segunda-feira,23 setembro, 2024

A tecnologia precisa fazer parte da base do sistema de saúde

A pandemia de Covid-19 intensificou algo que já era vital: a preocupação com a saúde. Neste cenário no qual os holofotes foram voltados para o setor, o consumidor reagiu e tornou o plano de saúde o terceiro item da sua lista de maiores desejos, atrás, apenas, da casa própria e da educação, de acordo com a pesquisa Vox Populi de 2021, encomendada pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS). 

Isso se reflete em números: a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) aponta que nos planos médico-hospitalares, em um ano, houve aumento de 1 520 778 beneficiários – o equivalente a 3,18% de crescimento em relação a abril de 2021. 

Esse dado é uma faca de dois gumes. Por um lado, a adesão da assistência particular à saúde é positiva, pois desafoga o SUS e faz a economia respirar. Por outro, o crescente acesso ao sistema privado pode congestionar o modelo nacional, caso permaneça inerte às mudanças da conjuntura. 

E, por isso, é importante que as instituições particulares pensem de forma abrangente, ampliando unidades e serviços, estabelecendo solidez financeira, traçando políticas e ações em que o paciente esteja no centro e, principalmente, investindo em tecnologias que contribuam para a gestão da saúde dos brasileiros. 

Para ser efetivo, o modelo de atendimento deve superar, de uma vez por todas, o foco emergencial. Para tal, é imprescindível a adoção de dados estruturados que se transformam em conhecimento e informação para médicos, machine learning, inteligência artificial, realidade virtual e internet das coisas. Afinal, a transformação digital em saúde não se restringe ao uso da telemedicina ou do smartwatch, embora sejam desejáveis. Ela passa, obrigatoriamente, por um ambiente pouco iluminado para alguns profissionais, que é a interoperabilidade de dados.

Por meio do processamento e análise simultânea de dados de diversas origens, é possível informar um paciente de alto risco que os resultados dos seus exames estão fora do padrão esperado, ou avisar a ou avisar a um beneficiário que o marcador de tumor utilizado para rastrear um tipo de câncer veio alterado, e que ele deveria aprofundar sua investigação. Com a inteligência artificial, é possível ainda acionar casos graves e que mereçam intervenção de urgência ou emergência. 

Há cases interessantes que ilustram essa jornada mais inteligente e fluida. No Brasil, já disponibilizamos algoritmos que detectam achados relevantes em laudos de exames em tempo real. Desta forma, é possível alertar o médico sobre eventuais suspeitas de câncer e condições de saúde graves e o paciente, que pode não ter buscado o resultado, não corre o risco de adiar um tratamento necessário para seu caso. Um núcleo foi criado especialmente para acionar o médico do usuário e também oferecer suporte para as demais etapas necessárias ao cuidado do paciente. 

O uso inteligente e integrado de dados traz para o sistema de saúde privado uma nova etapa para a gestão e planejamento. Consequentemente, possibilita a otimização dos recursos disponíveis e eleva a a qualidade de vida da população, reduzindo procedimentos desnecessários ou, ainda mais importante, antecipando intervenções que culminarão em melhores desfechos.  

Na saúde, a tecnologia não deve ser algo ferramental, e sim, matricial: um processo que envolve mudança cultural, priorizando integração de dados, análise e providências, trazendo uma nova forma de pensar que ofereça experiências únicas e reduza custos empresariais, contribuindo para a diminuição da inflação para as empresas e/ou organizações do setor. 

O desejável aumento das carteiras dos planos de saúde somente será sustentável com as necessárias mudanças no paradigma do setor privado. Todos os atores, incluindo empregadores, operadoras e prestadores de serviços de saúde, que não estiverem atentos ao novo cenário serão afetados pelas novas tecnologias, e em especial por aquelas relacionadas à interoperabilidade de dados. Essa mudança já está acontecendo em silos, mas precisa ser conjuntural para beneficiar toda a sociedade.

Por Ricardo Ramos, cirurgião-geral*

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