domingo,22 setembro, 2024

Bússola da Inovação: como estão as indústrias do Paraná sobre o tema

Inovar já não é diferencial. Apesar de, historicamente, existirem setores que investem mais no tema devido à própria natureza, como o farmacêutico, de cosméticos e o automotivo, trata-se de uma necessidade para a sustentabilidade de todas as empresas. Esse é um dos apontamentos da 5ª edição da Bússola da Inovação do Sistema Fiep, que contempla dez anos de coleta de dados e mapeamento de indicadores de inovação na indústria paranaense.

“A edição é um marco histórico para o Sistema Industrial nacional, pois não existe um levantamento tão preciso como esse e com uma quantidade tão extensa de dados. O Paraná foi pioneiro desse tipo de informação”, comenta Augusto Machado, pesquisador e líder do projeto Bússola da Inovação.

Mais de três mil indústrias, de todos os portes e de todas regiões do estado, já receberam gratuitamente os diagnósticos de maturidade e inovação e mais de 20 mil já participaram do estudo. Segundo o pesquisador da Fiep, a indústria paranaense está bem posicionada sobre inovação. “Ela aponta justamente que é uma indústria inovadora, que busca agregar valor desde o seu processo produtivo à entrega dos seus produtos e serviços aos clientes. Há um nível de maturidade interessante. Ainda não é o ideal, mas é crescente e está em desenvolvimento. Ao longo desses 10 anos, conseguimos perceber a evolução sobre o aspecto da inovação”, explica.

No processo da Bússola, os gestores respondem a um questionário dividido em 10 grandes dimensões por meio do qual é possível apresentar um diagnóstico das empresas e apontar caminhos. A partir das respostas é possível enxergar as dinâmicas das organizações e o posicionamento sobre as suas capacidades inovadoras, assim como medir e comparar a performance de uma empresa que participa a cada edição, por exemplo.

As dimensões são:

  1. Resultados da inovação;
  2. Captação de recursos;
  3. Investimentos;
  4. Atividades de inovação;
  5. Interação externa;
  6. Métodos de proteção;
  7. Ambiente interno;
  8. Pesquisa e desenvolvimento;
  9. Informação e conhecimento;
  10. Gestão de inovação.

Uma das participantes, a Indusbello hoje é reconhecida e premiada pelas ações inovadoras e tem a inovação como pilar estratégico. Para chegar a esse patamar, a Bússola foi uma das ferramentas que contribuíram. “Ajuda muito com o mapeamento de perfil e maturidade com o tema. No começo, não tínhamos tanto a noção da abrangência que ele teria até que tivemos esses insights e direcionamentos na adesão à Bussola da Inovação. Isso nos ajudou a projetar cenários futuros para o nosso sistema de gestão”, conta Leonardo Beni, diretor da Indusbello Co. A empresa passou a ter um sistema de gestão da inovação estabelecido na organização, boas práticas da ISSO 5600 e programas que fortalecem essa cultura interna e de interações externas.

Outro exemplo é a Heide, reconhecida como um hub de inovação em ingredientes naturais da biodiversidade brasileira. “A Bússola da Inovação é um mecanismo excelente. É como um passo a passo que entrega um plano de inovação ao final da avaliação. O Sistema Fiep é um grande parceiro para a melhoria de processos da nossa empresa, participamos de todas as ações que são possíveis. Costumo dizer que muitos empreendedores desconhecem todo o apoio disponível de forma gratuita. O Observatório do Sistema Fiep é um grande presente para a sociedade e para as empresas”, conta Ana Carolina Winkler Heemann, cofundadora e diretora técnica da Heide.

Principais resultados da 5ª edição

Além dos panoramas individuais, é possível verificar os níveis de maturidade e inovação entre os setores industriais e ter acesso a cases de sucesso. A mais recente edição, que assim como nas anteriores foi aberta a todas as indústrias do estado, foi relevante também pelo perfil dos respondentes: 79% são do nível estratégico da empresa, o que traz legitimidade ao processo, devido ao comprometimento da alta gestão.

