Empresa investe na startup americana Simplifyber e lidera uma série que levantou US$ 12 milhões; entenda seu plano
A Suzano deu um passo estratégico em sua jornada de inovação. A gigante da celulose no Brasil acaba de anunciar o que considera um modelo sustentável ao liderar a rodada Série A de investimentos da startup americana Simplifyber, que levantou US$ 12 milhões. Criada em 2020, a empresa com sede em Raleigh, na Carolina do Norte, desenvolve tecnologia para moldagem de celulose líquida, criando peças têxteis e componentes industriais com alta performance e foco em sustentabilidade.
A Suzano foi o principal investidor da rodada, que reuniu 10 players de diferentes regiões do mundo, incluindo Europa, Ásia e América do Norte. Segundo Pablo Cadaval Santos, diretor de P&D e Ventures da Suzano, a parceria não se limita ao aporte de capital. A iniciativa é parte da estratégia da companhia para expandir o uso da celulose para além do papel e da embalagem.
“A Simplifyber se encaixa perfeitamente na nossa tese de investimento. É uma empresa com tecnologia inovadora, time qualificado e alinhamento estratégico com nossos objetivos de substituir matérias-primas fósseis. Ao escalar esse modelo, acreditamos que podemos abrir novos mercados para a fibra de eucalipto da Suzano”, afirmou Cadaval à Forbes.
Criada em 2020, a Simplifyber desenvolve uma plataforma de fabricação que transforma celulose moldada em produtos como calçados, peças de vestuário e componentes para automóveis, com o uso reduzido ou zero de plástico. A tecnologia está em fase de pré-piloto e piloto, e deve ganhar escala nos próximos meses.
“Desde o início da empresa, usamos fibras como matéria-prima. A celulose é um material natural, abundante e altamente escalável, o que a torna ideal para substituir o plástico em diversas aplicações”, diz Maria Intscher-Owrang, cofundadora e CEO da Simplifyber. “Estamos construindo um novo paradigma na indústria, com materiais que são realmente sustentáveis, biodegradáveis e com potencial de escala global.”
Intscher-Owrang é uma inovadora da moda. Formada no prestigiado programa Central Saint Martins MA Fashion de Londres, sob a orientação da lendária Louise Wilson OBE, ela se tornou uma referência em design. Em 2006, passou a pesquisar sobre luxo sustentável e ético, análise de tendências, ilustração de moda, design/sourcing têxtil e drapeado. A cadeia global de suprimentos da indústria de vestuário é um negócio da ordem de US$ 1,5 trilhão.
Segundo a CEO da startup, o foco atual da Simplifyber está na ampliação da capacidade de produção da tecnologia baseada na celulose. “Estamos construindo, simultaneamente, nossas instalações em escala pré-piloto e piloto. Em breve, poderemos fabricar milhares de unidades por mês e, logo na sequência, escalar para dezenas de milhares”, diz Intscher-Owrang.
A expectativa é que essa capacidade inicial permita à empresa fornecer produtos para grandes marcas já em 2025. “A Suzano está presente em todo esse processo, com um executivo no conselho da startup e acompanhamento técnico contínuo”, diz Cadaval. “A adoção pode começar ainda este ano, devagar e com calma, e vamos atuar ativamente para acelerar a curva de aprendizado da tecnologia.”
O modelo de negócio da Simplifyber é posicionar a startup como fornecedora de tecnologia, e não como fabricante de produto final. “Hoje ainda fabricamos para desenvolver o mercado, mas a ideia é licenciar nossos equipamentos e vender o slurry como insumo. Assim, conseguimos escalar sem depender de uma planta própria em cada local”, diz Intscher-Owrang. “É uma solução pensada para ser global desde o início.” Com isso, a startup espera reduzir barreiras de entrada para parceiros industriais e ampliar a adoção da celulose em larga escala.
O relacionamento entre a Suzano e Simplifyber evoluiu para uma cooperação estratégica. A brasileira hoje passou a integrar o conselho da startup e acompanha de perto o desenvolvimento da tecnologia e o plano de negócios. “Não é um investimento financeiro tradicional. Nossa tese é estratégica: queremos gerar valor com a startup, expandir o mercado da nossa celulose e contribuir com conhecimento técnico e conexões industriais”, diz Cadaval.
A aposta está na substituição de materiais fósseis por fibras vegetais, com impacto direto no posicionamento sustentável da indústria de consumo. “O grande diferencial é que vemos escalabilidade na tecnologia. A maioria das inovações sustentáveis é difícil de escalar ou tem custo muito alto. A Simplifyber tem potencial para ser competitiva em preço, além de sustentável”, afirma ele.
Não por acaso, a América Latina também está no radar da startup para expansão futura. “Queremos localizar a produção no Brasil. Não só por ser a origem da nossa matéria-prima, mas porque o país tem potencial para se tornar um polo industrial dessa nova geração de materiais sustentáveis”, afirma Intscher-Owrang.
A executiva ressalta ainda o valor da fibra de eucalipto produzida no Brasil, com origem em florestas manejadas de forma sustentável e com certificação internacional. “A Suzano é um exemplo de como as empresas devem atuar nessa nova economia baseada em bioinsumos”, diz.
Segundo Paula Puzzi, gerente da Suzano Ventures, frente de investimento em startups da companhia, já foram destinados investimentos a sete empresas, com diferentes focos — de embalagens a biotecnologia. Embora atuem em áreas distintas, as startups compartilham sinergias. Para ela, o papel da Suzano é criar conexões e sinergias. “Algumas têm processos produtivos semelhantes ou materiais complementares. Nosso papel é também promover essa conexão entre startups para acelerar inovações conjuntas”, afirma Puzzi. “Mais do que investidor, somos parceiros ativos no desenvolvimento dessas empresas.”
Embora a Simplifyber não atue diretamente na floresta plantada da Suzano, a origem do insumo agrega valor à solução. Esse equilíbrio é central para todas as iniciativas da Suzano Ventures, diz Cadaval. “A rastreabilidade e o manejo sustentável das florestas são parte do storytelling que queremos levar até o consumidor final”, explica Cadaval. “Mas isso precisa vir junto com preço competitivo. Ninguém quer pagar mais apenas por ser sustentável. E mais. A tecnologia precisa ser ambientalmente responsável, escalável e financeiramente viável. A Simplifyber reúne essas três características.”
Por: Vera Ondei, em Forbes.com.br