No Maricopa Agricultural Center – espécie de campus experimental da Universidade do Arizona, a cerca de uma hora da capital Phoenix, nos Estados Unidos – um trator vem em nossa direção. Conforme aquele monstro de 2 metros de altura se aproxima, notamos que não há ninguém ao volante. De repente, ele muda sua trajetória e segue sua missão de irrigar a terra.
A poucos metros dali, duas escavadeiras cavoucam a terra, enquanto seus operadores conversam sobre a lavada do Boston Celtics sobre o Phoenix Suns na noite anterior. O diálogo ao redor do jogo da fase classificatória da NBA, a liga norte-americana de basquete, foi possível porque as máquinas trocaram os barulhentos motores a diesel por silenciosas unidades elétricas.
Automação e combustíveis alternativos serão os pilares das fazendas modernizadas na visão da CNH Industrial, uma das líderes mundiais na produção de máquinas agrícolas.
“Acabamos de ultrapassar 8 bilhões de pessoas no mundo. São muitas bocas para alimentar, e não há muito mais áreas aráveis. Então, nosso foco em trazer a tecnologia para resolver esses problemas é significativo”, ponderou Scott Wine, CEO da CNH Industrial, durante a primeira edição do que a empresa chamou de Tech Day, cujo mote era “Breaking New Ground”, ou “abrindo novos caminhos”, na tradução livre.
Os novos produtos, ainda na condição de protótipos, poderão ser aplicados em toda a cadeia de uma fazenda – da preparação do solo, passando por plantação e aplicação de agrotóxicos, até a colheita.
Gás e eletricidade
O trator T7, da New Holland Agriculture, tem tanque de Gás Natural Liquefeito (GNL) e alimentação a metano. Além de uma cabine mais silenciosa, oferece 270 cavalos de potência e pode chegar a até 50 km/h. O reabastecimento é como o de um trator movido a diesel, com a diferença de que o tanque de armazenamento externo é criogênico e mantém o metano como um líquido a -162ºC, o que permite transportar o combustível para reabastecimento no campo, como ocorre com o diesel.
De acordo com a CNH Industrial, o gás comprimido tem a mesma força de uma máquina a diesel, com a vantagem de gerar 80% menos emissões em comparação com o combustível fóssil. Contudo, sua estreia comercial deve ocorrer apenas em 2025.
“Se você pensar no que estamos vendo com os preços dos combustíveis, com os preços da energia e a ideia de gerar uma pegada de carbono negativa em uma fazenda, é realmente emocionante e está ganhando vida muito, muito rapidamente”, complementa Wine.
Já o T4 Electric Power, como o nome indica, é o primeiro protótipo de trator elétrico, além de contar com recursos autônomos. Também com a marca New Holland, terá o modelo comercial estendido à marca Case, outra que pertence à CNH Industrial.
Mais indicado a operações menores, entrega 120 cv, tração nas quatro rodas e velocidade máxima de 40 km/h. A autonomia é de até oito horas. A empresa planeja produzir entre 150 e 200 unidades do modelo em sua planta de Detroit (EUA) e na sequência testá-los com clientes selecionados nos Estados Unidos, na Europa e também por aqui.
“Estamos selecionando algo entre 10 e 15 fazendas no Brasil para, dentro de um ano, um ano e meio, ter o feedback dos clientes. O desafio é validar essa tecnologia e demonstrar aos clientes que, apesar de mais cara, ela traz muitas vantagens”, disse à Forbes Carlo Lambro, presidente da New Holland Agriculture, que prevê a estreia comercial do veículo para entre fim de 2024 e começo de 2025.
Sem motorista
Durante o Tech Day, a CNH Industrial também demonstrou tecnologias de condução autônoma, que dispensa um motorista.
“O setor da agricultura enfrenta os desafios de tempo, custos, janelas operacionais restritas e uma força de trabalho cada vez menor. A autonomia se tornará parte integrante das operações dos agricultores em todos os lugares”, disse Derek Neilson, presidente da divisão de Agricultura.
As novas soluções se concentram em preparo do solo sem motorista (Driverless Tillage), colheita com assistência ao motorista (Driver Assist Harvest Solutions) e automação de enfardadeiras.
“Estamos no caminho para a plena autonomia. Focamo-nos em fornecer uma pilha de tecnologia autônoma que se estende por todos os ciclos de produção para o segmento de cultura comercial: preparação da cultura, plantio/semeadura, cuidado da cultura, colheita, feno e forragem. O foco na automação e na autonomia não é tirar os agricultores da agricultura, é tornar suas máquinas mais produtivas com automação funcional”, complementou Parag Garg, diretor-geral de produtos digitais da CNH Industrial.
Na avaliação da empresa, equipamentos autônomos, que dispensam um condutor, proporcionam maiores rendimentos, reduzem os custos de entrada e a fadiga do operador, melhoram a eficiência e diminuem o impacto ambiental.
A expectativa é que as receitas da CNH Industrial no ano 2022 atinjam aproximadamente US$ 900 milhões provenientes exclusivamente da Precision Technology, com uma taxa de crescimento anual de 10% a 15% nos próximos dois a três anos; para o próximo ano, a expectativa é faturar US$ 1 bilhão com tecnologias de precisão.
Os preços comerciais dos modelos ainda não foram definidos – o que deve ocorrer próximo ao lançamento comercial dos produtos.
Por Rodrigo Mora