terça-feira,01 outubro, 2024

Após disparada na pandemia, Pfizer aposta na pesquisa de remédios de alta precisão contra o câncer

Uma das farmacêuticas envolvidas no desenvolvimento das vacinas contra o covid-19, a Pfizer agora tem concentrado esforços em outro segmento da indústria. A empresa quer aumentar a receita e ampliar portfólio no mercado de medicamentos de alta precisão contra o câncer.

Com 24 remédios já aprovados no mundo para tratar mais de 30 tipos de câncer, a companhia conduz 90 estudos clínicos atualmente, dos quais 32 são focados em Oncologia — 12 deles já estão em fase final ou de registro.

“Oncologia é uma das áreas prioritárias de investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento na companhia, principalmente no desenvolvimento de medicamentos para doenças que ainda não têm tratamento específico. Temos um pipeline promissor em um horizonte de 10 anos”, afirma Alexandre Valim, diretor sênior de Oncologia e Hematologia na unidade brasileira da companhia.

Os investimentos globais em P&D da Pfizer aumentaram de US$ 8,9 bilhões, em 2020, para US$ 10,5 bilhões, em 2021 — nessa conta entram também recursos para outras áreas, não só Oncologia. Em 2022, o valor total investido foi de US$ 11,4 bilhões.

Alexandre Valim, diretor sênior de Oncologia e Hematologia na unidade brasileira da Pfizer — Foto: Getty Images
Alexandre Valim, diretor sênior de Oncologia e Hematologia na unidade brasileira da Pfizer — Foto: Getty Images

Estratégia reforçada após a pandemia

A farmacêutica já vinha lançando medicamentos oncológicos de alta precisão — em 2018, por exemplo, trouxe ao mercado brasileiro o Ibrance, terapia para tratamento de câncer de mama avançado. Com a pandemia, no entanto, os recursos foram alocados no desenvolvimento das vacinas e medicamentos contra o coronavírus. Agora, com o fim da emergência de saúde, a área de oncologia volta a ganhar protagonismo dentro da estratégia da companhia.

Em março, a companhia anunciou a compra da Seagen, fabricante de medicamentos para o câncer, por US$ 43 bilhões, uma das maiores aquisições do ano. A Seagen é especializada em ADC, ou tecnologia de conjugado anticorpo-droga. Seus principais produtos usam proteínas produzidas em laboratório, chamadas anticorpos monoclonais, que procuram células cancerígenas para ajudar a administrar um medicamento que mata o câncer, poupando o tecido circundante.

À época da compra, o CEO global da Pfizer, Albert Bourla, disse a analistas de mercado: “Não estamos comprando os ovos de ouro, estamos adquirindo a galinha dos ovos de ouro”, numa afirmação que reforça a aposta da empresa na indústria de medicamentos oncológicos.

Foco em oncologia também no Brasil

De julho de 2022 a junho de 2023, a área de Oncologia da Pfizer cresceu 7,8% no Brasil — no acumulado dos últimos cinco anos, o crescimento foi de 9,7%. Mais de 13.250 pacientes brasileiros foram beneficiados por medicamentos oncológicos nesse período, segundo a companhia.

“Parece ser um número pequeno em relação ao tamanho da população, mas estamos falando de cânceres com prevalências baixas e taxas de mortalidade muito altas. São pacientes que fazem um teste genético, descobrem que têm uma predisposição para drogas específicas, e aí entra a nossa medicação para aquele determinado tipo de câncer”, explica Valim.

Em 2023, já foram lançados quatro novos medicamentos no Brasil: Braftovi, para melanoma metastático ou metastático com mutação BRAF V600; Mektovi, para melanoma metastático com uma mutação BRAF V600 ou não operável; Talzenna, com foco em pacientes específicos com câncer de mama metastático ou localmente avançado negativo para HER2, que têm a mutação BRCA; e Bosulif, para adultos com leucemia mieloide crônica (LMC) positiva para o cromossomo Filadélfia (Ph+ CML) que foram diagnosticados recentemente ou que não se beneficiam mais ou não toleram outro tratamento.

“A partir do momento em que você começa a identificar as terapias-alvo e como elas atuam melhor no organismo e especificamente naquela mutação, você deixa de eliminar células saudáveis e ataca só aquelas que realmente se multiplicam. Por exemplo, há vários tipos de câncer de pulmão, mas quando você tem um tratamento específico, é como se você soubesse o sobrenome desse câncer. Você age com maior eficiência”, detalha Valim.

Receitas de produtos relacionados à covid-19 caem

A área de Oncologia representa 19% do resultado da Pfizer no Brasil, excluindo a vacina contra Covid-19, segundo dados da consultoria IQVIA informados pela farmacêutica. “A gente excluiu as vendas da Covid-19 nestes números porque elas não são constantes dentro do nosso pipeline, aconteceram naquele momento da pandemia. Se eu comparo a representatividade dos produtos oncológicos nesse período, pode haver alguma discrepância”, explica o executivo.

Nos resultados globais, no entanto, os produtos relacionados ao coronavírus vêm perdendo espaço. A Pfizer reportou receita de US$ 12,7 bilhões no segundo trimestre deste ano, queda de 54% na comparação com o mesmo período de 2022 (US$ 27,7 bilhões). O lucro líquido foi de US$ 2,32 bilhões (queda de 76,5% em relação ao 2º trimestre do ano passado, de US$ 9,9 bilhões). A companhia informou que um “declínio esperado” na receita do Paxlovid, medicamento para tratamento da Covid-19, gerou redução de 53% nas receitas do segundo trimestre deste ano.

Desafios à frente

“O principal problema da Pfizer é que os investidores esperavam demasiado da empresa após o seu enorme sucesso durante a pandemia”, avalia Thomas Monteiro, analista da Investing.com, que acompanha o mercado. Apesar disso, ele avalia que o balanço da Pfizer parece sólido e preparado para regressar ao crescimento.

“A empresa acumulou muito dinheiro nos últimos anos, o que é historicamente decisivo na indústria farmacêutica, visto que se trata de um mercado em que ser o primeiro a aprovar um medicamento é um fator determinante. As métricas de rentabilidade da Pfizer também continuam a superar as do seu setor e das empresas pares, o que implica que está à frente da concorrência no que diz respeito ao potencial de crescimento”, observa.

Agora, a principal questão reside em provar aos investidores que pode ser mais do que apenas uma história de “sucesso da pandemia”. “A indústria farmacêutica é muito volátil e os riscos são sempre enormes. Um investimento fracassado em um novo medicamento pode tirar você de jogo por muitos anos. Ainda assim, mesmo neste contexto, ter um balanço resiliente é um diferencial”, acrescenta.

Por Louise Bragado, Época NEGÓCIOS

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