segunda-feira,25 novembro, 2024

Bryan Johnson, empresário da tecnologia que busca o rejuvenescimento, é usado como cobaia humana em testes para reprogramar genes

Com um patrimônio líquido estimado em cerca de US$ 400 milhões, o empresário de tecnologia Bryan Johnson alcançou fama por seus controversos métodos em busca do rejuvenescimento. Ele gasta aproximadamente US$ 2 milhões por ano em seu Projeto Blueprint — programa de saúde no qual gerencia de forma meticulosa sua dieta, exercícios físicos, sono, ingestão de suplementos e terapias anti-envelhecimento. Em uma das medidas mais polêmicas, o milionário trocou sangue com seu filho de 17 anos. Agora, Johnson topou uma nova empreitada: servir de cobaia humana da startup Minicircle em testes para reprogramar genes.

A terapia da Minicircle, administrada por injeção, turbina a produção corporal de folistatina, uma proteína que ajuda a controlar a produção de outras proteínas e hormônios. Os fundadores da empresa afirmam que o tratamento pode reduzir a inflamação em todo o corpo, aumentar a massa muscular e a densidade óssea, prolongar a resistência ao exercício e melhorar o cabelo e a pele. De acordo com a empresa, é “o Santo Graal dos músculos, ossos e gordura” e uma das melhores esperanças da humanidade para “longevidade extrema”.

No entanto, a terapia não foi aprovada pela Food and Drug Administration (FDA), agência regulatória dos Estados Unidos, destaca reportagem da Bloomberg. Por isso, apesar de ter sede em Austin (EUA), a startup realiza seus testes em Roatán, uma ilha de Honduras. Segundo o relato, o país concedeu à startup uma maior liberdade regulatória.

“É realmente uma questão de conveniência”, diz o cofundador da Minicircle, Walter Patterson, que também é o diretor científico. “Estamos nos preparando para um teste nos Estados Unidos e vamos passar para a FDA. Mas é caro em termos de tempo e dinheiro. Estamos aqui em Honduras porque essencialmente podemos fazer as coisas mais rápido.”

A Minicircle recebeu apoio do bilionário de capital de risco Peter Thiel e do cofundador da OpenAI Sam Altman, além de outros tecnólogos, mas seus testes ainda são muito experimentais, destaca a Bloomberg.

A terapia com folistatina é a primeira de uma série de produtos que a Minicircle planeja lançar, incluindo terapias para reparo de DNA e rejuvenescimento de tecidos. Tanto Patterson quanto Mac Davis, cofundador da startup, injetaram em si mesmos o produto folistatina anos atrás. Eles estão longe de serem musculosos, mas dizem que seus corpos se tornaram mais magros e firmes, apesar de passarem pouco tempo se exercitando.

Patterson diz que a Minicircle não foi para Honduras apenas porque é mais fácil, e que não pretende ser imprudente. Ele afirma que os avanços da biotecnologia e da longevidade estão próximos e que a inovação neste setor não precisa custar centenas de milhões de dólares. Segundo ele, a abordagem da Minicircle levará à longevidade para todos. “A maioria das terapias genéticas custa mais de US$ 1 milhão por unidade”, diz ele. “Esta terapia é feita para que qualquer pessoa no mundo possa ter acesso a ela.”

No entanto, alguns cientistas familiarizados com o trabalho da empresa criticaram as suas alegações e duvidam que os aumentos da folistatina resultem em ganhos na longevidade. A empresa ainda não publicou dados de ensaios clínicos e tem relutado em falar sobre alguns de seus métodos de desenvolvimento. E, embora seu produto tenha um preço inferior ao das terapias genéticas típicas, ele ainda custa cerca de US$ 25 mil por tratamento.

“Eles não têm evidências de que funciona, não faz sentido do ponto de vista científico e provavelmente matarão alguém ao induzir câncer ou insuficiência hepática”, escreve Christin Glorioso, médica e neurocientista, sobre a folistatina e outras terapias genéticas não regulamentadas em sua newsletter sobre saúde.

Como funciona a tecnologia

A empresa empacota instruções biológicas para aumentar a produção de folistatina em um plasmídeo, que é um pequeno pedaço circular de DNA com propriedades semelhantes às das bactérias. O plasmídeo, cujo formato inspirou o nome “Minicircle” (minicírculo), é então injetado em algumas células de gordura, geralmente próximas ao abdômen. A terapia não altera o DNA celular de uma pessoa, mas introduz novas instruções genéticas nas células, como se fosse um programa executado no sistema operacional de um computador. As enzimas dentro das células recebem o comando para produzir mais folistatina e começar a trabalhar.

