O Programa Centelha tem cumprido um papel estratégico no fortalecimento do ecossistema de inovação em Mato Grosso. Criado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) em parceria com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), o programa oferece recursos financeiros, capacitações técnicas e conexões estratégicas para transformar ideias inovadoras em negócios reais.
Na primeira edição do Centelha em Mato Grosso, realizada entre 2019 e 2021, 26 startups foram apoiadas com um investimento total de R$ 1,62 milhão. Uma pesquisa recente com os participantes revelou que 66,7% dessas empresas ainda estão ativas, demonstrando uma taxa de sobrevivência relevante diante do alto risco que envolve negócios em estágio inicial.
Entre os principais benefícios apontados pelos empreendedores estão o acesso a recursos financeiros, unanimemente citado como fator determinante para a viabilização dos projetos, além da capacitação, networking e visibilidade. A satisfação média com o programa foi de 8,72 (em uma escala de 0 a 10), enquanto a importância do Centelha foi avaliada com nota média de 4,69 (em uma escala de 1 a 5), sendo que dois terços atribuíram nota máxima.
Apesar dos resultados positivos, o relatório destaca desafios enfrentados ao longo do processo, como a burocracia, a complexidade da prestação de contas e a falta de clareza em algumas orientações operacionais. Esses pontos são indicados como oportunidades de aprimoramento para futuras edições.
Outro dado relevante diz respeito aos obstáculos enfrentados pelas startups após o período de apoio, como a dificuldade de escalar os negócios, captar novos investimentos e superar limitações geográficas e estruturais, especialmente fora dos grandes centros. A análise também revelou que a principal causa de encerramento das startups foi a falta de alinhamento e envolvimento entre os sócios.
O levantamento mostra que apenas uma parte das empresas conseguiu atingir estágios mais avançados de maturidade, com 35,7% tendo lançado seus produtos no mercado, mas nenhuma ainda em escala consolidada. Mesmo assim, metade das startups ativas relatou ter recebido novas subvenções, e 37,5% captaram investimento-anjo.
Segundo os dados, fatores como a dedicação dos fundadores, a capacidade de adaptação e a formação de redes de apoio são apontados como essenciais para a continuidade dos empreendimentos.
O relatório conclui que o Programa Centelha cumpre um papel estratégico como porta de entrada para o empreendedorismo inovador em Mato Grosso. No entanto, reforça a importância de ações complementares e políticas públicas voltadas à consolidação de um ecossistema mais integrado, acessível e descentralizado, capaz de sustentar a evolução das startups após o apoio inicial.
A pesquisa foi realizada por Vinicius Morais Paula, Agente de Inovação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso (Fapemat), por meio de formulário online entre março e abril de 2025, com base nas experiências dos empreendedores participantes da primeira edição do programa no estado. Na primeira edição, Vinicius participou como uma das startups apoiadas.
“O Centelha I foi a primeira experiência da equipe da FAPEMAT no acompanhamento de startups, realizado em parceria com diversas instituições. No Centelha II, já como agente de inovação da FAPEMAT, contribuí para aprimorar a estrutura de apoio, com uma trilha de conteúdos alinhada a cada fase dos projetos. Um dos principais avanços foi a inclusão de mentores dedicados, que acompanharam cada startup do início ao fim com orientações personalizadas”, explica.
Na segunda edição, o Programa Centelha aumentou sua abrangência: foram selecionados 50 projetos. Mais do que o aporte financeiro, os empreendedores destacam o valor estratégico da participação.
“Participar do Centelha II foi trouxe não só acesso a recursos financeiros, mas também visibilidade, rede de conexões estratégicas e a oportunidade de validar nossas ideias num ecossistema de inovação aberta. Isso acelerou nosso aprendizado, abriu portas para novas parcerias e fortaleceu a confiança no potencial das nossas soluções para gerar impacto real. Foi, sem dúvida, uma experiência transformadora”, ressalta Thiago Itacaramby, criador da desenvolvedora de jogos Amazônia Viva Games, comtemplada pelo programa Centelha II.
Para Rafael Silveira fundador e CEO do Pátio Coworking, o Programa Centelha representou um marco tanto pessoal quanto profissional, ao proporcionar estrutura, qualificação e confiança para a transição do regime CLT ao empreendedorismo. Estar entre os 20 melhores projetos de Mato Grosso foi um divisor de águas em sua trajetória.
“Em meio a um cenário de crise, o apoio recebido viabilizou a implementação de quatro unidades de coworking, um estúdio e até uma unidade móvel, reforçando sua convicção de que, no Brasil, ainda é possível empreender com sucesso por meio de ideias bem estruturadas e execução comprometida”.

O Centelha é percebido como uma porta de entrada para o empreendedorismo inovador. Os dados evidenciam que o programa tem sido fundamental para viabilizar projetos inovadores, sobretudo fora dos grandes polos econômicos. Mas também mostram que o impacto total do programa depende de uma estrutura de apoio contínuo: menos burocrática, mais conectada e descentralizada.