Como construir o próximo grande produto de sucesso é a pergunta de milhões para quem deseja empreender. Marc Tarpenning, cofundador da Tesla, continua acompanhando o ecossistema de inovação de perto, atuando como consultor e investidor em startups – e tem um palpite de qual será a tecnologia a revolucionar o mercado nos próximos dez anos: “A inteligência artificial estará em tudo”, diz ele.
“A IA dá a sensação de algo parecido com a [criação da] internet e como a eletricidade era há 100 anos. Isso é super interessante. As pessoas podem imaginar muitos usos e há muito entusiasmo em torno dela, mas ninguém sabe exatamente o que é”, afirma.
O empreendedor participou do Slush 2023, evento de inovação realizado entre os dias 30 de novembro e 1 de dezembro em Helsinque, na Finlândia, que contou com 5 mil fundadores de startups e 3 mil investidores de diversas nacionalidades.
No painel, Tarpenning, revisitou sua história ao fundar a Tesla e deu dicas para que empreendedores construam negócios de sucesso. Ele admitiu que é difícil fazer previsões de qual será o próximo sucesso, mas ofereceu algumas dicas.
Segundo ele, muitos empreendedores deslizam ao se dedicarem mais à tecnologia do que a entender como essa inovação resolverá um problema de fato. “Vemos muitas empresas de tecnologia, inclusive no Vale do Silício, criarem algo realmente inteligente tecnicamente, mas não sabem o que isso vai resolver. Isso é difícil, e esse é o papel do empreendedor: descobrir como pegar essa tecnologia e transformá-la em algo que realmente tenha significado para as pessoas e tenha valor real”, afirma. Em muitos casos, diz Tarpenning, o consumidor nem se dá conta de que existia um problema, mas percebe como a sua vida ficou melhor com aquela tecnologia.
Ele conta que ao fundar a Tesla, há duas décadas, junto com Martin Eberhard, ele enxergou os problemas ambientais, como aquecimento global. “Tínhamos certeza de que teríamos de ter transportes elétricos. Estava muito claro que aquele petróleo não era uma coisa boa para o mundo”, afirma. Então, seria necessário descarbonizar o transporte — especialmente os carros.
Segundo o empreendedor, um dos diferenciais da Tesla era ter uma “North Star”, ou seja, uma métrica que define claramente o caminho que a empresa quer seguir – no caso, o foco era agradar os clientes. Mas como saber exatamente o produto que os consumidores querem? Colocando-o no mercado. “Você tem de lançar o produto, porque simplesmente não sabe como seus clientes irão usá-lo. Estávamos realmente nos esforçando para iniciar a produção o mais rápido possível, porque queríamos esse feedback”, diz o empreendedor.
Tarpenning, que também atua hoje como investidor na Spero Ventures, ainda compartilhou o que o incentiva a aportar em uma empresa. “Nos concentramos em fundadores motivados por missões. E é um clichê, mas procuramos pessoas que realmente acreditem em seu produto, seja ele qual for. Eles querem que isso seja divulgado no mundo, querem que outras pessoas experimentem isso, porque achamos que é assim que você constrói empresas fortes.”
IA na prática
Como destacou Tapperning, a IA oferece diversas possibilidades para o futuro. Mas já existem negócios que já encontraram os problemas que querem resolver — utilizando a inteligência artificial. É o caso de Renate Nyborg, ex-CEO do Tinder e atual fundadora do Meeno, aplicativo que quer melhorar relacionamentos ajudando a praticar habilidades sociais. A empreendedora também foi palestrante durante o Slush 2023, em um painel que discutiu como o uso da IA pode causar ou curar a solidão.
Uma das motivações para criar o produto foi entender que apenas conectar as pessoas — como é a função do Tinder — não é suficiente para resolver os problemas de solidão da sociedade. “O Meeno é um conselheiro personalizado de relacionamentos que ajudará em todos os tipos de relações, como namoros, amizades, familiares e profissionais”, afirma. Os usuários podem simular conversas que terão com seres humanos.
A empreendedora esclarece que o aplicativo não funciona como a tecnologia do filme HER, em que o protagonista se apaixona por um sistema operacional. “É o oposto disso”, diz a empreendedora, acrescentando que o verdadeiro objetivo da ferramenta é melhorar as relações na vida real. “Nada pode substituir o apoio de seres humanos de verdade em momentos difíceis.”
“Nosso foco no momento é em pessoas de 18 a 25 anos, porque elas são as que mais precisam, já que a pandemia prejudicou suas habilidades sociais. Conversei com dezenas de pessoas que passaram os últimos dois anos no Zoom encarando pixels enquanto deveriam estar fora de casa”, afirma. “Ainda assim, acredito que qualquer pessoa pode utilizar o Meeno.”
A inspiração para criar o negócio veio há cerca de um ano, quando entendeu que ferramentas de large language model (LLM), como o ChatGPT, se tornaram uma tecnologia poderosa. Desde então, se concentrou em desenvolver a ferramenta, que foi lançada em 30 de novembro, no próprio Slush 2023. A Finlândia é o primeiro país a receber a novidade. “É um dos países mais inovadores do mundo, e quero o feedback de vocês primeiro”, disse ela durante o evento.
*A jornalista viajou a convite da Business Finland.