A preservação da biodiversidade é essencial para a manutenção de diversos serviços ecossistêmicos. As abelhas são conhecidas como bons indicadores de práticas sustentáveis, com menor impacto sobre a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos. Também são as principais responsáveis pelo serviço de polinização, o qual beneficia tanto as plantas cultivadas, quanto às espécies silvestres presentes em áreas de vegetação nativa, parques, jardins e outras formações. Portanto, a busca de informações e tecnologias que favoreçam as abelhas, na sua integração com a produção agropecuária, é essencial.
Quando se fala em ácaros, a primeira associação que fazemos é que ácaros são pragas. Nem sempre! Estudos dos professores Osmar Malaspina (Unesp) e Roberta Nocelli (UFSCar) e de estudantes de pós graduação destas universidades demonstraram que existem ácaros que favorecem o desenvolvimento de abelhas sem ferrão, inclusive aumentando sua sobrevivência quando foram acrescentados inseticidas em sua dieta. O estudo foi publicado na Scientific Reports, do grupo da prestigiada revista Nature (curtlink.com/SdpsQiq). Os ácaros são mais frequentemente encontrados em espécies de abelhas sem ferrão, como a Scaptotrigona postica.
Os cientistas observaram que, na presença de ácaros da família Tydeidae, em que a maioria das espécies se alimentam de fungos e material em decomposição, a sobrevivência atingiu 96%, comparativamente a 24-63% na sua ausência. Porém o fato mais alvissareiro foi a sobrevivência de 69% das larvas e de 87% das abelhas jovens na presença de tiametoxam, um inseticida da classe dos neonicotinoides, largamente utilizado no Brasil. Nas conclusões do estudo, foi registrado que a presença dos ácaros da espécie Proctotydaeus (Neotydeolus) alvearii, aumentou a sobrevida de larvas de Scaptotrigona postica (Hymenoptera:Apidae) em 130% sem o inseticida, e de 90% quando o inseticida estava presente.
As informações obtidas durante a realização desse estudo possuem o potencial de favorecer a integração da produção agropecuária com as atividades de apicultura e meliponicutlura. Em especial, oferecem uma nova alternativa tecnológica para solucionar problemas ligados ao risco toxicológico para abelhas, representado pelas aplicações de pesticidas para controlar pragas em lavouras.
Por Décio Luiz Gazzoni, engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja e membro do Conselho Consultivo Agro Sustentável
Fonte: CCAS