quinta-feira,21 novembro, 2024

A tecnofobia e o medo exagerado da inteligência artificial podem atrapalhar progresso da humanidade

É o que disse o empreendedor Whurley durante sua palestra no SXSW. Para ele, incutir nas pessoas o medo de novas tecnologias só trará resultados negativos

Sábado não foi um bom dia para os CEOs das big techs que tiveram seus nomes citados nos palcos do SXSW. Logo cedo, foi a vez da futurista Amy Webb criticar o comportamento messiânico de executivos como Zuckerberg, Jeff Bezos e Elon Musk, acusando-os de tentar moldar o mundo à sua maneira.

Depois do almoço, quem veio à carga foi William Hurley, mais conhecido como Whurley, CEO da startup de computação quântica Strangeworks, conhecido por ter uma postura bastante crítica em relação a tudo que acontece no Vale do Silício. Não por acaso, sua palestra tinha o sugestivo título de “Sobre a arrogância do homem na era das máquinas que pensam”. Logo de cara, Whurley mostrou à plateia uma série de vídeos de pessoas como Musk e Bezos enfatizando o quando a IA seria uma ameaça à existência humana na Terra.

“Estamos vivendo a era mais promissora da história do ponto de vista tecnológico, com avanços incríveis nas áreas de saúde, design, exploração espacial e inteligência artificial”, disse o cientista. “Mas, em vez de nos ajudar a tirar o máximo proveito dessa fase, os CEOs da tecnologia gastam horas em entrevistas para tentar assustar a população sobre as supostas ameaças à existência da humanidade.”

Ao fazer isso, diz Hurley, os bilionários tech prestam um enorme desserviço ao planeta que dizem querer salvar. “Se nos abrirmos às possibilidades da tecnologia, elas poderão nos trazer realidades fascinantes. Mas, se decidirmos enfrentá-las com medo, isso sim pode trazer perigo. Precisamos acabar com o pânico que tomou conta das pessoas e encarar a nova era com mais otimismo”, afirmou.

Entre as declarações desastrosas de CEOs, estão aquelas que defendem regulações duras para tecnologias (quer venham dos Estados Unidos ou da China), ou até mesmo o fim da evolução de uma determinada ferramenta (no caso, a inteligência artificial).

“A arrogância dessas pessoas é enorme, principalmente no que diz respeito às previsões apocalípticas. A boa notícia é que raramente um expert na indústria da tecnologia fez alguma previsão que prestasse”, disse, para deleite da plateia.

A história, afirma Whurley, está cheia de declarações intempestivas que não se cofirmaram: de que só haveria mercado no mundo para cinco computadores, de que as pessoas iam acabar desistindo da internet, de que ninguém estaria online em dez anos. “Mas vocês sabem quem é bom para prever o futuro da tecnologia?”, disse, provocando a plateia. “Autores de ficção científica.

Um exemplo de profecias certeiras seriam as feitas pelo Arthur C. Clarke, de clássicos com 2001, Uma Odisseia no Espaço. Em vídeo de 1964, mostrado no palco, ele já previa como seria possível trabalhar de modo remoto, comunicar-se com o mundo todo via satélite e até fazer cirurgias de maneira virtual.

As palavras de Clarke, defende Whurley, nunca fizeram mal a ninguém. “Hoje, porém, essas pessoas que estimulam a tecnofobia – e, por vezes, o medo da ciência, provocam resultados perigosos, que deixam as pessoas burras e obsessivas. É o caso daquele que acreditam que a Terra é plana, ou que o homem nunca chegou à Lua. E veja, muitas dessas pessoas estúpidas acabam indo aprovar leis”, pontuou.

Assumindo seu lado ativista, o cientista afirmou que só haveria uma saída para reverter a situação atual de crise de confiança na tecnologia. “Minha proposta é que criemos um movimento para contrabalançar o pânico da tecnologia que está sendo incutido nas pessoas. Quero convidar vocês para que trabalhem para isso comigo”, comentou.

Para quem vê em suas declarações um elogio dos abusos das empresas de tecnologia, Whurley replica. “Acho que todos nós acreditamos que é preciso haver alguma regulação para a tecnologia, especialmente para a IA. Mas, para boa parte das coisas com que as pessoas se preocupam, já existem leis que dão conta. Direitos autorais, por exemplo. Então, podemos precisar de novas leis, mas nada tão drástico assim. Não são as regras, e sim o casamento dos seres humanos com a ciência e a tecnologia, que vão tornar o mundo um lugar melhor para viver.”

Mais tarde, seria a vez do futurista Scott Galloway passar boa parte de seu podcast ao lado de Kara Swisher detonando o bom nome dos CEOs da tecnologia – seu alvo favorito, como de costume, foi Elon Musk. Mas isso já é assunto para outra reportagem.

A cobertura do SXSW na Editora Globo é patrocinada por @itau

Por Marisa Adán Gil

Redação
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