Empresas de Elon Musk e Jeff Bezos protagonizam uma das maiores rivalidades da nova corrida espacial, com modelos de negócio opostos, estratégias divergentes e bilhões investidos em inovação

Desde o início dos anos 2000, Elon Musk e Jeff Bezos se enfrentam em uma corrida que vai além do prestígio pessoal: trata-se de moldar o futuro da exploração espacial. A SpaceX, fundada por Musk em 2002, e a Blue Origin, criada por Bezos dois anos antes, adotaram caminhos radicalmente diferentes para alcançar um objetivo comum: tornar as viagens espaciais mais acessíveis e, eventualmente, viabilizar a vida humana fora da Terra.

Enquanto a SpaceX avançou com velocidade e riscos calculados, a Blue Origin optou por um desenvolvimento mais lento e metódico. O resultado? Um abismo na execução, mas uma concorrência que pressiona ambas a inovar sem cessar.

A diferença está no ritmo – e no bolso

A SpaceX rapidamente se tornou protagonista do setor, com marcos significativos: foi a primeira empresa privada a lançar um foguete de combustível líquido ao espaço (Falcon 1, em 2008), a levar carga à Estação Espacial Internacional (2012) e a reutilizar com sucesso partes de seus foguetes, reduzindo custos​​.

Já a Blue Origin só lançou seu primeiro foguete suborbital tripulado, o New Shepard, em 2021 – e levou mais 4 anos até colocar o New Glenn em órbita, feito alcançado em janeiro de 2025​.

O contraste de abordagem também aparece nos investimentos. Bezos já injetou cerca de US$ 14,6 bilhões de sua fortuna pessoal na Blue Origin. Musk, por sua vez, começou com um aporte próprio de US$ 100 milhões e logo buscou parcerias e contratos, especialmente com a Nasa e o Departamento de Defesa dos EUA, o que garantiu capital e credibilidade à SpaceX​.

Contratos públicos, resultados privados

Um dos pontos-chave para a liderança da SpaceX é o volume de contratos governamentais. A empresa de Musk venceu, por exemplo, o contrato de US$ 2,9 bilhões para o módulo lunar Artemis, em 2021. Em 2023, a Blue Origin conseguiu um contrato semelhante, de US$ 3,4 bilhões, também com a Nasa.

No mercado privado, a SpaceX domina com o Starlink – seu serviço de internet via satélite – que responde por 58% da receita total da empresa, estimada em US$ 14,2 bilhões em 2024. A Blue Origin, com receita estimada em US$ 4 bilhões, ainda depende fortemente de contratos institucionais e do turismo espacial com o New Shepard​.

Quando o foguete cai (e o rival decola)

Um episódio simbólico da atual fase da disputa ocorreu em 16 de janeiro de 2025. No mesmo dia, o New Glenn da Blue Origin fez seu voo orbital inaugural com sucesso, enquanto o Starship da SpaceX explodiu após o lançamento. Apesar do tropeço, analistas alertam para leituras simplistas: o Starship ainda é o maior foguete já construído e peça-chave para planos interplanetários da SpaceX, incluindo Marte​.

O incidente, porém, deu fôlego midiático à Blue Origin, que há anos era acusada de prometer mais do que entregar.

As próximas etapas também apontam rumos distintos. A SpaceX foca em missões interplanetárias, com planos ambiciosos para colonizar Marte. Já a Blue Origin aposta na construção de uma infraestrutura espacial sustentável, com destaque para a estação espacial comercial Orbital Reef e o módulo lunar Blue Moon​.

Essa diferença se reflete até no lema de cada empresa. A Blue Origin carrega o mote “gradatim ferociter” – passo a passo, ferozmente. A SpaceX, mais afeita ao Vale do Silício, adota o “falhe rápido e aprenda”.

Legado e liderança: o que está em jogo?

A rivalidade entre Musk e Bezos não é só pessoal. Ela espelha dois modelos de inovação: o incremental, focado em solidez e controle; e o disruptivo, guiado por velocidade e experimentação. Ambos trouxeram avanços inéditos à indústria espacial, antes dominada por orçamentos públicos e burocracias estatais.

Mas, por ora, o placar é claro: com mais lançamentos, maior receita, contratos robustos e presença em múltiplas frentes (como internet via satélite), a SpaceX lidera. A Blue Origin, no entanto, mostrou nos últimos anos que pode surpreender.

Por: Diogo Rodriguez