Sete em cada dez líderes empresariais que responderam ao levantamento dizem não ter acesso a mecanismos de financiamento verde
O Brasil é peça-chave no combate à crise climática global, mas apesar de avanços recentes, enfrenta obstáculos para financiar a descarbonização na iniciativa privada. É o que mostra um novo estudo realizado pela Deloitte e AYA Earth Partners, junto a 102 empresas e seus executivos.
Como principais obstáculos identificados nas companhias está o fato de elas não conhecerem os verdadeiros impactos da mudança climática e menos ainda sobre financiamento para ajudar na mitigação e adaptação. Segundo o levantamento, sete em cada dez líderes (73%) dizem não ter acesso a mecanismos de financiamento verde e 10% não sabem nem onde encontrá-los ou como acessá-los.
Quando questionados como suas empresas iriam captar recursos para financiar projetos sustentáveis, 35% afirmam que não pretendiam executar os mesmos. Os outros 65% alcançariam a verba por meio de: linhas de crédito subsidiadas (28%), aporte de capital dos sócios (27%), empréstimos e financiamentos (21%), aportes via fundos de investimento (19%), emissão de títulos de dívida verdes (15%), aporte de recursos a fundo perdido (13%), oferta pública na bolsa de valores (6%) e emissão de títulos de dívida tradicionais (5%).
Além disso, 20% já utilizam mecanismos de compensação voluntária de emissão de carbono e 18% estudam utilizá-los. No entanto, entraves foram citados: falta de regulamentação, precariedade da infraestrutura na Amazônia e custos elevados de projetos de reflorestamento. Outra conclusão foi que o ESG ganha espaço na agenda das empresas, mas ainda há lacunas na estratégia e gestão para avançar em direção a uma economia verde.
A maioria concorda, parcial ou completamente, que falta ação do governo para promover a descarbonização e 75% acreditam que deveria haver incentivos fiscais. Já quando o assunto é tecnologia, mais da metade (56%) acredita que a oferta em seu setor é baixa ou nenhuma e 63% indicam que o grau de maturidade das soluções de baixo carbono disponíveis em seu segmento é baixo ou muito baixo.
Paulo Assis, sócio de Financial Advisory da Deloitte, destaca que o Brasil tem potencial para se tornar um dos grandes protagonistas na transição verde caso superar os obstáculos. “Diversas vantagens nos colocam à frente nesse processo, como a matriz elétrica e energética já amplamente baseada em fontes renováveis, a maior floresta tropical do mundo e oportunidades de inovação verde no agronegócio. Ficar para trás nesse processo significaria perder enormes oportunidades dentro e fora do país. O caminho que se coloca é o do fortalecimento da colaboração e o trabalho conjunto de todas as partes do ecossistema em torno da economia de baixo carbono”.
Entre os avanços conquistados nos últimos anos estão a crescente conscientização de agentes de mercado em torno da questão climática, o maior envolvimento governamental em discussões e regulamentações, o desenvolvimento de novas linhas de crédito verde por instituições financeiras e estruturação de soluções financeiras capaz de reduzir o risco de projetos para destravar o capital privado e soluções integradas a novas tecnologias no mercado.
“Já passou o tempo de entendermos que o futuro do mundo não será baseado em petróleo e que é o momento de o Brasil prosperar mundialmente com uma economia baseada nas soluções da natureza com apostas certeiras e em escala na bioeconomia, na agricultura sustentável e na economia de baixo carbono. Para que isso aconteça, é preciso que a iniciativa privada encontre modelos mais colaborativos, que resultem em soluções inovadoras e mais sustentáveis”, destacou Patricia Ellen, cofundadora da AYA Earth Partners.
Texto: Sofia Schuck, da Época Negócios