A medida deveria ser aprovada este ano, mas o prazo foi perdido e assunto ainda foi retirado da agenda de 2024
Em 2021, a União Europeia se comprometeu a extinguir gradualmente a criação de animais enjaulados, incluindo galinhas, frangos, porcos, vitelos, coelhos e codornizes. A medida, que na época recolheu mais de 1,3 milhões de declarações de apoio, deveria ser aprovada este ano, contudo, lobistas agrícolas reagiram ferozmente contra. Com isso, o prazo de 2023 foi perdido e a proposta ainda foi retirada da agenda de 2024.
De acordo com investigação realizada pelo The Guardian e um consórcio de meios de comunicação liderado pela Lighthouse Reports, vários grupos industriais apresentaram uma análise de 60 páginas argumentando que a avaliação positiva feita pela Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) sobre o pacote planejado não era “imparcial” e continha “erros científicos graves”.
Eles também argumentaram que a proibição destruiria efetivamente o setor agrícola da UE, conforme relatado na ata da reunião divulgada ao abrigo das leis de liberdade de informação: “Se o nível [do bem-estar animal] for elevado, a produção desaparecerá da Europa, argumentam os grupos.
A reportagem destaca que esta ideia foi reforçada em uma carta enviada à comissão pelo sindicato agrícola da UE Copa-Cogeca. O documento afirmava que a opinião da EFSA “conduziria à perda da maior parte do setor avícola europeu, carne e ovos combinados”.
Um grupo ainda propôs que um especialista corporativo, que na verdade era um pesquisador sênior de um importante produtor de aves norte-americano, fosse contratado para reescrever a proibição, revelou um funcionário da União Europeia.
“A indústria lutou muito e de forma suja neste dossiê. Eles tentaram tudo o que puderam porque sabem que precisamos desesperadamente de legislação sobre bem-estar animal para tornar o nosso sistema alimentar mais sustentável e humano, e esta foi a sua última oportunidade. Eles não querem mudar, mas veem que a mudança é inevitável, então estão ficando desesperados. Eles farão qualquer coisa para salvar suas peles”, analisou Anja Hazekamp, vice-presidente da comissão ambiental do Parlamento Europeu.
Um funcionário da EU disse ao Guardian que o lobby do agronegócio colocou “uma pressão realmente agressiva” sobre a comissão. “Houve uma forte presença da indústria neste dossiê em diferentes níveis. Houve um fluxo de negatividade [deles]. Todos os argumentos dissuasores a nível político foram construídos passo a passo por um conjunto de cartas, posições e informações muito negativas que [a indústria] produziu”, afirmou.
A fonte acrescentou que os lobistas “visaram os níveis superiores da comissão” em momentos estratégicos do processo legislativo “usando canais privilegiados” e que, depois disso, as atitudes de alto nível em relação à legislação tornaram-se “extremamente negativas”.
Texto: Redação, do Um Só Planeta