A ideia, com apoio dos Estados Unidos e do Reino Unido, foi organizada pelo Fórum Econômico Mundial e a Tropical Forest Alliance. As maiores produtoras globais de commodities se comprometeram. Embora o texto final de o que está sendo chamado como “Roadmap dos traders”, não seja conhecido, ambientalistas temem que a iniciativa seja fraca. A ideia começou em novembro de 2021, na COP 26, em Glasgow. Ali, as maiores empresas de commodities globais anunciaram uma declaração se comprometendo a ter uma ação coletiva para garantir que seus negócios estejam na rota de limitar o aquecimento a 1,5° C. Na COP 27, no Egito, lançariam um roteiro de como chegar lá. Há gigantes do agro envolvidas: ADM, Amaggi, Bunge, Cargill, Cofco, JBS, Louis Dreyfuss Company (LDC), Marfrig e outras. Não se trata de uma negociação da ONU, mas uma iniciativa do setor privado.
“Tememos que esse não seja um documento que coloque o setor no caminho de 1,5° C”, diz Mauricio Voivodic, diretor executivo do WWF-Brasil. A ong internacional acompanha de perto a iniciativa. O texto do roadmap é mantido em sigilo pelas empresas.
“O roadmap poderia potencialmente mudar o rumo da conversão dos ecossistemas naturais ao redor do mundo e das mudanças climáticas globais, uma vez que estas 12 empresas representam em conjunto uma parte dominante do comércio internacional de commodities de risco para ecossistemas florestais e outros ecossistemas”, diz um manifesto assinado por mais de 60 organizações ambientalistas que será divulgado hoje, ao qual o Valor teve acesso.
O sistema alimentar mundial contribui para 1/3 do total líquido das emissões de gases-estufa, diz o documento. “Esse total deve diminuir em mais de 80% até 2050 para termos uma chance de um futuro de 1,5º C”, segue o manifesto. “Um estudo recente demonstra que a conversão de habitats naturais associada à soja, carne bovina e óleo de palma é responsável por 40% a 50% de todas as emissões de gases-estufa relacionadas à mudança do uso do solo para agricultura”, diz o texto do comunicado.
“A questão central é a confusão que as traders fazem com a versão do termo desmatamento para o inglês. Usam ´deforestation´ como sendo só florestas e ´conversion´ como sendo o desmatamento de Cerrado ou de ambientes não florestais”, diz Voivodic. “Portanto permitem que o desmatamento continue no Cerrado, que é o maior problema da soja hoje. O Cerrado é ambiente extremamente ameaçado”, segue ele.
A expectativa dos ambientalistas, no caso da soja, é mais ambiciosa. “Para o setor se alinhar a 1,5° C, precisa eliminar qualquer conversão de ecossistemas naturais para soja”, diz Voivodic. “Não pode e não precisa mais converter ecossistemas naturais para a soja, e as empresas não estão querendo se comprometer com isso”, diz ele. “As empresas colocam um compromisso para 2025 de não desmatar mais a Amazônia, que é equivocado, porque a moratória da soja tem data de corte anterior. Também não mencionam a conversão de ecossistemas, o que deixa em aberto converter Cerrado, Chaco, savana africana”, diz ele.
“Se sair desta forma, o compromisso é totalmente insuficiente para o que é necessário”, diz Voivodic. Outro ponto em aberto é se o roadmap irá considerar desmatamento ilegal ou qualquer desmatamento. No comunicado, as ongs pedem cadeias de fornecimento de commodities “completamente livres de desmatamento”, mantendo compromissos pré-existentes com data de corte anterior a 2020 (moratória da soja) e transparência e rastreabilidade total.
Fonte: AGÊNCIA UDOP
Por: Portal do Agronegócio