Uma conversa com o fundador da Associação Centro América de Karatê Shotokan, Sensei José Humberto de Souza, responsável por uma das principais academias de Karatê do Brasil. Nessa entrevista, vamos saber mais da história do Karatê-Dô, do quanto essa arte marcial vai além de uma defesa pessoal e das lutas tão famosas nos clássicos de cinema.
“Karatê-Dô foi desenvolvido pelo mestre Gichin Funakoshi, na Ilha de Okinawa.”
“Eu comecei a praticar em 1970, justamente, para eu melhorar. Porque eu brigava muito… e na realidade, foi muito educativo para mim, pois eu nunca mais briguei.”
“É uma coisa muito profunda, sabe? Eu sou muito grato. Sou engenheiro civil e vim para Cuiabá. Sempre estudei em escola pública. Não sou inteligente, sou esforçado. O karatê me deu essa raça, esse espírito. Eu tenho foco, eu vou conseguir.”
“O que está por trás do Karatê é mais importante.”
O Karatê quando é mencionado em conversa, logo remete aos filmes de Hollywood, aos principais atores que propagam essa arte nas telas do cinema. Contudo, de uma certa forma, vamos conhecer os bastidores dessas produções, o que mais essa modalidade acrescenta na vida de seus admiradores e admiradoras, pois o público feminino faz parte desses apaixonados por karatê. Esse esporte se assemelha a uma filosofia de vida no sentido de buscar a transformação, o autocontrole, disciplina e a melhora como pessoa. Quem nos contou isso e contará mais é o sensei José Humberto de Souza. Além do karatê, o mestre é engenheiro civil, natural de Minas Gerais e passou sua paixão pelo karatê para o seu filho, sensei Rodrigo Souza, que também participou desta entrevista.
Sensei Humberto, poderia nos contar um pouco da história do Karatê-Dô?
O Karatê é uma arte milenar, porém, como ele é praticado hoje é chamado karatê moderno. Foi para ajudar na formação da pessoa, integralmente, ou seja,
pensando no caráter, personalidade, disciplina e todos aqueles predicados importantes, que possam ser trabalhadas nisso. Ele [Karatê] foi desenvolvido pelo mestre Gichin Funakoshi, na Ilha de Okinawa. Ele apresentou para os japoneses e para o imperador japonês em 1922. Então, é muito recente. O imperador já colocou como prioridade nas escolas [como se fosse uma disciplina escolar]. Com isso, houve um crescimento do Karatê no Japão e após a guerra, muitos japoneses foram obrigados a saírem do Japão. Muitos foram para outros países e divulgaram o karatê.
E como o karatê surgiu na sua vida?
Eu comecei a praticar em 1970, justamente, para eu melhorar porque brigava muito de quatro a cinco vezes por semana. Então eu pensei: eu vou fazer uma arte por que eu vou ficar melhor ainda de briga e na realidade, foi muito educativo para mim, pois nunca mais briguei. Parecia que todo mundo já olhava para mim querendo brigar, aí o karatê me educou tremendamente. Não foi só a questão de deixar de brigar.
O senhor disse que o karatê não o ajudou só na defesa pessoal, o que mais ele lhe acrescentou?
Ele melhorou minha concentração, meu relacionamento, a parte interpessoal foi muito trabalhada. O meu raciocínio eu acho que melhorou bastante. Enfim, foi só coisa positiva na minha vida e eu jamais deixei de praticar. O que está por trás do Karatê é mais importante.
Para muitos, o karatê se resume a defesa pessoal, mas da maneira que o senhor falou, percebe-se que há outros aspectos envolvendo essa arte marcial. Quais são?
A autoestima, pois se você confia mais em você, você tem mais poder de enfrentamento dos problemas, ou seja, problemas você não vai fugir deles, você vai enfrentá-los. Aí vem a concentração, se você tem melhor concentração, você produz mais no trabalho, na escola. E vem o respeito, se você tem respeito pelas pessoas, você é mais respeitado. Se você acha que não é o maioral e sim, uma parte integrante daquele meio, é a melhor coisa que tem.
