Em março deste ano, tive a oportunidade e o prazer de ser convidada para palestrar no Encontro Estadual da Cufa. Pois bem, sou jornalista de inovação no portal de inovação. Deveria falar de quê? Inovação!
Esse processo todo de elaborar uma apresentação e uma fala cronometrada me levou a uma busca intensa pelas pequenas coisas ao longo da história que promoveram uma grande mudança no presente.
Em um dado momento, cheguei a uma conclusão cruel: a inovação não é justa! Ela promove tamanha desigualdade que, enquanto alguns se preocupam com a aquisição de aparatos tecnológicos de última geração, outros se preocupam com quais métodos irão encontrar para conseguir colocar comida na mesa.
Você já viu, com certeza, ou, se não viu, vai querer pesquisar agora mesmo na internet, aquela cena registrada pelo fotógrafo Tuca Vieira em 2014 que mostra o bairro favelizado de Paraisópolis ao lado de prédios do Morumbi. Durante a minha pesquisa, me vi impactada por essa cena a tal ponto de inflamar a vontade de inovar mais.
Pense comigo, a inovação não é nossa inimiga. Nunca será. A questão é: inovação para quê e para quem? Esse é o xis da questão. Essa desigualdade social promovida pela injusta distribuição de recursos, falta de oportunidades, tecnologias e inovações caras só ocorre porque quem inova, inova apenas para a realidade que conhece.
É por isso que acredito fortemente no propósito da Expo Favela Innovation. Porque somos nós, pessoas de comunidade, de favela, da roça (como eu), promovendo e discutindo inovação, fazendo negócios. O terceiro setor, a comunidade, não é e nunca foi sobre carência, é sobre potência. Pois bem, vamos então usar a nossa potência para inovar para dentro da nossa casa, da nossa rua, do nosso bairro. Vamos fazer da inovação o nosso meio de reduzir as desigualdades.
Espero que essa reflexão lhe faça perceber que o papel da inovação, sendo aliada ou inimiga, está ligado com ‘para quem devo inovar?’. Inove para a comunidade, para as pessoas, para um mundo não só digitalizado, mas também justo e igualitário.
A inovação é inimiga ou aliada?
Opinião: Milena Vilar
