Nos últimos dois anos, o segmento de e-commerce tem vivido uma franca expansão, potencializada pelas exigências desencadeadas pela pandemia. Segundo dados da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), esse mercado deve atingir R$ 185,7 bilhões em faturamento em 2023. Além disso, a associação indica que o número de pedidos via e-commerce em 2022 foi de 368,7 milhões. Sem dúvida, essa movimentação intensa tem impactado significativamente os processos de transporte das companhias, trazendo muitas oportunidades, mas também desafios.
A etapa final dessa jornada logística, chamada de last mile ou última milha, tem se mostrado a mais desafiadora. Por ser a parte do ciclo na qual são disponibilizadas informações sobre a localização da remessa para o cliente, uma série de fatores precisa ser gerenciada, pois pode impactar essa experiência e trazer prejuízos para as companhias. Para que a qualidade seja mantida e os prazos sejam cumpridos, o processo exige planejamento de rotas, organização do volume de entregas, administração do estado dos veículos da frota, conhecimento sobre condições das vias (especialmente no transporte rodoviário), e outros cuidados que oneram os custos e os possíveis riscos.
Impactos socioambientais e investimentos em tecnologia
Além dos desafios operacionais, outras questões ligadas a impactos socioambientais da entrega de última milha preocupam. Uma pesquisa do Fórum Econômico Mundial estima que a atual e crescente demanda por entregas de comércio eletrônico resultará em um aumento de 36% no número de veículos de entrega nos centros das cidades até 2030. Com isso, sem uma intervenção eficaz, as emissões de gases poluentes das entregas urbanas de last mile e o congestionamento do tráfego podem crescer até 30% nas 100 principais cidades do mundo.
Todos esses aspectos podem ser contornados com investimentos em soluções tecnológicas para o gerenciamento da frota e a otimização de processos. O próprio Fórum Econômico Mundial sugere que uma abordagem conjunta dos setores público e privado, que contemple o uso de veículos elétricos (VE) em áreas centrais das cidades e de soluções de conectividade baseadas em dados na entrega de última milha, seria capaz de reduzir as emissões de CO2 e o congestionamento em 30%, e os custos de entrega em 25% até 2030, em comparação com uma linha base que não inclua ações.
Por isso, é imperativo que as empresas considerem o uso dos dados no processo logístico de e-commerce, integrando soluções como plataformas de telemática em suas operações. No campo dos dados e da visibilidade, essas ferramentas que unem internet das coisas (IoT), advanced analytics, big data e inteligência artificial (IA) são grandes aliadas no monitoramento de cargas e do motorista. Graças a seu uso, é possível ampliar os padrões de segurança, transparência e previsibilidade do frete.
Algoritmos otimizando rotas e câmeras inteligentes monitorando motoristas
Utilizar algoritmos avançados de telemática para otimizar as rotas também ajuda a minimizar atrasos e a melhorar a eficiência das entregas. Os sistemas de rastreamento e monitoramento em tempo real permitem o acompanhamento do status dos pedidos e garantem respostas rápidas ao consumidor em caso de problemas ou atrasos. Além disso, por meio da telemática, é possível corrigir falhas na organização das rotas de entrega, problemas de manutenção e comportamentos inadequados dos motoristas – como o tempo ocioso do veículo estacionado com o motor ligado durante as entregas -, que podem trazer prejuízos financeiros e de reputação para as companhias.
Recursos de câmeras inteligentes combinadas com a telemática e dados de condução dos veículos também podem identificar anormalidades comportamentais dos motoristas durante os trajetos, como distrações, eventuais problemas com o bem-estar do condutor e padrões de direção agressiva.
Manutenção de veículos e VEs
Outro aspecto a ser considerado para a entrega de última milha é a manutenção dos veículos. Falhas de funcionamento podem gerar atrasos indesejados e insatisfação nos clientes. Com sistemas de telemática, é possível colher dados sobre tempo de rodagem dos veículos, tensões de arranque, pressão dos pneus e temperaturas de óleo para desenvolver modelos preditivos capazes de antecipar possíveis problemas, programando manutenções no período apropriado. Esse acompanhamento também permite investigar e reduzir o volume de emissões de CO2.
Somado a isso, o uso de veículos elétricos para a última milha também traz impactos positivos para o meio ambiente, e é uma tendência crescente: somente nos últimos dois anos, de acordo com dados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), a circulação de VEs cresceu 195% no Brasil. A perspectiva é de que essa categoria ganhe espaço nas frotas comerciais por oferecer uma série de benefícios para as operações. O gerenciamento de dados telemáticos aplicado aos VEs pode fornecer informações sobre desempenho, localização, autonomia e status da bateria, além de outras informações úteis e em tempo real do veículo com o apoio do software correto.
Mesmo com riscos e desafios impostos ao setor logístico brasileiro, garantir a alta performance nas entregas de última milha é uma possibilidade viável com o uso de inovações baseadas em dados. Como em qualquer setor da economia, a tecnologia ocupa um lugar cada vez mais proeminente na otimização de processos, resultando em economia de custos e operações mais sustentáveis e seguras. Assim, é fundamental que os operadores considerem o investimento em inovações, como a telemática, para garantir o crescimento orgânico e a satisfação plena dos clientes.
Texto: ecommercebrasil