Neste caso, a folistatina destina-se a subjugar outra proteína – a miostatina – que regula o crescimento muscular. Estudos em ratos mostraram que a redução da produção de miostatina resulta em roedores muito mais robustos e com vida mais longa. “Estamos apenas adicionando uma proteína ao sangue que sinaliza ao corpo para se regenerar”, diz Davis. “Nesse sentido, é uma terapia geral em vez de corrigir uma mutação específica, como se faria com alguém com uma doença ultra-rara. Estamos fazendo melhorias das quais qualquer pessoa poderia se beneficiar.”

A injeção de Minicircle começa a aumentar a produção de folistatina imediatamente e atinge o pico ao longo de dois a quatro meses, afirma a empresa. Em seguida, deverá continuar fazendo seu trabalho por 18 meses a dois anos. Se o paciente não gostar da reação que está tendo ou dos resultados, pode interromper a terapia com uma injeção do antibiótico tetraciclina. Os fundadores do Minicircle descrevem isso como um “interruptor de desligamento” instantâneo.

Como foi o teste

Para o seu ensaio médico, a Minicircle selecionou 44 pessoas com idades entre 23 e 89 anos. Elas receberam a mesma dosagem da terapia genética e depois foram acompanhadas por três meses. Usando biomarcadores que avaliam o processo de envelhecimento, a Minicircle estimou que os pacientes diminuíram a idade genética em 11 anos, em média.

“Também vimos melhorias na massa muscular, densidade óssea, diminuição da gordura corporal e sensação geral de maior bem-estar”, diz Davis. O principal efeito colateral para alguns pacientes foram níveis elevados de colesterol. Mas, novamente, a Minicircle ainda não publicou dados de testes. A empresa afirma que está em processo de conclusão de um artigo para submissão a revistas científicas revisadas por pares.

Bryan Johnson estava, em muitos aspectos, longe de ser o candidato ideal para a terapia, relata a Bloomberg. Pessoas diferentes respondem à injeção de maneiras diferentes, embora os ganhos mais óbvios devam ocorrer em pessoas fora de forma ou mais velhas. Johnson, de 46 anos, está em ótima forma, e as métricas que aparecem em seu corpo tendem a descrever um homem muitos anos mais jovem. Nem ele nem os fundadores do Minicircle sabiam o que poderia acontecer com seu corpo após a injeção.

Johnson e seu médico principal, Oliver Zolman, identificaram a folistatina como algo que valia a pena tentar. Eles criaram uma lista de cerca de 20 tratamentos mais radicais com supostos benefícios de longevidade e fizeram uma análise de risco-benefício sobre eles. Nos meses que antecederam a injeção, Johnson e Zolman encheram a equipe da Minicircle de perguntas e fizeram com que cientistas e um ex-funcionário da FDA fizessem o mesmo. As respostas convenceram o executivo.

Para a Minicircle, a chegada de Johnson a Roatán poderia ter o claro benefício de chamar atenção de mais pessoas para a tecnologia. A empresa optou por não cobrar pela terapia, embora ele pudesse pagar. “Ele é de longe a pessoa mais importante que veio aqui”, disse Davis antes do procedimento. “Bryan está nos dando algo que vale mais do que cobraríamos dele.”

Mas também havia um risco para a empresa. Johnson mede seu corpo mais do que qualquer outro ser humano e divulga publicamente tudo sobre seus métodos e seus resultados. “Vamos revelar coisas que eles próprios não sabiam”, diz ele. “Isso pode ser positivo e negativo, porque pode ter efeitos que você não deseja ver.”

Na manhã anterior ao procedimento, Johnson estava caminhando pelos terrenos de Las Verandas, um luxuoso resort na ilha, e filmava vídeos para redes sociais em diferentes locais. “Voei para uma ilha secreta para fazer uma terapia genética que pode mudar o futuro da raça humana!”, ele diz para a câmera.

Um exame de sangue recente revelou um aumento de 160% nos níveis de folistatina de Johnson. Mas ele ainda não havia experimentou nenhuma resistência extra aos exercícios, nem estabeleceu novos recordes pessoais durante o treino.

Patterson, da Miracle, considera isso normal. “Isso aumenta com o tempo”, diz ele. “Espero que nos próximos meses ele comece a notar coisas”, disse à reportagem.

Fonte: Época Negócios

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