São inúmeros os desafios do agronegócio, mas algo é consensual: o planeta não suportará os impactos do uso cada vez maior de insumos não renováveis nas lavouras, buscando o aumento de produtividade requerido para alimentar quase 8 bilhões de pessoas. Não podemos ser reféns de um modelo de solução de curto prazo, cujos danos já estão contribuindo para potencializar problemas ambientais. Mas quais seriam as alternativas?
Há três práticas que caminham ao lado da sustentabilidade, um trio formado por agricultura regenerativa, biodinâmica e pela cultura orgânica. São processos de condução agrícola distintos e com seus desafios peculiares de escalabilidade. O que os une é exatamente a prática e execução de conceitos mais sustentáveis, muitos deles amparados pela Biotecnologia, capaz de permitir que o solo siga vivo e que o ambiente de cultivo seja avaliado como um bem que deve ser tratado no longo prazo, e, dessa forma, reduzindo a demanda por insumos químicos e mantendo altos índices de produtividade.
Até mesmo para quem atua no setor, há dúvidas sobre as características de cada um desses modelos de produção. Basicamente, a agricultura orgânica é aquela que utiliza quantidades limitadas de agroquímicos, hormônios, drogas veterinárias, adubos químicos, antibióticos ou transgênicos em qualquer fase do ciclo de cultivo. Sempre que é possível, busca um manejo natural, porém, em algumas situações, acaba aplicando doses mínimas de defensivos químicos.
Há um limite estabelecido por certificadoras que realizam auditorias para que frutas, legumes e hortaliças cheguem à mesa de consumidores, livres de resíduos ou com baixas dosagens. Além do benefício de gerar produtos mais saudáveis, os impactos ao meio ambiente também se tornam menores, desde que sejam respeitados os limites das regras para cada cultura e região.
A procura por orgânicos segue crescendo. De acordo com um detalhado estudo divulgado este ano pela FiBL and IFOAM – Organics International, a mais respeitada entidade do setor no mundo, houve, nos últimos anos, uma elevação para 75 milhões de hectares de áreas certificadas, nas mãos de 3 milhões de produtores. Gerou em 2020 ganhos de 120 bilhões de euros. Mas, embora esteja bombando em países como Austrália e Argentina – que lideram em áreas plantadas – , ou em Liechtenstein e Áustria – à frente na comparação por quilômetro quadrado – ainda sim, é incipiente o total que é de 1.6% de toda a agricultura na Terra.
E a razão é simples: o custo de produção é caro demais, devido a alguns fatores como riscos climáticos no cultivo, por não poder utilizar cargas elevadas de químicos que combatem pragas, e, dependendo da cultura, por não alcançar alta produtividade a depender, por exemplo, de mais espaço para o plantio. Como consequência, os orgânicos se tornam produtos mais caros que os convencionais, e inviáveis para a imensa maioria da população.
Já o biodinamismo é um mundo à parte. É comumente citado na produção de uvas vitiviníferas que geram, algumas vezes, rótulos valiosos. É uma produção que também está ligada ao respeito à natureza, e na não inserção de agroquímicos. A condução varia de acordo com o produtor e região, mas em todas há ações intuitivas, consideradas por alguns como esotéricas ou abstratas.
Os agricultores buscam aplicar técnicas ancestrais de conexão com o bioma e agem, por exemplo, intervindo em podas ou escolhendo o momento da colheita de acordo com o movimento da natureza, seja das fases lunares, do comportamento de formigas ou dos ‘sinais’ de outros insetos que ‘darão indicativos’ para que o produtor tome uma decisão sobre quando intervir na lavoura.
Embora importantíssimo por ser um método natural de produção de alimentos, o biodinamismo ainda é incipiente, bem menor que a de orgânicos. Criado pelo vanguardista austríaco, o Dr. Rudolf Steiner (1861-1925), a agricultura biodinâmica está hoje em cerca de 60 países com pouco mais de 250 mil hectares plantados.
