Com menos de 3% da população brasileira e pouco mais de 1% do território nacional, Santa Catarina se projeta como um dos polos mais inovadores do país. Está em sexto lugar no ranking da inovação entre os 24 estados da Federação e tem o segundo maior número de startups no país – dados da Abstartups de 2022.
O empreendedorismo e a inovação estão no “DNA” do desenvolvimento econômico catarinense, abrindo frentes desde a indústria, até os serviços e na educação, a exemplo do Sistema Acafe e das universidades comunitárias. É o que se convencionou a se chamar de “ecossistema” que, a exemplo da Biologia, é o ambiente onde todos os agentes atuam a colaborar entre si de forma a promover o desenvolvimento equilibrado e mútuo.
Entre esses “agentes”, as instituições de ensino superior e a Acafe são tão fundamentais quanto os centros de pesquisas, governos, instituições de fomento, organizações empresariais e sociais, aceleradoras e investidores. A partir dessa cadeia que negócios e mercados são impulsionados.“A educação empreendedora em Santa Catarina nasceu há quase seis décadas com as universidades comunitárias e a Acafe”, diz Luciane Ceretta – Foto: Marciano Bortolin/Unesc/Divulgação
Há pelo menos 60 anos, as universidades comunitárias catarinenses e a Acafe operam nessa linha de frente com vistas a desenvolver as potencialidades das regiões e comunidades onde atuam por meio da formação e do suporte aos negócios inovadores.
Atualmente, as 13 instituições comunitárias de Ensino Superior contam cada uma com seu núcleo de ciência, tecnologia, inovação e empreendedorismo. Segundo a presidente da Acafe e reitora da Unesc de Criciúma, Luciane Ceretta, todas essas estruturas oferecem, por exemplo, incubadoras de novos negócios com foco no empreendedorismo, seja na atividade educacional ou visando o mercado.
“A educação empreendedora, surgida há cerca de 60 anos na ancoragem desse processo de desenvolvimento do nosso Estado e que deu origem à Acafe, também qualificou a formação profissional, a indústria, os serviços e colocou Santa Catarina no patamar de destaque hoje nos cenários nacional e internacional”, avalia.
Na sua visão, parte do sucesso de Santa Catarina no segmento da tecnologia, inovação e empreendedorismo se dá também pelo papel do ecossistema de educação superior, em especial as universidades comunitárias e a Acafe, na construção e integração com essa grande cadeia.
A começar pela presença do empreendedorismo e a inovação nas matrizes curriculares de todos os cursos destas universidades. “Para além da questão curricular e aprendizagem, as nossas instituições também avançaram muito na implantação das suas incubadoras tecnológicas. Juntas, elas contam com cerca de 450 negócios incubados”, explica Luciane.
Em linhas gerais, ressalta a reitora e presidente da Acafe, são novas ideias e negócios que nascem nas incubadoras, passam pelos processos de mentoria e aceleração para chegarem ao mercado com êxito e sustentabilidade.
Dentro do universo da tecnologia e inovação, assim como as universidades, as incubadoras são determinantes no desenvolvimento de um ecossistema de negócio. Um exemplo é o Programa de Incubação Tecnológica de Ideias e Negócios (Itec.in), implementado pela Unesc, em Criciúma.
Com o apoio do Talent Lab, um espaço de coworking localizado no Parque Científico e Tecnológico (Iparque), a universidade atualmente abriga dez startups em estágio de incubação. Entre elas, destaca-se a plataforma psiU, que tem conquistado reconhecimento e espaço no mercado.
Desde 2012, o Itec.in, que conta com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc), tem como principal objetivo incentivar e apoiar a criação de empreendimentos inovadores, estimular a produção de conhecimento, fortalecer startups em estágio inicial e contribuir para a geração de empregos e renda na região. Trata-se de um modelo que se replica a outras universidades comunitárias da Acafe.
Além de oferecer uma infraestrutura adequada, o programa proporciona orientações mercadológicas e compartilhamento de recursos, como salas de treinamento, biblioteca e cantina. O público-alvo abrange estudantes, pesquisadores, empreendedores e empresas em processo de constituição que buscam desenvolver novos projetos, produtos e serviços baseados em tecnologia inovadora.
“Por meio do Programa de Incubação Tecnológica de Ideias e Negócios (Itec.in), a universidade vem contribuindo com diversas startups e, consequentemente, com o ecossistema de inovação do Sul de Santa Catarina. E assim sucessivamente em todas as regiões onde a Acafe atua”, sustenta Luciane.
Acafe entre os agentes do desenvolvimento catarinense
O ecossistema empreendedor é formado por todos os agentes e suas estruturas que fazem parte deste ambiente de negócios e atuam para desenvolvê-lo em equilíbrio. Neste caso, entre os chamados “player” estão os empreendedores, instituições de pesquisa e ensino, fomento, centros de inovação, incubadoras, governos, investidores, entre outros. A Acafe é parte fundamental nessa rede em Santa Catarina.
Um dos fatores que historicamente tem contribuído para o desenvolvimento do segmento de inovação e empreendedorismo em Santa Catarina é a parceria entre a Acafe e suas universidades comunitárias com as instâncias de governo, como a Fapesc. As comunitárias e a Fundação atuam, por exemplo, em uma forte parceria na implementação da Rede Catarinense de Centros de Inovação que garantem a cobertura nos principais polos regionais.
