terça-feira,26 novembro, 2024

Cientistas brasileiros inovam na avaliação de impactos de microplásticos

A poluição por microplásticos representa um sério desafio ambiental a ser enfrentado nos dias de hoje e cientistas brasileiros já estão fazendo seu papel. Um artigo publicado por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) mostra como o formato das partículas plásticas deve ser incorporado nas análises, não somente sua quantidade.

O estudo do impacto ambiental da poluição plástica cresceu significativamente na última década, mas a área ainda enfrenta problemas como a falta de uma padronização para as técnicas de coleta de amostras ou mesmo para a metodologia de análise. As conclusões dos estudos, frequentemente, são reportadas com base nos resultados de números de partículas encontradas, quaisquer que sejam suas dimensões e pesos.

O estudo dos cientistas brasileiros ressalta como o tamanho e o formato dos microplásticos deve ser considerado na análise de seus impactos, não somente a quantidade de partículas (Imagem: Florida Sea Grant)

A pesquisa realizada pelos cientistas da Unifesp demonstra que diferenças na morfologia das partículas — massa, dimensões e área superficial, por exemplo — geram impactos distintos em amostras de mesma quantidade. O comprimento dos microplásticos pode variar de 0,001 a 5 milímetros — ou de 1 a 5.000 micrômetros, do tamanho de uma bactéria ao tamanho de uma formiga.

Além de notar o problema em estudos anteriores, o professor Décio Semensatto e seus colegas de estudos se depararam com a questão da morfologia dos microplásticos em sua pesquisa sobre as partículas presentes na Represa Guarapiranga. “Nós coletamos amostras nas temporadas de chuva e de seca e encontramos mais microplásticos em uma do que na outra, com uma diferença ainda maior em termos de massa e volume. Usar somente o número de partículas como parâmetro [de avaliação de impactos] foca apenas em uma dimensão e ignora o fato de que diferentes tamanhos têm diferentes efeitos nos ecossistemas,” afirma o pesquisador.

Comparando as partículas

Os cientistas demonstram que entre duas amostras, ambas com 100 microplásticos, a que contém partículas maiores vai gerar maiores impactos. Isso se deve ao fato de que o plástico das partículas grandes ainda pode ser quebrado em partes menores — em estudos convencionais, porém, as duas amostras seriam consideradas equivalentes.

As pesquisas costumam reportar seus resultados em termos de partículas por volume, como 100 microplásticos por litro de água, por exemplo, sem indicar suas dimensões (Imagem: Unsplash/Naja Bertolt Jensen)

Outro fator a ser considerado é a área superficial das partículas. Uma boa comparação, neste caso, é uma folha de papel: se ela for amassada no formato de uma bola, sua superfície de contato diminuirá significativamente, mas sua massa continuará a mesma. Os microplásticos com maior área superficial apresentam potencial de carregar consigo outros poluentes, como metais pesados e fármacos, ou até fungos e bactérias.

Em um momento em que a comunidade internacional está voltando suas atenções para a poluição plástica, refinar análise pode ajudar governos e instituições a tomar decisões mais embasadas em termos de políticas para combater o problema. “Analisar todos os atributos das amostras nos traz novas possibilidades à tona e amplia a comparabilidade dos resultados,” conclui Décio.

Fonte: Environmental Science and Pollution Research Via: Phys.org

Por:  Rodilei Morais

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