No mês de abril, mais uma vez, o agronegócio garantiu o bom desempenho da nossa balança comercial. Segundo a Carta de Conjuntura 59 do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em termos de saldo, o superávit de US$ 13,48 bilhões foi capaz de compensar o déficit de US$ 5,26 bilhões dos demais setores da economia brasileira. Isso contribuiu para um saldo total positivo da balança comercial da ordem de US$ 8,22 bilhões. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, estabilidade, embora represente uma retração de 16,8% ante março de 2023.
Embora o saldo comercial do agronegócio tenha caído em abril de 2023 em relação ao mesmo mês do ano passado, o superávit acumulado pelo setor nos últimos 12 meses alcançou US$ 143,03 bilhões, o que representa uma alta de 21,9% ante igual período anterior. Já o saldo acumulado dos demais setores da economia no mesmo período registrou déficit de US$ 78,01 bilhões, o que representa US$ 24,44 bilhões a mais. Consequentemente, o saldo acumulado total da balança comercial foi de US$ 65,02 bilhões nos últimos 12 meses. Ou seja, o agronegócio está mais competitivo e os demais setores, menos.
Em termos de participação, as importações do agronegócio representaram 6,58% do total nos últimos 12 meses, mantendo-se estável ante igual período anterior. Entretanto, a participação do setor no total exportado entre maio de 2022 e abril de 2023 subiu 3,70 pontos porcentuais (p.p.) em comparação com igual período anterior, chegando a 47,9%. Desse modo, o setor é responsável por 6,58% das importações e 47,9% das exportações, mostrando o peso desproporcional no saldo positivo da balança comercial.
Quem mais contribuiu para o saldo?
Commodities como arroz, soja em grãos, trigo e carne suína se destacaram com as maiores altas em termos de valor exportado no comparativo com abril de 2022. Para os produtos do grupo soja, a soja em grãos – principal produto da pauta de exportação brasileira – foi o único item a apresentar alta no valor total exportado na comparação interanual (10,6%), registrando o total comercializado de US$ 7,75 bilhões em abril de 2023. Entretanto, esse crescimento se deu pelo forte crescimento do volume exportado, 25%, já que o preço da commodity continua em queda.
Já o setor tritícola registrou valor exportado de US$ 85,96 milhões no mês passado, um aumento de 61,9% ante abril de 2022. Esse crescimento está atrelado a dois fatores principais:
● Produção recorde de trigo no Brasil;
● Menor disponibilidade do produto na Argentina, um dos maiores exportadores mundiais do grão.
Quanto à carne suína, o setor exportou US$ 249,40 milhões em abril, o que representa aumento de 30,5% em valor ante abril de 2022. Resultado puxado principalmente pela expansão das importações chinesas. Por fim, a orizicultura brasileira apresentou alta de 157,6% no valor total exportado do grão na comparação interanual, atingindo a marca de US$ 47,06 milhões no mês passado. A principal razão para esse resultado é o reaquecimento da demanda asiática, fundamentalmente puxada pela expansão das importações pela Indonésia, Bangladesh e China.
Quais culturas retraíram?
A principal retração foi na cultura de algodão. A queda no valor exportado da pluma reflete a redução tanto no volume embarcado – de 137,47 mil toneladas em abril de 2022 para 61,99 mil toneladas em abril de 2023 – quanto no valor médio de exportação – de US$ 2.241,04 para US$1.845,17 por tonelada. Dois fatores principais explicam essa baixa:
● Demanda internacional enfraquecida, com retração principalmente na demanda da Turquia, Indonésia e Bangladesh;
● Expansão da produção chinesa e estadunidense. Os Estados Unidos estimam que o nível de importação mundial da pluma nesta safra atinja o menor volume dos últimos seis anos.
As exportações de óleo de soja em abril registraram US$ 249,12 milhões, o que representa uma retração de 37,2% ante o mesmo mês de 2022. Esse resultado reflete a queda tanto na quantidade embarcada do produto quanto no valor médio de exportação. Diante do conflito com a Rússia iniciado no ano passado, a Ucrânia acabou por reduzir a oferta do óleo de canola e dos concentrados resultantes de sua extração, o que abriu espaço para os produtos brasileiros, principalmente no mercado asiático.
Em relação ao complexo carnes, que engloba as proteínas de origem bovina, avícola e suína, o valor total exportado atingiu queda de 21,5% no comparativo com o mesmo mês do ano passado. Ainda que a carne suína tenha intensificado relativamente seu fluxo de exportação, este não foi capaz de compensar a retração observada no montante comercializado das demais proteínas animais:
● Queda de 43,8% para a carne bovina;
● Queda de 2,9% para a carne de frango;
● Queda de 25,9% para as demais carnes.
O milho, por sua vez, caiu 38,2% em relação a abril de 2022, caindo tanto o volume (-31,9%) quanto o valor médio da tonelada (-9,3%).
E o perfil das importações?
Assumindo a liderança como o produto mais importado pelo Brasil em abril, o trigo registrou aumento em seu valor médio de importação ante o mesmo mês de 2022. Mais especificamente, apesar de o volume importado ter retraído 38,9% no comparativo interanual, o aumento no valor médio de importação registrou alta de 8,6%.
A quebra de safra na Argentina e a produção nacional recorde do grão têm permitido ao Brasil atender tanto à demanda doméstica quanto possibilitado que o país se insira como um de seus principais produtores. No caso dos pescados, o valor total importado apresentou queda de 3,7% no comparativo com abril de 2022.
Para os produtos lácteos, abril de 2023 registrou um aumento de 224,2% no valor total importado pelo Brasil no comparativo com o mesmo mês de 2022. Esse resultado representa o efeito conjunto tanto da alta de 213,9% no volume importado quanto da valorização de 3,3% no valor médio de importação.
Perspectivas
Segundo o Ipea, a soja em grãos impulsionará as exportações brasileiras. E, com a priorização da soja, em termos de logística, há uma diminuição da capacidade dos portos de exportar outras commodities que competem com ela em termos de armazenamento. Por essa razão, é esperada uma queda nas exportações do milho nos próximos meses. Por fim, a queda observada na carne bovina em abril – principal proteína animal exportada pelo país – deverá ser revertida nos próximos meses, voltando a um patamar de normalidade nos embarques para a China.