Capital de risco ainda está cauteloso, embora haja interesse por inteligência artificial
Embora o cenário econômico esteja longe de melhorar para as startups e o momento ainda seja de cautela dos fundos de capital de risco, Katherine Maher, diretora-presidente do Web Summit, diz que o evento de inovação realizado nesta semana em Lisboa atraiu mais investidores do que o esperado. E a inteligência artificial (IA), um dos temas mais debatidos no evento, pode unir startups e investidores.
“O momento macroeconômico global é difícil não apenas para o setor de tecnologia ou de startups, mas mesmo sendo esse o caso, ainda tínhamos mais investidores aqui do que esperávamos, o que significa que o nível de interesse é alto”, disse Maher, em entrevista ao Valor e ao jornal “O Globo”, ontem (16), pouco antes do encerramento do evento, realizado na capital portuguesa desde 2016.
Nesta edição, sob o recente comando de Maher, que assumiu há 14 dias a posição antes ocupada pelo fundador do Web Summit, Paddy Cosgrave, participaram 2.608 startups de 153 países, sendo 170 brasileiras, e cerca de 900 investidores, segundo a organização.
Maher reconhece que os investidores estão mais cautelosos sobre onde realizar aportes. “Sabemos que é um pouco mais difícil para muitas startups sobreviverem, mas essa sobriedade pode ser uma coisa boa para a indústria”, diz. “Não sei se vamos voltar tão cedo para uma espécie de dinheiro oferecido basicamente de graça da última década”, completa.
No longo “inverno” das startups, há um tema que tem animado investidores: negócios baseados em inteligência artificial (IA). Este foi um dos tópicos mais discutidos em Lisboa, e também assunto principal do Web Summit Rio, realizado em maio, e do Collision, em Toronto, no fim de junho.
Evento em Lisboa recebeu 2.608 startups, sendo 170 brasileiras, e 900 investidores
De acordo com uma sondagem feita com 111 investidores de capital de risco que estavam no evento de Lisboa, 62,2% disseram que a IA e o aprendizado de máquina têm o maior potencial de inovação entre as tecnologias emergentes. Há um ano, essa fatia era de 29%.
Para Maher, o potencial de automação de processos da IA generativa pode facilitar o desenvolvimento inicial de startups com aportes menores. “O interessante sobre esse momento de automação, é que graças à capacidade de usar IA generativa para escrever códigos, por exemplo, há muito mais recursos que permitem que você apresente um produto ao mercado”, disse. “E essa dinâmica também está mudando o momento do investidor”.
Outro tema quente nesta semana em Lisboa foi a troca de comando do próprio evento. O empreendedor irlandês, que fundou o Web Summit em 2009 e tem 81% da empresa que organiza o evento, deixou o cargo após patrocinadores e palestrantes – empresas como Alphabet, Amazon, Intel, Meta, Siemens, Antrophic, Heineken e Sequoia Capital, entre eles – terem cancelado a participação.
O boicote se deu após Cosgrave escrever na rede social X (ex-Twitter) que a resposta de Israel aos ataques do Hamas é crime de guerra. “Eu estava no Texas (EUA) visitando minhas afilhadas e, quando cheguei lá, recebi um e-mail me perguntando se estaria aberta para conversar com o Web Summit”, conta Maher, que topou o desafio após três dias de conversas com a equipe executiva do evento. “Obviamente, eles estavam passando por um momento difícil, mas estavam focados no que era certo para a empresa, para o evento e para a comunidade. Foi isso que me convenceu e aqui estou”, disse.
Assim que assumiu o cargo, Maher conta que sua primeira ação foi conversar com as empresas e participantes que cancelaram suas participações na maior edição do evento – o número de desistências não foi informado. “Ouvimos de vários dos que não vieram a Lisboa, que pretendem transferir a parceria para um de nossos eventos futuros e por isso espero mais parceiros nos eventos que estão por vir em 2024”, disse a executiva.
O próximo evento do grupo será a primeira edição do Web Summit em Doha, no Qatar, em fevereiro. Em seguida, ocorre a segunda edição do Web Summit Rio, entre os dias 15 a 18 de abril, na capital carioca.
*A repórter viajou a Lisboa a convite do Web Summit