Com agenda movimentada de eventos e anúncios na COP28 nos Emirados Árabes Unidos, político leva para o encontro da ONU mensagem de um estado comprometido em reescrever sua história
Pelos corredores da COP28 e, principalmente, no Pavilhão Brasil no prédio 35 da Blue Zone, área que concentra as discussões oficiais da maior e mais importante reunião de clima da ONU, a impressão que se tem é de que saltaremos de Dubai direto para Belém, cidade que sediará a COP30, em 2025 — como se não existisse a COP29, que tem no Azerbaijão um potencial cotado para sede. Mas as expectativas sobre o Brasil estão por todos os lados e bocas e, sem surpresas, vêm acompanhadas de comparações com o atual anfitrião. O rico Emirado de Dubai impressiona pela estrutura de recepção e organização de eventos.
“Belém não é Dubai. Nós somos Amazônia”, disse Helder Barbalho, governador do Pará, ao participar de encontro, na manhã desta sexta-feira, realizado pelo Pacto Global da ONU no Brasil para abordar desafios e oportunidades para a transição à economia net zero no Sul Global. “Se não temos hotéis 6 estrelas, temos a floresta amazônica, que nos apresenta com uma oportunidade extraordinária e nos aponta no horizonte um futuro para cuidar das pessoas e meio ambiente”.
No evento sediado no espaço Future Mobility Hub, em um dos incontáveis arranha-céus da cidade, o governador exaltou a força da delegação brasileira – a maior comitiva da reunião da ONU que começou em 30 de novembro e vai até dia 12 de dezembro – e sua pluralidade, segundo ele características que ajudam a mostrar a potência do Brasil para o mundo.
“Precisamos internalizar no país a oportunidade que temos de, com a COP25, aumentar o protagonismo nacional”, afirmou, reforçando a necessidade de mobilização em torno da agenda do Sul Global na discussão do futuro do planeta. Em sua fala, Barbalho repetiu o discurso da necessidade de regeneração, que, espera, torne-se um lema do estado que há 16 anos consecutivos lidera o ranking de devastação da floresta amazônica no país.
“Temos desafios fundamentais no estado, que historicamente convive com um modelo de colonização e desenvolvimento a partir de estoque florestal mas também pela indução do uso da terra de forma extrativa”, reconhece o governador. Frente ao desmantelamento de políticas ambientais e enfraquecimento de órgãos de proteção ambiental durante o governo de Jair Bolsonaro, o governador do Pará assumiu o papel entre seus pares na Amazônia Legal de uma liderança em defesa do bioma amazônica.
Desde 2019, ele vem defendendo publicamente outra história para o estado, baseada na regeneração. “Não é algo que se manifesta da noite para o dia, mas uma oportunidade de legado para o estado do Pará. Precisamos conciliar os desafios ambientais, sociais e econômicos de forma a forjar nossa estratégia para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (ODS)”, pontuou no discurso bem versado em questões ambientais que mostram porque o governo se tornou uma espécie de embaixador do tema em encontros importantes no exterior
Herdeiro de uma das principais oligarquias políticas da região, Barbalho diz que é chegada a hora de mudar a trajetória do estado. Para isso, ele tem encabeçado uma série de iniciativas que passam, principalmente, pela regeneração do uso do solo e combate à ilegalidade. “Seremos, em 2025, exemplo de transformação”, enfatizou.
Por meio de estratégias de fiscalização direcionadas, o Pará fez um progresso inicial com uma redução de 23% no desmatamento de 2022 a 2023. Agora busca dar um passo a mais nesse esforço, com anúncio, durante a COP28, da criação do Programa de Integridade e Desenvolvimento da Pecuária do Pará, o primeiro do tipo a focar na rastreabilidade individual para bovinos com foco ambiental no Brasil, visando aumentar a transparência e o combate ao desmatamento na cadeia de abastecimento de carne. A meta é rastrear individualmente todo o gado transportado no Pará até dezembro de 2025 e abranger todo o rebanho do estado até dezembro de 2026.
Na COP, o Pará também lançou um plano inédito para recuperar 5,6 milhões de hectares da Amazônia até 2030. A investida prevê mais de duas centenas de atividades nos próximos 10 anos, que incluem a criação de empregos verdes, incentivo à pesquisa, desenvolvimento e inovação para bioeconomia, além da garantia da segurança alimentar da população.
No campo de eventos, o estado tem crescido sua participação. O Fórum Mundial de Bioeconomia, realizado em outubro de 2021, aconteceu em Belém, que também sediou neste ano a Cúpula da Amazônia, atraindo diversos grupos e atores sociais, como povos indígenas, gestores públicos e pesquisadores para discutir propostas ao desenvolvimento sustentável da Pan-Amazônia.
Nos painéis em que participou na COP28, Barbalho destacou que seu governo tem um planejamento de obras para a capital paraense que inclui melhoria em diferentes áreas, como mobilidade urbana, saneamento e abastecimento de água e ampliação da rede hoteleira. A Fundação Getúlio Vargas ajudará o governo no desenho de um plano de infraestrutura para receber os visitantes, estimados em mais de 70 mil, sendo que atualmente Belém dispõe de cerca de 12 mil leitos.
Texto: Um só Planeta