Saiba quais são os movimentos deste ano que terão impacto direto sobre as estratégias e o futuro da sua empresa

Em dezembro de 2024, o mundo dos negócios foi invadido por relatórios de tendências por todos os lados. Agentes de inteligência artificial, cibersegurança, eficácia energética, biocomputadores, computação espacial, medicina de precisão: em meio a tantos movimentos inovadores, em que exatamente os líderes precisam prestar atenção?

A reportagem de Época NEGÓCIOS conferiu dezenas de relatórios e conversou com especialistas do Brasil e de fora para chegar a 10 tendências essenciais que nenhum CEO pode ignorar, sob pena de ver sua empresa ser atropelada pela velocidade das transformações. Confira abaixo.

1. IA: a invasão dos agentes

Em 2025, a inteligência artificial generativa deixará de ser considerada hype ou novidade e irá finalmente se integrar às estratégias dos negócios, à rotina de trabalho e à vida das pessoas. “Acredito que estamos começando a atingir um ponto de inflexão”, diz a futurista Amy Webb, CEO do Future Today Institute. “Quando se atinge uma massa crítica de pessoas investindo, usando e entendendo a tecnologia, tudo começa a acelerar.”

Para Henrique Diaz, VP de Seeding & Scale da consultoria Box1824, o ano de 2024 serviu para “colocar o pé na piscina”. “Todos foram experimentando de leve, entendendo como funcionava. Em 2025, o uso da tecnologia começa a se sofisticar e ela é absorvida em todas as indústrias.” Cresce também o uso de Agentes de IA, ferramentas autônomas capazes de tomar decisões com supervisão humana mínima. “Os investimentos feitos em IA agêntica podem mudar a maneira como trabalhamos e vivemos ao armar consumidores e empresas com exércitos de assistentes baseados em silício”, diz o relatório Tech Trends 2025, da Deloitte.

2. A biotecnologia e a fusão homem-máquina

Citada por 10 em cada 10 relatórios de tendências, a biotecnologia deve provocar uma revolução tão profunda quanto a IA, embora mais silenciosa, dizem os especialistas. Na verdade, é a própria inteligência artificial que vai colaborar para que as ciências da vida alcancem patamares nunca vistos, seja na criação de novos remédios, seja no desenvolvimento de novos “seres”, reunindo o melhor das máquinas e o melhor do ser humano.

Amy Webb chama essa nova realidade de “inteligência viva”. “A IA está facilitando a simulação de combinações para a descoberta de novos medicamentos que um dia poderão tratar o câncer e outras doenças. Por outro lado, há cientistas tentando unir o poder do cérebro à capacidade de processamento dos chips, criando seres híbridos, os biocomputadores. Claro que as empresas não precisam entrar nesse campo ainda experimental. Mas devem, sim, adotar uma postura ativa de observadores, para entender como podem interagir ou se beneficiar com essas transformações.

3. O império das criptomoedas e o Drex

Embora as criptomoedas ainda estejam voláteis e sujeitas a riscos, os principais acontecimentos do final de 2024 dão a entender que o inverno das moedas digitais ficou bem para trás e o que se inicia agora é uma nova era, diz Amy Webb em seu relatório de tendências para 2025. A subida meteórica do valor do bitcoin – que chegou a US$ 108 em dezembro – foi, é certo, consequência direta da eleição de Donald Trump, que prometeu reduzir as regras para utilização das criptomoedas no país. Mas a recente declaração do presidente eleito, de que pretende criar uma reserva estratégica da moeda, tem tudo para manter os preços lá em cima.

No Brasil, as moedas digitais ganharão outro tipo de impulso, com a provável adoção do Drex no segundo semestre do ano. Um fator que deve aumentar ainda mais a confiança do público em geral nas moedas digitais é o lançamento oficial do Drex, que deve acontecer no segundo semestre. Mais que uma moeda, trata-se de uma infraestrutura blockchain que vai mudar o funcionamento do sistema financeiro no país. “Quando o Banco Central e o CVM regulamentam uma infraestrutura desse tipo, isso faz com que as pessoas vejam todo o mercado de ativos digitais de outra forma”, diz o Reinaldo Rabelo, CEO do Mercado Bitcoin. E talvez seja essa a verdadeira revolução.

4. O poder da computação espacial

Em 2025, a computação espacial irá oferecer novas maneiras de contextualizar dados empresariais, envolver clientes e trabalhadores e interagir com sistemas digitais, prevê a Deloitte em seu relatório de tendências. A tecnologia, que combina de maneira mais harmoniosa o físico e o digital, será capaz de criar um ecossistema imersivo no qual humanos e máquinas convivam sem atrito.

