O longo mês de janeiro teve fim, e o ChatGPT alcançou a marca de 100 milhões de usuários, antes mesmo de completar dois meses desde seu lançamento.
O nome é complexo, mas, seguramente, você já deve tê-lo ouvido, afinal, o tema tem dominado as redes sociais, jornais e também as nossas conversas. Lançado em novembro de 2022 pela OpenAI, organização que tem como missão “garantir que a inteligência artificial beneficie toda a humanidade”, o ChatGPT é uma inteligência artificial que responde a perguntas variadas, gerando grandes quantidades de conteúdos sobre, basicamente, qualquer tema.
Essa descrição pode soar modesta e até comum, afinal, estamos bastante acostumados a dialogar com os chamados chatbots em chamadas telefônicas, WhatsApp ou mensagens instantâneas.
No entanto, especialistas asseguram que o ChatGPT é altamente disruptivo — alguns o consideram o melhor chatbot já inventado — pelo alto desempenho na criação de conteúdo que se assemelham muito a materiais produzidos por seres humanos. A criatividade, um reino antes só ocupado por seres humanos, parece ter novos habitantes.
O sucesso da tecnologia, que pertence ao grupo das chamadas “generative AI”, foi imediato e uma verdadeira febre digital. Após poucos dias de lançamento, a plataforma, que é gratuita, já reunia 1 milhão de usuários que testaram as funcionalidades da inteligência artificial das mais distintas. E como não podia ser diferente, o sucesso, amplo uso e a análise preliminar das diferentes aplicações do ChatGPT tem preocupado especialistas. Assim como observamos em casos anteriores — como os deepfakes, por exemplo — o desenvolvimento acelerado da inteligência artificial suscita questões muito pertinentes sobre o uso ético da tecnologia.
Há os que temem que soluções com o ChatGPT possam substituir humanos em diferentes tarefas relacionadas à produção de saberes, conteúdos e criatividade. Outros apontam que a inteligência artificial representa um perigo ao reconhecimento da verdade dos fatos e da identidade de seres humanos.
Todas essas indagações são válidas e, infelizmente, ainda não alcançamos todas as respostas — e pode levar muito tempo até que as tenhamos.
Vale a pena seguir em frente
Isso não significa, definitivamente, que devemos parar nossa busca. Especialmente, precisamos garantir que a utilização de tecnologias, especialmente as que têm como base a inteligência artificial, possa trazer benefícios reais à coletividade, em vez de danos irreversíveis.
Afinal, um robô que responde a todas as nossas perguntas e elabora textos complexos com o comando de um prompt pode soar extraordinário, mas, qual a sua aplicabilidade prática? Como ele pode nos ajudar a resolver problemas complexos em diferentes áreas, como saúde e educação? E como essas soluções podem estar acessíveis ao maior número de pessoas, especialmente aquelas que contribuem com o aprendizado da própria inteligência artificial?
É preciso que estejamos vigilantes, compreendamos que o desenvolvimento da tecnologia não é inerentemente ruim e possamos pactuar princípios e limites claros para a aplicação da inteligência artificial.
Há inúmeras possibilidades para aplicação de soluções como o ChatGPT; cabe a nós, especialmente às lideranças em tecnologia, definir as bases de sua utilização de forma ética para que esses benefícios possam ser colhidos por todos e, mais importante, não gerem como externalidades riscos a ninguém.
Por: Leticia Piccolotto Ferreira