Pesquisa indica que SAFs podem trazer contribuição efetiva para reduzir emissões; no entanto, falta de estimativas confiáveis para contabilizar sequestro de CO2 é entrave para escalar sistema
Sistemas agroflorestais, ou a prática de incluir árvores em meio a paisagens agrícolas, já vêm demonstrando há algum tempo seu potencial para tornar mais sustentável a produção no campo. Afinal, elas diversificam o uso do solo, trazem cobertura natural para plantações e trazem animais que as defendem de pragas.
Agora, um novo estudo publicado na prestigiada publicação Nature Climate Change aponta que as agroflorestas podem assumir papel preponderante como uma solução climática natural na luta contra as mudanças climáticas.
Liderado por Drew Terasaki Hart, ecologista computacional na organização The Nature Conservancy, o estudo analisou práticas existentes de implantação de sistemas agroflorestais (SAF) para concluir que a expansão da estratégia pode trazer resultados mais concretos no combate ao aquecimento global do que outras práticas, como reflorestamento.
“Temos o know-how e o espaço para adicionar mais árvores às terras agrícolas globais. A ciência pode ajudar a identificar os locais onde o desenvolvimento agroflorestal tem o maior potencial para a mitigação das alterações climáticas, ao mesmo tempo que apoia a produção agrícola e proporciona vários outros benefícios, incluindo dar um habitat para a vida selvagem”, destaca Hart.
Organizações que também colaboraram com a pesquisa, como a francesa Cirad, destacam que “em regiões onde a agricultura é um dos principais impulsionadores do desmatamento, como o Brasil, a melhoria dos meios de subsistência dos agricultores que as práticas agroflorestais oferecem também pode ajudar a reduzir ou mesmo reverter a perda florestal.”
A visão é compartilhada pela coautora da pesquisa e diretora de Ciências da TNC no Brasil, Edenise Garcia, que explica que o sistema agroflorestal, enquanto alternativa econômica sustentável que gera empregos, constitui um mecanismo eficaz para interromper este ciclo. “O ciclo de expansão das pastagens muitas vezes começa com o desmatamento em pequena escala, seguido pelo uso do fogo para limpar a área e plantar pastagens, e finalmente, alguns anos depois, culmina com a degradação e abandono da terra”, diz.
A TNC Brasil destaca casos como os existentes na parte leste da Amazônia brasileira, onde os sistemas agroflorestais vêm sendo implantados em pastagens degradadas subutilizadas de pequenas propriedades rurais. No Pará, a prática vem sendo utilizada também para mudar o caráter de monocultura na produção de dendê.
Entraves para o maior uso de agroflorestas
O estudo também analisou as “lacunas científicas críticas” que impedem atualmente a implantação de práticas agroflorestais em grande escala. O principal entrave, aponta, é a falta de estimativas confiáveis de quanto carbono um sistema agroflorestal individual pode reter e como isso varia de fazenda para fazenda.
Foi constatado ainda que a adoção da prática ainda é bastante desigual globalmente. Embora certos países africanos, em particular, estejam na vanguarda dos esforços agroflorestais, em outras regiões há amplo espaço para a expansão destas práticas. “Apesar do enorme potencial, há necessidade de mais investigação sobre a melhor forma de implementar esta solução climática natural em sistemas agrícolas em todo o mundo”, dizem os cientistas.
Outras análises também já apontaram que o maior desafio para os SAFs talvez seja garantir a produtividade na comparação com as monoculturas. Esse é um dos fatores que ainda fazem com que, no Brasil, a maior parte das agroflorestas hoje esteja concentrada apenas em pequenas propriedades rurais.
Texto: Redação, Um Só Planeta