Brasileiros criam startup no Vale do Silício para combater desde assédio até fraudes financeiras em jogos online

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GamerSafer teve como primeiro cliente o Minecraft, jogo comprado pela Microsoft e que reúne 140 milhões de jogadores ativos

O mundo tem quase 3 bilhões de jogadores e eles serão responsáveis por movimentar US$ 175,8 bilhões apenas neste ano, de acordo com a consultoria especializada Newzoo. Mas os brasileiros Maria Oliveira e Rodrigo Tamellini estão de olho nos bastidores desses grandes números.

Os empreendedores se mudaram ao Vale do Silício, região americana conhecida pela concentração de empresas de tecnologia, e criaram uma startup que combate um problema comum aos jogadores: interações sociais negativas e até mesmo criminosas.

A GamerSafer trabalha com publicadoras de jogos para reconhecer identidades e evitar casos de aliciamento de menores, assédio, bullying, intolerância religiosa, racismo, sexismo e fraudes financeiras. A startup teve um primeiro cliente de peso: o Minecraft, jogo comprado pela Microsoft e que tem 140 milhões de jogadores ativos, segundo o site de estatísticas Statista.

Nesta semana, a GamerSafer anunciou a captação de seu primeiro investimento externo. O aporte pré-semente de R$ 3 milhões será usado para ampliar o quadro de funcionários e investir em infraestrutura tecnológica. Os investidores foram os fundos Indicator Capital e Kerpen Ventures; o espaço de inovação Wayra, da Telefônica/Vivo; a aceleradora TheVentureCity; e os grupos de investidores anjo Harvard Angels e GV Angels.

O Do Zero Ao Topo, marca de empreendedorismo do InfoMoney, conversou com o cofundador Rodrigo Tamellini sobre o modelo de negócios da GamerSafer e sobre o novo aporte.

Cibersegurança: os bastidores dos games

Maria Oliveira e Rodrigo Tamellini se mudaram para o Vale do Silício há cerca de sete anos, quando Tamellini foi transferido para a matriz da empresa de tecnologia Intel. Engenheiro, Tamellini antes era responsável pela parte de produtos da empresa para a América Latina. Já Maria fundou uma consultoria de projetos ambientais e sociais no Brasil, e passou a trabalhar no fomento ao empreendedorismo quando se mudou aos Estados Unidos.

Os dois tinham interesse pessoal em jogos. Tamellini se tornou diretor na divisão de games da Intel. A empresa fornece principalmente hardware, como processadores de alta performance. Mas também mantém um relacionamento forte com as publicadoras de jogos, para entender como os games estão rodando com os equipamentos e quais tecnologias podem ser acrescentadas.

“Eu acompanho as tendências desse mercado faz anos. A socialização é um componente muito importante e que cresceu nesses tempos de pandemia. Mas essa mesma interação traz desafios”, diz Tamellini. Um estudo da Anti Defamation League (ADL) feito em 2019 mostrou que 74% dos jogadores americanos já enfrentaram alguma forma de assédio. 53% desses usuários reportaram que os ataques eram baseados em critérios como raça, religião, gênero, identidade de gênero, orientação sexual ou etnicidade. Outros 29% informaram que informações pessoais já tinham sido publicamente expostas contra sua vontade (“doxing”).

“Não estava satisfeito com os investimentos já feitos para tentar resolver o problema. Então, eu e a Maria decidimos largar nossos empregos e criar nossa própria solução.”

A GamerSafer foi fundada em maio de 2019. A startup atua com verificação de identidade para prevenir crimes em jogos e promover melhores interações sociais. Previne desde crimes às pessoas – como aliciamento de menores, bullying, racismo, sexismo e intolerância religiosa – até fraudes dentro dos games, como criar diversos bots ou usar o cartão de crédito de outra pessoa para comprar moedas que valem apenas dentro do jogo.

“Cada game tem um problema mais comum. Encontramos dois motivos para que tais ataques aconteçam: existe um alto nível de anonimidade nessas plataformas, e a conexão entre os jogadores online segue critérios meramente técnicos”, diz Tambellini.

Para resolver o primeiro motivo, a GamerSafer usa reconhecimento facial para analisar 25 pontos do rosto de cada usuário, inclusive com uma tecnologia que garante que a pessoa está viva e não se trata de uma foto ou de um vídeo deepfake. A distância entre tais pontos vira um gráfico com coordenadas, traduzido depois para um código criptografado. “Não dá para reconstruir a face a partir desse código, criando uma proteção inquebrável via engenharia reversa”, completa o cofundador.

A GamerSafer afirma que o processo de escaneamento da face leva menos de um segundo e pode acontecer em diversos momentos, como primeiro acesso, compras, torneios e conversas online. A GamerSafer guarda todos os dados de maneira anonimizada e diz estar de acordo com regulações como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).

As informações são usadas para cada conta ser vinculada a uma identidade real, mas tal identidade não aparece nos jogos. “O usuário não poderá criar outra conta e isso traz responsabilidade. Ele entende que seu comportamento passa a ser vinculado a continuar jogando um título de que gosta. Antes, sua conta era suspensa e ele só precisava criar uma nova”.

Para prevenir especificamente fraudes financeiras, a GamerSafer une a verificação de identidade com a análise dos hábitos de consumo. Se o usuário costuma comprar apenas em dias de semana e aparecem diversas transações na madrugada de um final de semana, por exemplo, a GamerSafer pode pedir uma prova adicional de identidade.

Já para melhorar a conexão entre os jogadores online (matchmaking), a GamerSafer fornece mais informações para as publicadoras dos jogos. Geralmente, a conexão entre jogadores segue apenas critérios como servidor ou região. “Podemos fornecer dados como se o usuário é menor ou maior de idade ou se ele costuma jogar de forma competitiva ou casual. Assim, mapeamos gatilhos de conflitos e diminuímos tais interações de forma anonimizada”, diz Tambellini.

O foco está em resolver problemas antes que eles aconteçam, e de forma escalável. “Existem diversas ferramentas para gerenciar um crime depois que ele acontece. Mas estamos atacando o topo desse funil: ter certeza de que um usuário é real e de que ele será responsabilizado pelo que fizer. Dessa forma também aliviamos o trabalho posterior da equipe de modera as interações nesses jogos”, afirma o cofundador. O reconhecimento de identidade funciona entre diversos jogos e entre diversas plataformas (como computador, consoles e celulares).

fonte: G1 MT

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