Outro ponto importante é que 75% das empresas foram de micro e pequeno porte. “A inovação não é um privilégio de grandes. É possível transformar ou aprimorar todas as realidades por meio da inovação”, acrescenta o pesquisador Augusto Machado.

O período de coleta foi 2021, quando a pandemia ainda apresentava índices mais preocupantes que atualmente, apesar da leve recuperação econômica no comparativo com 2020. A 4ª edição tinha acontecido em 2019 e a comparação dos dados revela informações bastante interessantes. A partir disso, o líder da Bússola da Transformação destaca cinco fatores que merecem atenção:

Intraempreendedorismo

Crescimento de 26% entre 2019 e 2021. Para a pergunta “quais as práticas que favoreceram a inovação no ambiente interno da empresa?”, 54% afirmam que esse fator foi muito presente para favorecer a inovação e, em 2019, eram apenas 28%. Esse item mostra a capacidade de os colaboradores assumirem riscos, a iniciativa dos atores internos de buscar criatividade, desenvolver algo novo que possa manter a indústria em destaque em relação a agregar valor pro mercado.

Conhecimento e aprendizagem

Em 2019, o fator esteve muito presente em 31% das indústrias e, em 2021, para 50%. O aumento reforça a importância de tentar aprender com o cenário de incertezas e dificuldades e como desenvolver conhecimento para lidar.

Liderança

Em 2019, o índice era de 33%. Em 2021, foi para 49%: mais de 16% de melhoria na mobilização.

Cliente como centro

Esse fator mede o estreitamento entre empresa e cliente/consumidor. Uma das premissas para desenvolver inovação é criar essa jornada do cliente, que precisa ser ouvido e considerado, e trabalhar em conjunto por novos produtos e processos. Em 2019, a interação era de 54% e, em 2021, foi para 68%

Novos processo de distribuição

Em 2019, 14% das empresas melhoraram seus resultados sobre o novo processo de distribuição. Em 2021, chegaram a 28%, o que é reflexo de isolamento social, desenvolvimento de novos métodos de trabalho, como home office e modelo híbridos.

Além dos segmentos que já costumam ter forte participação de inovação em suas jornadas, há o destaque para o agroindustrial, que apresenta uma evolução forte e crescente sobre o tema.

Ainda em relação aos resultados, existem tópicos que apresentaram quedas. Houve redução em métodos de proteção e captação de recursos, e também diminuição de investimentos, o que se explica pelo cenário econômico. “Mesmo com essas reduções, elas não impactam no cenário das outras dimensões”, reforça o pesquisador, que recomendou também a procura pelos créditos focados em inovação, que serão explicados na matéria.

Passo a passo da inovação

Augusto Machado explica que não existe um passo a passo de forma única para que as indústrias iniciem um processo de inovação, pois as particularidades de cada setor, por porte e região, devem ser consideradas. Contudo, há alguns desafios-chave comuns.

O primeiro aspecto é o desenvolvimento de competências técnicas e relacionais. O segundo ponto é a adoção de práticas e instrumentos digitais que criem condições favoráveis à execução do projeto de inovação. A qualificação contínua em toda estrutura organizacional também é fundamental.

“De nada adianta que essa qualificação seja apenas periódica e para o nível estratégico. O operacional também precisa participar desse processo, que deve ter jornadas de aprendizagem contínuas”, destaca Augusto Machado. Outro aspecto indispensável é o estabelecimento de processo de mensuração e monitoramento das práticas adotadas e seus resultados. Afinal, “o que não é medido, não é gerenciado”, lembra.

Vantagens de investir em inovação

Para Leonardo Beni, são inúmeros os ganhos a partir da inovação. Ele destaca alguns conquistados pela Indusbello:

  • Fortalecimento da imagem institucional da empresa com o seu desenvolvimento de perfil inovador;
  • Geração de valor para stakeholders;
  • Avanços na competitividade;
  • Abertura de novos mercados;
  • Interações com Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs) e pesquisadores independentes;
  • Participação em ecossistemas de inovação;
  • Destaque em eventos como case de sucesso e premiações.