No Brasil ninguém ouve falar de ir em uma feira ou mercado para comprar um tomate ou uma alface biodinâmica. Estamos engatinhando na adesão e o conceito é praticamente conhecido apenas no mundo do vinho.
Fechamos o trio de métodos de produção mais sustentável com a agricultura regenerativa, que integra preceitos da orgânica mas vai além, pois busca encontrar um equilíbrio de matéria orgânica no solo capaz de regenerá-lo, ampliando a infiltração de água, melhorando o ciclo de nutrientes e evitando retirar o carbono armazenado. Essa filosofia, criada nos Estados Unidos por Robert Rodale, e que começou a ganhar força a partir da década de 80, tem sido adotada por diversas grandes empresas do agronegócio.
Todas as três possuem incríveis predicados, mas precisam da biotecnologia para serem ampliadas, por meio de suas ‘bactérias do bem’ que atuam como potentes catalisadores naturais para nutrição de diversos cultivos. Ela entra com uma propulsora de práticas regenerativas do solo, com o grande diferencial de permitir escala e custo competitivo.
A biotecnologia não só age como um catalisador para este trio como também é uma ferramenta de transformação da chamada agricultura convencional, que pode adotá-la como integrante no processo de nutrição das plantas, diminuindo assim o uso de intervenções químicas e tornando o solo mais rico. Quando a convencional insere a biotecnologia em seus processos ela está investindo em sustentabilidade e se aproximando mais das filosofias naturais de produção.
A biotecnologia, que abrange diversos setores da economia, será essencial para salvar o mundo do modelo de produção destrutivo que temos adotado. Prova disso é o relatório recém-lançado pela Casa Branca que afirma que a bioeconomia nos Estados Unidos está a todo vapor. Está avaliada em um trilhão de dólares e deverá crescer globalmente acima de 30 trilhões nas próximas duas décadas.
Boa parte destes números estão ligados às soluções no agro. De acordo com um recente estudo divulgado pela International Service for the Acquisition of Agri-biotech Applications (ISAAA) uma das mais importantes entidades do setor, em 2019 foram comercializados mais de 190 milhões de hectares de plantações que utilizam o manejo biotecnológico, provenientes de 17 milhões de produtores no mundo.
A biotecnologia no agro consiste basicamente em devolver à terra parte do que dela foi retirada pelo próprio homem. São inseridos como catalisadores naturais, organismos vivos (bactérias do bem) que trazem benefícios impressionantes para todas as culturas como o aumento de disponibilidade de nutrientes para as plantas, o maior enraizamento e a melhoria das características do solo – biota em equilíbrio e a nutrição com macro e micronutrientes.
O resultado dessa profusão de vida é capaz de regenerar o solo e ampliar a produtividade do produtor. Soma-se a um custo equivalente ou até mais baixo do que na agricultura convencional e temos o melhor dos mundos: safras incríveis, economicamente competitiva e ambientalmente correta.
Não é por acaso que cientistas no mundo todo acreditam que o agricultor do futuro será biotech. Aliado a outras práticas sustentáveis como a orgânica, biodinâmica e a regenerativa – que embora em velocidades inferiores e com mais limitação, deverão crescer continuamente – a biotecnologia já tem causado uma revolução verde no agrobusiness.
Assim como os automóveis movidos à combustível fóssil estão com os dias contados, o uso de químicos nocivos em nossas lavouras também estarão. Não há outro caminho a não ser o de retroceder a um modelo capaz de manter o equilíbrio natural de nossos biomas. E esse trio de sustentabilidade já é e será ainda mais essencial nessa caminhada de transformação da forma como concebemos o pão nosso de cada dia.
Luiz Chacon Filho é fundador e CEO da Superbac, empresa pioneira em Biotecnologia no Brasil.
Fonte: Amanajé Comunicação