Enquanto isso, o YouTube viu sua relevância ameaçada entre públicos mais jovens, especialmente devido à preferência por vídeos curtos e dinâmicos
O ano de 2024 trouxe transformações significativas no universo das redes sociais, marcando uma reconfiguração de lideranças e dinâmicas. De disputas judiciais envolvendo o X (antigo Twitter) a ascensões inesperadas, como o Bluesky, a competição se intensificou.
A luta por relevância entre plataformas estabelecidas e emergentes revelou mudanças no comportamento do público, na interação entre governos e tecnologia e nas estratégias empresariais. Com um cenário polarizado, as redes sociais se tornaram palco de debates globais sobre regulação, privacidade e moderação de conteúdo.
Em paralelo, hábitos de consumo de vídeo curto consolidaram o TikTok como o principal destino para os jovens, ultrapassando até o YouTube. Este foi um ano que desafiou gigantes e deu espaço a novos nomes, criando um ambiente imprevisível para 2025.
TikTok consolida liderança, enquanto YouTube enfrenta pressão
A ascensão do TikTok não é novidade, mas 2024 foi um marco para a plataforma, que superou o YouTube em métricas de tempo médio diário entre usuários da geração Z. A combinação de um algoritmo eficiente com a popularidade de trends culturais fez com que a plataforma chinesa se tornasse indispensável para criadores e marcas.
“Observamos também a consolidação do TikTok como uma grande plataforma de buscas para a geração Z. Cada vez mais, essas gerações, Z e Alfa, têm buscado conteúdo diretamente no TikTok, em vez de utilizarem o Google, por exemplo. Isso é algo muito interessante de destacar”, afirma o professor de Marketing Digital da ESPM João Finamor, em entrevista a Época NEGÓCIOS.
“A gente vê um movimento fortíssimo do YouTube tentando recuperar espaço com os Shorts. A plataforma tem aumentado a entrega desse formato, como uma reação direta ao sucesso do TikTok”, afirmou o professor.
A tentativa de resposta com o YouTube Shorts trouxe algum fôlego, mas o formato não conseguiu replicar o engajamento e a viralidade do TikTok. O YouTube ainda se destaca como a escolha para conteúdos de longo formato e educacionais, mas sua dominância cultural foi abalada.
Além disso, o TikTok consolidou-se como um hub de monetização para criadores de conteúdo, superando plataformas rivais em volume de oportunidades e engajamento. Isso forçou gigantes como YouTube e Instagram a repensarem seus modelos de incentivo, intensificando a disputa por talentos criativos.
Batalha judicial do X e a ascensão das alternativas
Outra plataforma que se viu ameaçada foi o X, que viveu um dos anos mais turbulentos de sua história, enfrentando desafios legais e uma debandada de usuários.
Liderado por Elon Musk, o antigo Twitter se envolveu em disputas judiciais, sendo o caso brasileiro o mais emblemático. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinou, em agosto, o bloqueio temporário da plataforma no Brasil após descumprimento de ordens para remover conteúdos considerados desinformativos relacionados às eleições.
A decisão gerou repercussão global, destacando o embate entre a necessidade de regulação e a autonomia das big techs. Além disso, Musk anunciou que o X deixaria de seguir certas legislações locais, incluindo obrigações de moderação de conteúdo, o que intensificou as tensões com governos. A postura levou a uma queda significativa na confiança de anunciantes e atraiu críticas de defensores da democracia digital.
“Desde então, entendemos que, apesar dos desafios, o Twitter conseguiu se manter. Mesmo com o retorno da plataforma, muitos usuários abandonaram o Bluesky, que inicialmente foi visto como um plano B. Assim que o Twitter voltou a funcionar, boa parte das pessoas migrou de volta para ele”, afirmou João Finamor, da ESPM.
Paralelamente, alternativas como Threads e Bluesky experimentaram crescimento acelerado. O Threads, vinculado ao ecossistema da Meta, registrou adesão em massa após os episódios polêmicos envolvendo o X. Apesar disso, enfrenta desafios para reter usuários, dado seu foco inicial em integrações com o Instagram.
“A entrada de novas plataformas, como o Threads, segue uma estratégia já consolidada pela Meta, que historicamente tenta canibalizar outras mídias sociais. Vimos isso com os Stories contra o Snapchat e com as lives contra o Periscope. No entanto, no caso do Threads, não houve uma adesão significativa do público, o que demonstra como a dinâmica e o formato da plataforma influenciam diretamente no interesse das pessoas”, concluiu o professor.
Por outro lado, o Bluesky, com uma abordagem descentralizada, se destacou. A rede social já passa dos 25 milhões de usuários, tendo atraído brasileiros durante o período de suspensão do X, bem como norte-americanos que decidiram deixar o antigo Twitter após a eleição de Donald Trump, apoiado por Elon Musk.
Mercado em transformação
O ano também destacou mudanças nas expectativas do público. Questões como privacidade, transparência e moderação tornaram-se centrais na escolha de plataformas. “Estamos em um momento de discussão cada vez maior sobre responsabilidades. Antes, as redes eram quase uma terra sem lei. Hoje, vemos pessoas sendo punidas, plataformas sendo responsabilizadas e cumprindo legislações, como no caso do X”, comentou João Finamor.
Em contrapartida, redes sociais menores e focadas em nichos ganharam espaço, mostrando que o futuro das interações digitais pode ser mais fragmentado e menos dependente de monopólios tecnológicos.
“Entre as tendências para o próximo ano, destaca-se a possibilidade de conteúdos como Reels e vídeos do Instagram aparecerem nos resultados de busca do Google, por meio do que chamamos de SEO. Isso muda bastante a dinâmica de produção de conteúdo, pois agora esses materiais podem ser encontrados de novas formas”, completou o professor da ESPM.
A convergência entre inovação e responsabilidade regulatória será um dos grandes desafios para 2025. Redes sociais que conseguirem equilibrar esses fatores terão melhores chances de liderar um mercado que está, cada vez mais, em transformação.
Por Alice Labate