sexta-feira,22 novembro, 2024

Cidades Inteligentes demandam sociedade e gestores inteligentes

Uma terminologia muito utilizada atualmente, num conceito bastante superficial, podemos definir cidades inteligentes como aquelas cidades nas quais se utilizam das diversas tecnologias existentes (processos ou produtos) em benefício do bem-estar da sua população, existindo pesquisas que apontam que atualmente as cidades inteligentes são responsáveis por mais de 60% da gestão do PIB mundial.

Realmente, as cidades inteligentes utilizam-se de inúmeras ferramentas oriundas da aplicabilidade destas tecnologias, desenvolvidas pela ciência, com o intuito de melhorias na capacidade da eficiência em obter resultados práticos no desenvolvimento de políticas públicas e socioeconômicas, associadas à sustentabilidade socioambiental, o que normalmente é deveras complicado.

Principalmente, se levarmos em conta que tais conceitos são muito abrangentes e envolvem desde uma pequena cidade que se utilizam de artefatos e aplicativos associados à “internet das coisas” (IoT) por meio de meras conexões eletrônicas, até sistemas mais complexos, que objetivam algumas formas de controle e monitoramento, o que significa ser apenas “sistemas conectados”, programados por respostas retroalimentadas, desprovidas de qualquer forma de “inteligência”, não representam a prática de muitas cidades e seus respectivos gestores  (desculpem-me, os discordantes!).

Abro aqui um pequeno parênteses, explicando que em momento algum estou me referindo ao “ranking das cidades inteligentes conectadas”, que conforme meu entendimento envolvem mais diretamente os interesses de algumas empresas privadas atreladas à alguns gestores e entidades públicas, que buscam parâmetros comparativos específicos em determinadas plataformas, pretendendo alternativas de inovações e soluções supostamente inteligentes para melhorias de seus municípios (ou de si mesmos), o que é praticamente impossível, considerando-se aspectos tão desiguais em termos tecnológicos, entre as diferentes comunidades que as compõem.

Por outro lado, se consideramos que estas plataformas visam apenas proporcionar espaços integrativos que visem incentivar inovações tecnológicas, mediante dados estatísticos e outros parâmetros de expectativa de desenvolvimento (perspectivas, projeções, prevenções, etc.) para auxiliar no processo de gestão das cidades, por meio de sistemas inteligentes, aí então, poderemos discutir o assunto.

Por outro lado, o entendimento de cidades inteligentes, passa a ser mais controverso com a complexidade que surge ao inserirmos o componente social (população) em suas interações, ou seja, a integração dos mecanismos tecnológicos com o meio – onde habita o homem, pois estamos nos referindo ao objetivo principal da utilização destas tecnologias (IA) em função do bem-estar social, demandadas pelos espaços e pelo uso das múltiplas maquinarias que a humanidade aprendeu a criar e deles passaram a ter dependência crônica.

Num sentido mais amplo, devemos entender que uma cidade inteligente deve ser constituída como um espaço (descompactado), onde possam conviver uma sociedade sem opressão, embora com normas e regras integradas a um “sistema de conduta social”, cujas diretrizes sejam alicerçadas pelas tecnologias inteligentes, enquanto instrumentos de gestão e não de coerção. Isto compactua com a assertiva de que uma cidade inteligente deva ser constituída de um espaço urbano de convivência e bem-estar, amparada por modernas ferramentas tecnológicas de ações colaborativas e facilitadoras em complementação às nossas atividades humanas de rotina, envolvendo aspectos de inclusões em suas múltiplas vertentes do cotidiano (igualdade, segurança, sustentabilidade, resiliência, empatia, solidariedade, etc.), onde os mecanismos devam ser mais voltados e pensados preventivamente para as pessoas e não como agente controlador por parte do Estado.

Em outras palavras, eu diria que o futuro das cidades inteligentes em seu conceito universal, somente se perpetuará para àquelas cidades onde houverem uma sociedade inteligente que outorguem poderes para gestores inteligentes, o que implica num maior domínio do conhecimento (com base em informações da ciência, tecnologia e demanda social), mesmo com a existência de segmentos tão diversos entre nós (aldeia global), o que poderá nos ensejar uma sociedade mais inclusiva, integrada, colaborativa e inteligente para uma maior qualidade de vida para o nosso futuro comum.

Sem esta contextualização multi-inclusiva, mesmo com a nomenclatura de “cidades inteligentes” (meramente tecnológicas) nossos conglomerados urbanos serão sempre e apenas, um amontoado de construções de convivência sofrível e sem um mínimo de conforto e bem-estar socioemocional entre os seus pares, independentemente de quaisquer que sejam as suas nominações “marqueteiras”.

Texto: Carmino Hayashi

Redação
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