quinta-feira,19 setembro, 2024

Amazônia: a bioeconomia pode transformar carência em potência

Em uma região com enorme carência de desenvolvimento e abundância de recursos naturais como a Amazônia, as oportunidades de investimento com grande potencial são imensas. O que não pode ser feito é, justamente, o que tem sido feito há 50 anos, de acordo com Márcio Holland, professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas: desmatar e manter a pobreza.

Ele participou de debate com Olinda Canhoto, gestora de projetos na Beta-I Brasil, e Patricia Ellen, co-fundadora da AYA Earth Partners e sócia da Systemiq Brasil, no Especial Amazônia da EXAME. “Dos anos 1970 para cá foram desmatados 800 mil quilômetros quadrados, quase 16% do tamanho da Amazônia, e a população continua pobre e miserável. Não podemos repetir isso”, afirmou o professor.

Ellen citou diversas oportunidades para a região e o próprio Brasil, que pode ter seu PIB alavancado com soluções encontradas na própria floresta. “A Amazônia tem potencial de acrescentar US$ 150 milhões ao PIB brasileiro até 2030 com um modelo de desenvolvimento econômico com base na economia da floresta”.

Olinda Canhoto falou um pouco do Inova Amazônia, programa do Sebrae para fortalecer a bioeconomia e fomentar o crescimento econômico com inovação aberta na região. Na primeira chamada foram aceleradas 30 empresas e ela vê, no programa, potencial para ajudar a desenvolver a região, especialmente as regiões do interior:

“Existem alternativas ao extrativismo predatório que existe na região. Podemos transformar os materiais, agregar mais valor aos produtos”.

Zona Franca único vetor de desenvolvimento

O professor Holland disse que a Zona Franca de Manaus é um bom exemplo de potencial de desenvolvimento na região. Com faturamento de R$ 174 bilhões, gera cerca de 500 mil empregos diretos e indiretos e colabora com a geração de conhecimento.

“O problema é que, fora da Zona Franca, existem os piores indicadores de IDH. É uma contradição a riqueza de biodiversidade, a maior bacia hidrográfica de água doce do mundo, conviver com uma população que precisa trabalhar com a ilegalidade, cometer crimes ambientais, para sobreviver. O governo brasileiro deu as costas à Amazônia”.

Patricia Ellen sugeriu a criação de cinturões verdes em regiões com vocação para determinadas atividades, como o cacau no Pará, a castanha-do-Pará em Rondônia e madeiras e óleos essenciais no Amazonas. “Precisamos de planos e programas estabilizados para alcançar pessoas dessas regiões, pessoas que hoje estão em atividades ilegais”.

“Você só ama o que conhece”, disse Olinda Canhoto, reforçando que o brasileiro desconhece as riquezas e belezas naturais da região. O professor Holland concordou: “Precisamos retirar o preconceito com a região”.

Carlos Nobre, pesquisador-sênior do Instituto de Estudos Avançados da USP e copresidente do Painel Científico para a Amazônia, não conseguiu participar o painel mas deixou o seu recado: “Manter a floresta em pé, criar milhares de sistemas agroflorestais para explorar o enorme potencial que a biodiversidade que a Amazônia tem. Fica claro que o potencial econômico é muito maior do que transformar a floresta em pastagens ou plantações de culturas agrícolas. É um modelo econômico que faz todo o sentido e precisamos acrescentar valor desenvolvendo uma indústria, inúmeros polos industriais, para essa bioeconomia da sociobiodiversidade.”

Fonte: Exame

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