Na vanguarda das iniciativas internacionais voltadas para o desenvolvimento sustentável, a Amazônia ocupa um papel central, não apenas como um vasto ecossistema de importância mundial, mas também como um laboratório natural para a cooperação acadêmica. No encerramento do Seminário Internacional do G20 sobre Amazônia e Florestas Tropicais, representantes de instituições de pesquisa ressaltaram a importância das colaborações interinstitucionais no avanço de soluções para desafios científicos, tecnológicos e ambientais.

Sob a coordenação de Nicole Arbour, diretora do Fórum Belmont, o painel sobre cooperação acadêmica reuniu especialistas de renome como Jaime Alberto Barrera García, subdiretor cientifico do Instituto Amazônico de Investigações Científicas (SINCHI) da Colômbia; Dalila Andrade Oliveira, diretora de Cooperação Institucional, Internacional e Inovação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); Denise Pires de Carvalho, presidente da Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES); e Max Bergman, professor de Investigação Social e Metodologia da Universidade de Basel (Suíça). O debate centrou-se nas estratégias eficazes para ampliar redes de pesquisa e fomentar projetos conjuntos, promovendo não apenas o avanço científico, mas também o desenvolvimento socioeconômico da região.

“O compartilhamento de conhecimento e recursos é essencial para maximizar o impacto da pesquisa acadêmica na resolução de questões críticas para a Amazônia e o mundo”, afirmou Arbour. “Estamos em um momento crucial, em que a colaboração entre as nações e instituições científicas pode acelerar o desenvolvimento de soluções inovadoras para preservar este bioma único.”

Colaboração transnacional: o futuro da pesquisa na Amazônia

Amazônia é o lar de uma rica biodiversidade e recursos naturais. Contudo, o desmatamento, as mudanças climáticas e a pressão socioeconômica desafiam a sustentabilidade da região. Nesse cenário, as colaborações acadêmicas emergem como um fator chave para mitigar esses impactos e promover o uso sustentável dos recursos naturais.

“O Instituto SINCHI, na Colômbia, tem sido fundamental na construção de redes de cooperação com outras nações amazônicas”, explicou Jaime Barrera García. “Estamos trabalhando para fortalecer a capacidade científica e tecnológica, ao mesmo tempo em que desenvolvemos soluções aplicáveis que impactam positivamente as comunidades locais e a biodiversidade.”

Iniciativas brasileiras de internacionalização científica

No Brasil, instituições como o CNPq e a CAPES desempenham papéis fundamentais na promoção da internacionalização da ciência. Programas de fomento a projetos de pesquisa em parceria com instituições estrangeiras e apoio à formação de pesquisadores brasileiros no exterior são algumas das ações implementadas.

Dalila Andrade Oliveira, diretora do CNPq, apresentou as iniciativas brasileiras para promover a internacionalização da ciência. Ela destacou o papel do CNPq no fomento a projetos de pesquisa em parceria com instituições estrangeiras e no apoio à formação de pesquisadores brasileiros no exterior.

“A cooperação internacional é essencial para o avanço da ciência no Brasil, especialmente em áreas estratégicas como a Amazônia”, ressaltou Dalila.

Ela também apontou a necessidade de uma maior atenção para a disparidade regional na distribuição de recursos para a pesquisa no Brasil, com a região Norte, onde está localizada a maior parte da Amazônia, recebendo uma proporção muito menor de bolsas e financiamentos. “Precisamos de políticas que reduzam essas desigualdades e promovam o desenvolvimento científico de maneira mais equilibrada”, concluiu.

Denise Pires de Carvalho, presidente da CAPES, apresentou as ações da instituição para fortalecer a pós-graduação na Amazônia. Denise ressaltou o papel da CAPES na avaliação e financiamento de programas de mestrado e doutorado em todo o Brasil, destacando o crescimento recente dos cursos de pós-graduação na região Norte.

“Nos últimos anos, tivemos um aumento expressivo no número de bolsas de pós-graduação destinadas à Amazônia, mas ainda há muito a ser feito. A região é estratégica para o Brasil, e nosso compromisso é continuar ampliando o financiamento para que os programas de pesquisa na Amazônia se tornem cada vez mais robustos”, disse Denise.

Ela também enfatizou a internacionalização como uma das prioridades da CAPES. Nosso objetivo é fortalecer parcerias com instituições de ponta em todo o mundo, trazendo novos conhecimentos e tecnologias para o Brasil”, afirmou.

Desafios globais e locais

Max Bergman, professor da Universidade de Basel, trouxe uma visão crítica sobre os desafios enfrentados pela ciência na Amazônia. Para ele, a cooperação acadêmica precisa ir além da pesquisa descritiva, focando em soluções práticas que possam ser aplicadas diretamente no território amazônico.

“Não basta apenas estudar os problemas da Amazônia, é preciso buscar soluções que envolvam as comunidades locais e outros atores, como o setor privado. A ciência tem que ser aplicada de maneira prática para ter impacto real”, defendeu Bergman.

“A cooperação científica entre os países amazônicos e outros parceiros internacionais é um pilar para o desenvolvimento de políticas públicas baseadas em evidências”, concluiu Nicole Arbour. “Somente através do trabalho conjunto conseguiremos enfrentar os desafios que ameaçam a Amazônia e, por extensão, o planeta”.

Texto: Frida Montalva – Ascom OTCA