O Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), entidade vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), divulgou, nesta semana, um alerta para a estiagem severa e superaquecimento das águas do Lago Tefé, no Médio Solimões, interior do estado do Amazonas.
Segundo o instituto, no último dia 25 a temperatura das águas alcançou 33°C, sendo a maior registrada neste ano. “Isto indica uma tendência de aumento para os próximos dias e acende um alerta para a fauna aquática do lago, em especial botos e peixes”, pontuou a nota técnica.
Entre setembro e outubro de 2023, foi registrada a morte de 209 botos vermelhos e tucuxis devido ao superaquecimento das águas, quando a temperatura alcançou mais de 40°C. Para o pesquisador do Instituto, Ayan Fleischmann, a situação atual é ainda mais grave do que a registrada no ano passado.
“Neste ano, a estiagem chegou antes, pelo menos uns 20 dias. No momento a gente está a menos de 1,5m acima do auge da seca do ano passado. Então, se mantiver essa taxa de 10 a 15 centímetros por dia, a gente pode bater em duas semanas o nível que foi atingido ano passado”, explica o Fleischmann.
De acordo com o pesquisador, dos 209 botos mortos, 180 foram da espécie boto vermelho, que tem uma população estimada de 900 animais. “Uma esperança para que eles não venham a óbito de novo é que os mais vulneráveis tenham morrido ano passado, mas isso é apenas uma suposição”, disse.
Outro ponto que preocupa os especialistas é a queda no nível de água do lago, que auxilia no superaquecimento das águas. Ainda de acordo com o IDSM, essa semana, as águas estavam com 6,35m, cerca de 1,6m acima do menor valor atingido no ano passado, de 4,75m. “Nas últimas duas semanas o nível da água no Lago Tefé diminuiu 3,37m, em uma média de descida de 24cm por dia”, alertou o Instituto.
“Com o nível atual da água no lago Tefé baixando ainda mais, a temperatura pode chegar a 40°C nas próximas semanas, bastando para isso uma sequência de dias ensolarados e com poucas nuvens. A onda de calor esperada para os próximos dias é especialmente preocupante”, finaliza a nota.
Em relação ao que pode ser feito para evitar as mortes, Fleischmann explica que, no último ano, as áreas mais afetadas foram isoladas, mas isso aconteceu apenas após o início do cenário.“Nós já estamos discutindo com a prefeitura o isolamento de trechos críticos do Lago Tefé, como fizemos no ano passado. A diferença é que ano passado o isolamento foi feito depois do evento, já que foi todo mundo pego de surpresa”, explica.
Populações ribeirinhas
Mas não é apenas a natureza que sofre com as baixas do lago e o aumento da temperatura das águas. Segundo Fleischmann, já existem registros de comunidades ribeirinhas isoladas. “O cenário atual é de que o lago está muito seco, já tem muitas comunidades isoladas ao longo do Lago Tefé e não só aqui, mas em toda a Amazônia Central, toda a região do médio Rio Solimões. As pessoas relatam problemas de acesso à água, relatam casos de diarreia e de mortandade de peixes”, afirma o especialista.
“É urgente a aceleração na tomada de ações de resposta a este desastre em curso por parte do poder público, em todas suas esferas, e em parceria com a sociedade civil”, completa a nota do instituto.
Confira a nota na íntegra em https://mamiraua.org.br/noticias/alerta-estiagem .