A Geração Z apresenta índices mais baixos de bem-estar emocional e social do que suas antecessoras. Os jovens são mais inclinados em declarar que foram diagnosticados com alguma condição de saúde comportamental, como transtornos e doenças mentais e uso de substâncias. É também a geração que afirmou ter mais necessidades sociais que não são atendidas, como emprego, educação, alimentação e transporte.
A consultoria McKinsey reuniu diversos de seus estudos geracionais sobre saúde comportamental e bem-estar. O resultado é um retrato de como a Geração Z encara sua percepção de saúde mental, de cuidado e suas queixas em relação a atendimento. É a geração mais atenta a temas de saúde mental e comportamental, mas relata dores e desafios relevantes.
Entre a Geração Z, um em cada quatro afirma se sentir estressado emocionalmente. Em comparação, apenas 13% entrevistados das gerações X e Millenial afirmaram o mesmo. Já 8% dos Baby Boomer atestam sentir a mesma condição.
Ainda, as chamadas necessidades sociais, como renda, emprego, serviços de saúde e segurança, são recebidas de formas diferentes entre as gerações. 58% dos jovens afirmaram não ter duas ou mais necessidades atendidas. Já entre as demais gerações, esse número cai para 16%.
Cuidados com a saúde comportamental
O levantamento aponta que a Geração Z é menos engajada no cuidado da própria saúde mental do que os participantes das demais gerações, somando dois terços dos respondentes jovens. Eles apontam que sentem menos controle sobre a própria saúde e seu tempo de vida, além de serem menos conscientes e proativos em relação ao tema.
Apesar de reportarem uma maior probabilidade em buscar um diagnóstico para suas condições de saúde comportamental, os jovens também são entre 1,6 e 1,8 vezes menos inclinados e buscar tratamento na comparação com outras gerações.
O estudo aponta que há diversos motivos para isso, como o estágio de desenvolvimento da condição, a desconexão com o cuidado da própria saúde, a percepção de acessibilidade aos serviços de atendimento, e até mesmo a estigmatização associados aos transtornos mentais ou ao uso de substâncias entorpecentes por famílias, amigos e comunidades.
A falta de acessibilidade aos serviços de saúde mental é um dos desafios percebido por um a cada quatro respondentes da Geração Z. E uma vez que muitos jovens dependem dos pais para ter acesso a seguro e convênio de saúde, o estigma associado aos transtornos mentais e uso de substâncias pode ser uma barreira para conversas e, portanto, acesso aos serviços.
Redes sociais e ferramentas digitais no atendimento
Em um cenário no qual quase um em cada quatro jovens relatam ser muito ou extremamente desafiador conseguir ajuda durante uma crise de saúde comportamental, o primeiro passo se torna a busca nas redes sociais. Os aplicativos TikTok e Instagram, e a página Reddit são algumas das escolhas de jovens para conseguir aconselhamento de outros internautas da sua idade ou de terapeutas online. Nos Estados Unidos, dada a escassez desse tipo de serviço em muitas regiões – 64% dos condados apresentam falta de prestadores de serviços de saúde mental e comportamental –, a internet se torna um local mais seguro para a resolução de problemas.
Os jovens da Geração Z não estão satisfeitos com o sistema de saúde comportamental, sendo a geração que reportou menor grau de aprovação dos serviços de aconselhamento ou terapia, atribuindo a nota 3,7 em uma escala que vai até 5,0, em comparação a 4,1 dos Millenials. Já para os serviços ambulatórios intensivos, atribuiu a nota 3,1, ante 3,8 das gerações anteriores.
Mesmo os atendimentos de telemedicina em psiquiatria não estão cumprindo com as expectativas desses pacientes. Sua classificação foi de 3,8, enquanto gerações anteriores atribuíram a nota 4,1. Segundo os jovens, os serviços de telemedicina lhes dão a sensação de um atendimento menos profissional e oficial. Também apontam a dificuldade em estabelecer uma relação de confiança com seu terapeuta online. Os aplicativos de bem-estar e saúde mental também foram apontados como serviços sem personalização e com falta de diversidade étnica e racial – algo bastante valorizado pela Geração Z.
Na busca por atendimento e tratamento, a Geração Z pode acabar evitando os serviços tradicionais de saúde mental ambulatorial, e recorrer aos atendimentos de emergência.
Os games também se tonaram uma ferramenta de saúde comportamental. A pesquisa “Mundo Infinito dos Games” conduzida pela agência Live em parceria com a Talk Inc e o hub B1ld, aponta que os gamers brasileiros consideram que os jogos são um importante elemento para conservar a saúde mental. Um terço dos gamers entrevistados admitem que adotam a prática para manter o cérebro ativo.
Segundo 42% dos entrevistados entre 16 e 26 anos, os jogos ampliam o círculo de amizades, que podem até resultar em relacionamentos e casamentos. Entre os motivos pelos quais os gamers jogam identificados pela pesquisa, estão a diversão, a fantasia, o próprio, o conhecimento e a socialização.
Próximos passos para stakeholders
Dada a complexidade para atender jovens da Geração Z em suas demandas e desafios em saúde comportamental, é preciso uma abordagem holística nos serviços e nos atendimentos do setor. O estudo aponta potenciais estratégias para lidar com essas necessidades.
1. Expandir a acessibilidade aos serviços de saúde comportamental
É possível investir cada vez mais em serviços de telemedicina para alcançar pacientes em áreas distantes de serviços de saúde comportamental, além de expandir atendimento para jovens com necessidades mais complexas e acesso a tratamentos. É possível também criar formas de atender crises comportamentais por meio do estabelecimentos de atendentimentos emergenciais, em parceria com a polícia e a guarda municipal.
2. Investir em serviços de saúde comportamental tanto quanto em outros atendimentos de saúde
Há um desequilíbrio entre a presença e o acesso de atendimentos de saúde comportamental e outros tipos de serviços. Por isso, prestadores podem considerar expandir a análise e as taxas de reembolso de pacientes, investir no desenvolvimento de profissionais, apoiar iniciativas de expansão da rede de atendimento.
3. Fortalecer a prevenção comunitária.
Focar em práticas como prevenção, intervenção prévia e reduzir o estigma associado à saúde comportamental pode contribuir com a redução de eventos preveníveis, como crises e tentativas de suicídio. É possível criar programas em locais de trabalho, como seminários de saúde mental, e criar treinamentos para ajudar funcionários a reconhecer sinais de estresse psicológico e emocional. As escolas também podem criar programas para ajudar estudantes a entenderem sua própria saúde comportamental e contribuir para identificar sinais alarmantes, reduzindo também o estigma.
4. Integrar a saúde comportamental à saúde física
Os tratamentos de saúde comportamental e física devem ser realizados de forma complementar, uma vez que a falta de integração pode levar à diagnósticos tardios de transtornos mentais ou sociais.
5. Alavancar dados e análise
Os dados podem ser aliados dos serviços de saúde comportamental, inclusive no momento de redigir contratos, podendo ajudar a reduzir custos e contribuindo com uma experiência de saúde comportamental muito melhor. A análise de dados preditiva pode ajudar a identificar indivíduos que irão se beneficiar mais de determinados tratamentos.
6. Atender às necessidades de saúde negligenciadas
Indivíduos com a saúde mental precária têm 1,9 vezes mais chances de relatar que não recebem os cuidados de saúde de que necessitam. Também têm 2,5 vezes mais chances de relatar que têm várias necessidades sociais não atendidas. Criando serviços de atendimento em domicílio e nas comunidades pode ajudar no atendimento dessas necessidades.
Fonte: Consumo Moderno