A novela Pantanal pode ajudar na conservação ambiental?

Sem uma lei de áreas úmidas no Brasil, ela pode elevar engajamento e multiplicar vozes em defesa do bioma

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Muito além da aposta da principal emissora brasileira em alavancar os pontos de audiência em horário nobre, o remake da novela Pantanal pode criar um cenário de oportunidades para o bioma. Algo que diz respeito tanto ao estímulo do turismo de natureza como, principalmente, em aproximar a sociedade aos debates ambientais sobre à urgência de propor políticas públicas que garantam uma maior conservação daquela que é a maior área úmida de água doce do planeta.

Pelo próprio elenco da novela não é raro ver declarações de que o Pantanal de três décadas passadas, quando a primeira versão foi gravada em 1988, era muito mais abundante em recursos hídricos. E a percepção deles não está errada, pois segundo estudos levantados pelo MapBiomas a pedido da própria rede de TV, o Pantanal perdeu mais de 12% da sua vegetação nativa nos últimos 30 anos – isso antes da tragédia dos incêndios em 2020.

Embora, hoje, com o avanço dos recursos cinematográficos, com imagens aéreas de encher os olhos dos telespectadores, detrás das câmeras, uma coisa é fato: não são apenas os atores escalados para o folhetim que mudaram, o Pantanal também mudou. Ele está mais seco.

Logo, aproveitar o momento de evidência que o bioma está protagonizando é ideal para que ele tenha uma história com um enredo mais feliz, bem diferente do que tem sido vivenciado. A citar o episódio mais recente, em 2020, quando o que se via na mídia era o rastro de cinza, morte e destruição deixado pelo fogo. Algo que consumiu cerca de 26% do Pantanal brasileiro.

“Acredito que não podemos romantizar o futuro do Pantanal sob as lentes da novela por se tratar de uma obra de ficção. Porém, é inegável que a trama traz para a mídia o tema ‘Pantanal’ para o Brasil como um todo. Então, é o momento ideal para se colocar luz sobre os assuntos que circundam o bioma e com isso aproximar a sociedade das discussões, porque proteger a biodiversidade pantaneira é também pensar no futuro enquanto humanidade”, enfatiza a professora do curso de Ciências Sociais da UFMS, Mara Aline Ribeiro.

Quem também vê benefícios é a turismóloga e empresária Lejânia Ribeiro, presidente da Associação Visit Pantanal, que atua frente ao turismo de natureza e percebeu uma busca maior pelo bioma como possível viagem. “No nosso site a média era de 5 mil acessos antes da novela. Após a estreia, passou para 10 e, agora, 15 mil acessos. Se isso vai ser revertido em viagens, só saberemos futuramente. Mas, uma coisa é certa, há um estímulo aí para o setor e, claro, uma oportunidade de falar da importância do turismo sustentável. Algo que já praticamos no bioma. O Pantanal tem suas particularidades naturais, cheias e vazantes, não aceita um fluxo massivo de pessoas”.

Característica essa que, na opinião da própria Lejânia, tem sido pontuada na trama da novela. Algo que ela vê com bons olhos, pois não romantiza as ações humanas, uma forma de trazer para a ficção a realidade pantaneira. “Dentro de um roteiro nem sempre é possível aprofundar os temas, mas na própria história de Pantanal, a gente vê o personagem Tenório [Murilo Benício] querendo implantar um resort no bioma, colocando o lucro acima de qualquer coisa, enquanto José Leôncio [Marcos Palmeira] vem contrabalançar a questão, o que acho válido”, argumenta.

Situações que são lançadas ao público que pode ou não gerar reflexões considerando muito a bagagem pessoal de cada telespectador. Entretanto, uma coisa é inegável, a exposição massiva do Pantanal dentro de um canal aberto de TV o coloca nos holofotes em pleno horário nobre. Com isso, em parte, cabe às instituições ambientais o desafio de aproveitar o momento para jogar luz aos problemas e assim trazer a sociedade para dentro dos debates.

Algo como o que o artista Aloísio Magalhães já dizia: “Só se preserva aquilo que se ama, só se ama aquilo que se conhece”. Partindo do ponto de que o remake apresenta o Pantanal, principalmente, para uma galera que na primeira versão ainda nem era nascida e que, hoje, vive conectada nas mídias sociais. A situação pode ser interessante se considerarmos, por exemplo, que em termos de mobilização o Pantanal precisa ser contemplado por uma lei, seja ela exclusiva ou que contemple outras áreas úmidas do País.

Principalmente, porque há uma necessidade de uma lei específica para o Pantanal. É uma demanda antiga que está prevista para existir desde a Constituição Federal de 1988. Porém, três décadas depois da Carta Magna, coincidentemente, o mesmo tempo da primeira versão da novela, essa importante área úmida mundial segue nesse vácuo jurídico.

“O Pantanal é resiliente, mas, até um certo ponto. Promover o diálogo, se apropriar dos assuntos que circundam o Pantanal como desmatamento, construções de portos, degradação de cabeceiras de rios, mineração, riscos do avanço da soja no bioma são pontos que do prisma ambiental podem ser potencializados com este momento da novela. É uma janela que está aí para ser trabalhada em benefício do bioma, da biodiversidade e de todos nós”, observa a docente da UFMS, Mara Aline.

Fonte: CAMPO GRANDE NEWS

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