Fábio Wagner Pinto, presidente da Fapesc, destaca o crescimento da instituição, especialmente durante a pandemia, com um aumento significativo no número de editais lançados e na aproximação com as comunidades locais. “A Fapesc tem se mostrado presente quando os desafios são grandes, trabalhando em conjunto com organizações de ensino, universidades e a Acafe para encontrar soluções”, ressalta o executivo. Ele também destaca a vontade da comunidade em mostrar o espírito empreendedor catarinense e os papeis complementares da Fapesc e das Acafe como agentes de fomento no desenvolvimento do estado.
“É visível a vontade da comunidade em mostrar o espírito empreendedor do nosso Estado”, Fábio Wagner Pinto
A Fapesc tem direcionado suas iniciativas de fomento para o desenvolvimento das regiões, utilizando, por exemplo, a tecnologia da informação como uma ferramenta de impulso. Essas ações possibilitam ao estado buscar recursos, ideias e promover o empreendedorismo e o crescimento econômico.
O presidente ressalta a importância das universidades comunitárias nesse contexto, afirmando que quando elas possuem os três pilares fundamentais (ensino, pesquisa e extensão), acrescentar a inovação e o empreendedorismo é um fator novo e essencial para o desenvolvimento.
Um dos modelos escolhidos pelo governo catarinense para impulsionar a inovação é a Rede Catarinense de Centros de Inovação, que busca estabelecer uma proximidade entre as universidades e os centros de inovação, permitindo a captação de ideias e proporcionando o ambiente adequado para o desenvolvimento delas. Neste trabalho a Acafe é uma das parceiras desde o início.
Essa abordagem valoriza a pluralidade de ideias e incentiva a troca de conhecimento. Além disso, a Fapesc e as universidades têm desempenhado um papel importante no desenvolvimento de regiões consideradas desassistidas, promovendo soluções e potencializando o crescimento econômico. “O objetivo é impulsionar o desenvolvimento em todas as regiões do estado, por meio de uma maior proximidade com as comunidades, universidades e iniciativas privadas, criando espaços para o crescimento e a troca de ideias”, explica o presidente da Fapesc.
Universidades comunitárias e Acafe impulsionam formação de profissionais e empreendedores
Para o vice-presidente da Talentos da Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE), Moacir Marafon, é visível o papel desempenhado pelas universidades comunitárias e Acafe na formação de profissionais e empreendedores para o setor de tecnologia em Santa Catarina.
A Acate, com mais de três décadas de existência, é reconhecida pelo pioneirismo e pelo desenvolvimento do ecossistema de inovação e empreendedorismo no Estado. Foi responsável por implantar a segunda incubadora de startups da história no país, eleita por diversas vezes a melhor do Brasil e uma das quatro melhores no mundo.
“A união entre as universidades comunitárias, a Acafe, a Acate e os players de formação contribui para o fortalecimento do setor de tecnologia em Santa Catarina”, Moacir Marafon – Foto: Acate/Divulgação
A associação gerencia todos os Centros de Inovação do estado, proporcionando um ambiente propício para a colaboração e interação entre as empresas, e contribuindo para posicionar Santa Catarina como o sexto polo tecnológico do Brasil – em um Estado que responde por menos de 3% da população nacional.
O setor de tecnologia da informação tem apresentado uma demanda significativamente maior por profissionais do que a oferta, mesmo em um contexto de desaceleração econômica marcado pela pandemia. Nos últimos dois anos, o setor contratou mais de 200 mil trabalhadores, sendo 17 mil deles em Santa Catarina.
Nesse sentido, a tecnologia e a inovação têm sido essenciais na criação de soluções e no desenvolvimento de negócios. As universidades comunitárias catarinenses desempenham um papel fundamental, pois formam profissionais preparados e empreendedores, que impulsionam o crescimento econômico, a geração de empregos e a inovação.
Em parceria com a Acate, as universidades comunitárias e a Acafe têm contribuído para o sucesso do setor de tecnologia em Santa Catarina. Do total de 77 mil a 80 mil profissionais formados atuando no setor de tecnologia no estado, aproximadamente 26% desses profissionais se tornam empreendedores.
A Acate, com sede em Florianópolis, é referência e pioneira no desenvolvimento do ecossistema de inovação e empreendedorismo no país – Foto: Acate/Divulgação
Esse fato tem um impacto significativo na cadeia produtiva, gerando mais negócios, empregos e desenvolvimento econômico, além de estimular a inovação. A colaboração entre as universidades comunitárias e a Acate impulsiona esse crescimento exponencial.
Santa Catarina se destaca como um Estado singular, com uma economia distribuída em diferentes regiões e verticais específicas. Essa diversidade gera uma demanda por desenvolvimento tecnológico, e os centros de informação desempenham um papel essencial na vanguarda desse processo. “A união entre as universidades comunitárias, a Acafe, a Acate e os players de formação contribui para o fortalecimento do setor de tecnologia em Santa Catarina, impulsionando o crescimento econômico e a inovação em todas as regiões do estado”, explica Marafon.
Fonte: ND+