Na hora voto, o que importa para o eleitor é a vida real. Ou não? Pelo menos até um dia desses, as “condições materiais de existência” determinavam a parada. Um mandatário teria mais chances de se reeleger quanto mais visíveis as realizações de sua gestão. Foi mais ou menos com essa premissa na cabeça que um assessor de Bill Clinton formulou a frase que entrou para a história: “É a economia, estúpido”. Mas isso foi em 1992 – e aquele mundo não existe mais.

Corta para o Metaverso do século 21. No Brasil e no mundo, no panorama das eleições para o comando dos países, um pensamento único triunfou por todos os lados. E nesse fenômeno universal, esquerda e direita estão de acordo. Fatores econômicos hoje são apenas figurantes na escala de influência sobre a escolha de governantes. No império das redes sociais, o tiroteio de certezas definitivas trucidou a verdade dos fatos e consagrou as “narrativas”.

Ao lado das tais pautas de costume, o que determina nossas preferências é a “percepção” do real, e não mais a vida como ela é. O diagnóstico não é novo, mas antes valia para uma coisa ou outra, como segurança pública. Hoje em dia, parece se aplicar a todos os níveis da existência – de escolhas profissionais e afetivas a categorias do além. 

A dúvida que ainda não parece devidamente esclarecida é a seguinte: qual o peso desse desvario cognitivo numa eleição municipal, como teremos agora em 2024? O prefeito JHC, como se sabe, governa mais no Instagram do que no gabinete e nas ruas de Maceió. Não é o único, claro. O prefeito do Recife, João Campos, é o rei das dancinhas e outras peripécias, incluindo o cabelo platinado, descolorido ou nevado (foto). Políticos pelo país afora imitaram o pernambucano.

Nas últimas semanas, a prefeitura de Maceió realiza às pressas algumas gambiarras para mostrar serviço na periferia. Um exemplo é o recapeamento mequetrefe em bairros que há anos esperam por uma obra decente. Sinal de que o gestor ainda considera relevante mostrar algo de concreto – mesmo que seja de baixíssima qualidade. Para o Instagram, está ótimo. Afinal, na combinação de filtros, retoques e harmonização, pode-se forjar “competência e seriedade”. Dá pra harmonizar tudo. Até o nada.  

Blog do Celio Gomes