Por Marisa Adán Gil


Os recifes de corais são hoje as manifestações mais espetaculares da simbiose – quando duas espécies muito diferentes aprendem a viver uma com a outra e criam um vínculo. Apesar de parecerem com rochas, os recifes de corais são, na realidade, formações geradas por um animal marinho denominado genericamente de coral. Esse animal produz um esqueleto formado de carbonato de cálcio.

É o conjunto desses esqueletos que compõe os recifes – que, em simbiose com as algas, são capazes de abrigar uma grande quantidade de formas de vida marinha, fornecendo-as abrigo e proteção. Entender a mecânica desse esforço mútuo se tornou uma tarefa urgente para os cientistas, pois o aquecimento global desencadeou o colapso generalizado dos recifes em todo o planeta, relata o The Guardian.

Para tentar interromper essa destruição, um grupo internacional de pesquisadores liderado pelo Wellcome Sanger Institute está trabalhando no projeto Aquatic Symbiosis Genomics (ASG). Poderosos sequenciadores de DNA estão sendo usados para desvendar os segredos genéticos dos corais e garantir o seu futuro.

“Os recifes de corais são chamados de florestas tropicais dos mares por um bom motivo”, disse Michael Sweet, da Universidade de Derby, e líder do projeto. “Eles abrigam uma vasta gama de vida marinha e têm um valor global estimado de cerca de £ 6 trilhões (R$ 43 trilhões) por ano, por causa da pesca, das indústrias de turismo e da proteção costeira que eles sustentam.”

No entanto, ocorre hoje um branqueamento generalizado de recifes, devido ao aquecimento global. Às vezes um recife se recupera, mas à medida que os eventos de branqueamento se tornam cada vez mais frequentes, eles perdem a capacidade de se recuperar. Alguns dos locais mais afetados incluem a Grande Barreira de Corais na Austrália.

“Na taxa atual de branqueamento, cerca de 90% dos recifes de corais do mundo estarão funcionalmente extintos até 2030 e não serão mais capazes de sustentar a vida”, acrescentou Sweet. “É extremamente preocupante.”

Entender a relação exata entre o coral e seu parceiro simbiótico, as algas, é agora um foco importante da atenção científica. O coral fornece proteção para algas, que por sua vez convertem a energia do sol em alimento para o coral. Isso dá ao coral a energia para crescer, reproduzir e construir seu esqueleto. As algas também dão ao coral sua cor.

Como parte do projeto ASG, que é financiado pela Gordon and Betty Moore Foundation e pelo Sanger Institute, milhares de amostras de DNA de coral estão sendo estudadas e seus genomas sequenciados. Um objetivo fundamental será identificar parceiros simbióticos que tornem o coral mais capaz de resistir ao impacto do aumento da temperatura do mar, bem como doenças associadas ao aumento do calor.

Uma vez que isso seja feito, os cientistas esperam que ser capazes de criar colônias a partir de uma amostra de coral. Ou então usar a edição genética para manipular o DNA de um tipo diferente de coral — um que cresce rapidamente, por exemplo —, para que ele adquira uma característica desejada, como tolerância térmica ou resistência a doenças.

“Dessa forma, você pode combinar conjuntos de características para criar um tipo de supercoral”, disse Sweet.