Sensei Humberto, a forma que o senhor fala se assemelha a uma filosofia de vida, digamos assim. Isso faz sentido?
Por isso o karatê tem essa palavra: “Dô”, que significa caminho. Esse “caminho” aqui para nós no Brasil, ou seja, vou generalizar para ocidentais, não é nada. Caminho das Mão Vazias, literalmente. Mas esse caminho é a parte filosófica do karatê, que dá essa condição da formação do caráter, da personalidade e atua 100% na formação. As mãos vazias no sentido de não usar armas, porque o karatê é justamente usar pernas, mãos e o corpo.
Sensei Rodrigo Souza, é filho do também sensei Humberto e começou a treinar aos dois anos de idade e há 24 anos é professor de karatê(sensei). Além de ser mestre, ele é administrador de empresas, também participou de campeonatos de karatê e ministra aulas até para alunos dos Emirados Árabes Unidos.
Sensei Rodrigo Souza, que outra definição o senhor daria para “mãos vazias”?
Outro detalhe filosófico das “mãos vazias” é entrar com sua mente limpa. “As mãos” no sentido de você estar totalmente vazio. Esvaziar de problemas. Esvaziar de outras coisas que atrapalham lá fora. Então seria você chegar no treino e quando você fizer a saudação, é sentar e concentração e só se preocupar com a respiração. É justamente você se isolar e chegar no dojô, que é a área de treinamento, se concentra no karatê e esquece as outras coisas… Você chega de um jeito e saí diferente. Essa é a intenção nossa quando faz o karatê. Você não pode entrar e sair do mesmo jeito.
Sensei Rodrigo, e como o karatê surgiu na sua vida.
Eu brinco que o meu pai sempre dizia: “Se quiser”, mas se quiser comer, se quiser… risos. Mas eu admirava o trabalho dele e gostava do karatê.
Sensei Humberto, há quanto tempo o senhor é mestre?
Dou aula há mais de 50 anos e já formei 25 mil pessoas.
O que o senhor pode dizer sobre a mudança de seus alunos após o karatê?
O que eles vêm agradecer é pela melhora na concentração. Porque quando você está fazendo karatê, você só pensa no karatê. Temos alguns que passaram em
primeiro lugar em odontologia e engenharia na federal [UFMT]. Porque melhoraram a concentração. A gente tem muitos e muitos exemplos de sucesso na vida.
Sensei Rodrigo, o que o senhor poderia falar sobre os treinamentos?
As atividades do karatê te levam a focar mais e mais em você e têm várias modalidades. Boa parte do treino é você sozinho aplicando as técnicas. Seja de demonstração de luta imaginária que é o “kata”, que você imagina adversários de várias direções.
E quanto aos projetos sociais criados pela academia Shotokan?
Tem o Musikan, que é o karatê com música. Projeto Menor aprendiz para ser professor de karatê: “Ensinando para ensinar” etc.
Quais são os critérios para se inscrever?
Prioriza criança e adolescente de 6 a 16 anos, ter renda de até dois salários mínimos e estudar em escolas públicas.
E as meninas, elas aderiram ao karatê?
O projeto social é composto por 80% de meninas.
Associação Centro América de Karatê Shotokan tem mais de 42 anos de história e é referência internacional. A academia está localizada na rua: Antônio Maria Coelho,649- Centro, Cuiabá-MT.
Esporte maravilhoso que sob a batuta do Sensei Humberto difundiu esta prática por nossa Capital e Estado, levando o nome de Mato Grosso aos mais altos patamares. Muita disciplina e concentração são aplicadas. O karateca leva os ensinamentos e conceitos para toda sua vida pessoal e profissional. Parabéns ao idealizador Sensei Humberto e toda equipe Shotokan.
bom