“A Cultura da inovação ainda dá a oportunidade do desenvolvimento humano dos nossos colaboradores. O tema fortalece conceitos que facilitam a abertura da mente para novas ideias, para um olhar empreendedor, para um perfil intraempreendedor e, principalmente, uma sensação de pertencimento”, acrescenta o gestor.

Ana Carolina, da Heide, lembra que os consumidores estão mais criteriosos e conscientes dos ingredientes utilizados, por exemplo, e também destaca a importância do contato com equipes externas proporcionado pela cultura de inovação. “É fundamental para que a inovação ocorra. Buscamos sempre fazer um mapeamento dos parceiros estratégicos para a empresa”.

Um resultado inovador recente da Heide foram as linhas de produtos Fitoglicerinados e Fitoblends, desenvolvidos em glicerina vegetal para o uso em cosméticos naturais e orgânicos. Em 2021, a empresa finalizou o desenvolvimento do Fitoblend Antiviral em conjunto com o Instituto Senai de Inovação em Eletroquímica, com laboratórios no campus da Fiep.

“Foram desenvolvidas nanopartículas por coacervação complexa e realizados os ensaios de comprovação de eficácia. Estamos sempre atentos aos editais de inovação e ainda no ano passado abrimos uma startup no Biopark para nos aproximarmos do ecossistema de inovação da região oeste do estado, a AllesNano, dedicada ao desenvolvimento de matérias-primas nanotecnológicas com extratos de plantas voltadas para o mercado agro”, explica Ana Carolina.

Empresas podem solicitar crédito para inovação

Para inovar é necessário investir. Muitas indústrias apontam como obstáculo à inovação a dificuldade de captar recursos e a falta de conhecimento de editais existentes. Porém, empresas de todos os portes e segmentos podem solicitar crédito para inovação com condições muito mais interessantes que as modalidades tradicionais, como as voltadas para investimento e compra de maquinário ou para capital de giro, por exemplo, e contar com o Sistema Fiep para essa orientação.

Como explica João Baptista Guimarães, especialista do Núcleo de Acesso ao Crédito (NAC) do Sistema Fiep, as vantagens das linhas de crédito exclusivas para inovação é que têm condições mais favoráveis, principalmente em um cenário de taxas muito elevadas. “Podem ter taxas de juros duas ou três vezes mais baixas que as praticadas no mercado e, além disso, são consideradas de longo prazo, com 8 a 10 anos para pagar”.

Ele acrescenta que, na maioria das vezes, essas linhas são disponibilizadas via bancos públicos. Entre os maiores repassadores estão o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). No Paraná, há o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) e a Agência de Fomento.

O pré-requisito básico é ter um projeto de inovação. Não apenas uma ideia ou simples compra de equipamento. “A regra é mostrar que algo novo vai ser feito. A inovação pode ser em serviço, produto ou processo. Além disso, será preciso comprovar a capacidade de pagamento, a partir de um histórico de faturamento”, explica João Baptista.

O recurso das linhas de inovação tem que, necessariamente, ser usado no processo para o qual foi aprovado. Dessa forma, alguns exemplos de como pode ser direcionado são: viagens para ampliar conhecimento, contratação de especialistas, compra de insumos para pesquisa, testes, exames laboratoriais, contratação de instituições de pesquisa, entre outras necessidades do processo para se chegar à inovação final. É possível que se tenha que prestar contas de como o dinheiro foi empregado ao longo da iniciativa.

O NAC presta atendimento e orientações para as indústrias paranaenses sobre acesso ao crédito. “A gente percebeu que em 2018 e 2019, cerca de 15% dos atendimentos do Núcleo eram relativos à linhas de inovação. Com a pandemia, mudou de forma abrupta porque o cenário ficou totalmente diferente. Em 2020, 2021 e 2022, em um processo de recuperação, muitas adiaram seus investimentos pelas necessidades mais imediatas”, comenta.

Contudo, a expectativa do NAC é que, no segundo semestre, essa procura comece a mudar e as indústrias voltem em maior volume a buscar crédito para inovar e evoluir no seu desenvolvimento. O Núcleo pode apresentar todas as informações sobre a preparação do projeto e o que o documento precisa ter, como objetivo, justificativa, orçamento, finalidade e cronograma.

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