sexta-feira,22 novembro, 2024

Cirurgia no espaço: robô conclui procedimento simulado em estação espacial

Tecnologia poderá ter implicações não só para sucesso das viagens espaciais, mas também para acesso a cuidados médicos em áreas remotas

Um minúsculo robô cirúrgico presente na Estação Espacial Internacional completou sua primeira demonstração de cirurgia em gravidade zero no último sábado (10), segundo afirmaram desenvolvedores da tecnologia com exclusividade à CNN.

O robô, conhecido como SpaceMIRA – sigla em inglês de Assistente Robótico In Vivo Miniaturizado – realizou várias operações em tecidos simulados no laboratório orbital enquanto era controlado remotamente por cirurgiões a aproximadamente 250 milhas (400 quilômetros) abaixo, em Lincoln, no estado norte-americano de Nebraska.

Este marco representa um passo em frente no desenvolvimento de uma tecnologia que poderá ter implicações não só para o sucesso das viagens espaciais humanas a longo prazo, em que poderão ocorrer emergências cirúrgicas, mas também para o acesso a cuidados médicos em áreas remotas da Terra.

O objetivo dos Estados Unidos de aprofundar a exploração espacial inclui a possibilidade de viagens que podem levar anos – uma viagem de ida e volta a Marte pode levar cerca de dois anos para ser concluída, segundo a Nasa (agência espacial norte-americana).

Uma ferramenta robótica construída para o espaço

O robô pesa apenas 0,9 quilograma e seu design compacto, do tamanho de um micro-ondas, torna o equipamento um instrumento leve, adequado para viagens espaciais.

Com uma parte do dispositivo inserida no corpo para realizar a cirurgia, a ferramenta usa dois braços para imitar os movimentos de um ser humano – o braço esquerdo para agarrar, e o braço direito para cortar, revela Shane Farritor, cofundador e diretor de tecnologia da Virtual Incision, a startup que criou o SpaceMIRA.

Design compacto do robô, do tamanho de um micro-ondas, resulta em um instrumento leve, adequado para viagens espaciais / Divulgação/Virtual Incision

“Ela oferece mãos e olhos menores ao cirurgião (na Terra) e permite que ele realize muitos procedimentos de forma minimamente invasiva”, afirma Farritor, que ajuda a desenvolver a tecnologia há 20 anos.

O SpaceMIRA pegou carona em um foguete SpaceX Falcon 9, em 30 de janeiro, na Estação da Força Espacial de Cabo Canaveral, na Flórida, e chegou à estação espacial em 1º de fevereiro.

Como foi a demonstração do robô cirúrgico

Na demonstração de sábado, o cirurgião remoto controlou uma das mãos do robô para dar tensão ao tecido simulado – feito de elásticos – e usou a outra para dissecar o tecido elástico com uma tesoura, segundo Farritor.

No total, seis cirurgiões realizaram testes remotos com o robô, e cada uma das demonstrações – dissecar o pedaço correto de tecido sob pressão, uma tarefa cirúrgica comum, de acordo com Farritor – foi considerada bem-sucedida.

Um dos desafios ao tentar controlar um robô no espaço a partir da Terra é a latência, ou o atraso de tempo entre o envio do comando e o recebimento pelo robô. O atraso foi de cerca de 0,85 segundo, disse Michael Jobst, cirurgião colorretal que participou da demonstração com o SpaceMIRA no sábado.

“Em um paciente vivo, se houver sangramento, é minha função estancá-lo imediatamente. Mas ter um intervalo de 800 a 850 milissegundos entre ver a perda de sangue e depois fazer algo a respeito, quero dizer, efetivamente é como… dizer ‘ok, um, Mississippi, dois’, e então posso seguir em frente e resolver o problema”, comentou Jobst, que foi um dos primeiros cirurgiões a usar o MIRA terrestre em humanos em estudos clínicos.

O cirurgião afirma que realizou um total de 15 operações remotas em pacientes humanos. “Cinco segundos seriam uma eternidade em uma cirurgia, e uma fração de segundo, ou meio segundo, será significativo. Então, este foi um grande desafio”, acrescentou Jobst. Mesmo com o notável atraso, os cirurgiões conseguiram completar as tarefas, ressaltou.

O SpaceMIRA está programado para retornar à Terra na primavera norte-americana (outono, no Brasil).

“A Nasa quer ir mais longe, e os voos espaciais de longa duração irão colocar novas exigências aos cuidados médicos de várias maneiras”, diz Farritor, que também é professor de engenharia mecânica na Universidade de Nebraska. “Há muitas perguntas que ainda não foram respondidas aqui. Queríamos apenas mostrar o que é possível e achamos que é um passo muito bom na direção certa.”

Telecirurgia permite acesso a cuidados de saúde

As descobertas do MIRA também são valiosas para expandir as opções cirúrgicas na Terra, como em áreas rurais ou campos de batalha militares, de acordo com um comunicado de imprensa da Universidade de Nebraska.

“Há muitos lugares nos Estados Unidos que não têm acesso a especialistas e, se você pudesse realizar uma telecirurgia como esta, em que você poderia ter um especialista ligando de uma cidade maior para uma área rural e ajudar com algum cuidado cirúrgico, isso traz enormes vantagens”, finaliza Farritor.

O SpaceMIRA é 7,6 centímetros menor do que um equivalente projetado para uso na Terra para acomodar restrições de voos espaciais, mas tem a mesma forma e função, segundo o desenvolvedor.

Fonte: CNN Brasil

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