha ainda mais difícil.
O Itaú ressalta também que as dúvidas sobre a trajetória das contas públicas, em especial no que diz respeito ao cumprimento do teto de gastos em 2022, resultam em uma pressão mais duradoura sobre a taxa de câmbio, que deve ter menos espaço para valorização, mesmo com a trajetória esperada de aumento na taxa básica de juros.
O grande desafio do Copom será o de cumprir a meta da inflação prevista para 2022, que é de 3,5%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima. As projeções começam a se afastar da meta. Segundo o último relatório Focus, divulgado na segunda-feira (20), o ponto médio (mediana) das expectativas para o IPCA no ano que vem chegou a 4,1%, após nove semanas seguidas de alta.
fonte: Gazeta do Povo