Se os óculos de realidade virtual são a primeira coisa que vem à mente quando você pensa em computação espacial, você não está sozinho. Mas a computação espacial vai muito além, envolvendo sensores, drones, equipamentos capazes de criar dados tridimensionais para replicar operações reais – como acontece nos gêmeos digitais. As aplicações da computação espacial são tão diversas quanto transformadoras, podendo impactar setores como assistência médica, manufatura, logística e entretenimento.

5. A revolução quântica, finalmente?

A futurista Amy Webb acredita que 2025 pode ser um ponto de virada para a computação quântica. São vários fatores convergentes. “Em primeiro lugar, os avanços nas técnicas de correção de erros estão tornando os computadores quânticos mais estáveis e confiáveis, abrindo caminho para aplicações práticas”, diz Amy.

Em segundo lugar, empresas como a IBM estão trabalhando ativamente para aumentar o número de qubits em seus processadores quânticos, permitindo cálculos mais complexos – o objetivo ambicioso da empresa é criar um processador de 4.000 qubits em 2025. Por fim, o aumento do investimento dos setores público e privado está acelerando a pesquisa e o desenvolvimento na área. Em 2024, o Congresso dos EUA alocou US$ 968 milhões para a National Quantum Initiative (“NQI”), que abrange a pesquisa quântica na NASA e no Departamento de Energia, entre outros.

6. Big techs investem (mais) em energia nuclear

A conta não fecha. Os algoritmos complexos e os conjuntos de dados maciços da IA exigem muito poder computacional e, em poucos anos, eles excederão a capacidade de produção dos atuais fornecedores de energia. Ao mesmo tempo, é imperativo para o planeta reduzir as emissões de gases de efeito estufa geradas pelos combustíveis fósseis. A solução, claro, é buscar energias renováveis, mas as empresas não acreditam que estas sejam capazes de suprir suas necessidades.

Resultado: gigantes como Microsoft, Google e Amazon decidiram investir em mini-usinas nucleares, conhecidas como Small Modular Reactors (SMRs). Segundo elas, a mini-usinas oferecem uma alternativa mais “escalável e flexível” às usinas nucleares tradicionais. Há quem acredite que se trata de uma boa medida. “Essa é uma opinião bem controversa, mas acredito que é uma boa solução, pois a energia nuclear é limpa”, diz Amy Webb. Mas a solução causa controvérsia, já que o combustível usado nas usinas nucleares permanece radioativo por milhares de anos e precisa ser armazenado em containers, acima ou embaixo da Terra.

7. A era do burnout digital

Os primeiros sinais já apareceram, especialmente no comportamento da Geração Z. São esses jovens que têm levantado a bandeira de que é preciso se desconectar, parar de seguir influenciadores e celebridades, ignorar a maneira como as marcas invadem suas vidas e simplesmente ir passear no parque. É o movimento conhecido como JOMO (joy of missing out), em contraposição à expressão FOMO (fear of missing out). A primeira seria algo como “alegria de perder a última moda”, enquanto o segundo seria “medo de perder a última moda”.

“As pessoas nunca estiveram tão conectadas”, diz Henrique Diaz, da Box 1824. “E com isso vem um overload, uma sobrecarga, uma fadiga. Na consultoria a gente tem chamado isso de burnout digital”, afirma. Na sua visão, esse é só o início de um movimento que deve encontrar seu auge na próxima geração, a Alpha. “Essa geração já vai entrar no mundo digital com um senso de equilíbrio mais aguçado, e vai tentar o mundo das telas e o mundo fora delas com um certo equilíbrio.”

8. A nova realidade da “inteligência viva”

A IA é apenas uma das três tecnologias inovadoras que estão mudando o cenário dos negócios. As outras duas – sensores avançados e biotecnologia – são menos visíveis, mas não menos importantes. Ambas estão avançando discretamente e, juntamente com a IA, sua convergência sustenta uma nova realidade que moldará as decisões futuras de todos os líderes de todos os setores. Amy Webb chama essa nova realidade de “living intelligence” (ou “inteligência viva”), que cria sistemas que podem sentir, aprender, adaptar-se e evoluir. Essa intersecção de tecnologias impulsionará um novo ciclo de inovação, desestabilizando setores e criando mercados

9. Eventos climáticos como motor para a inovação

Um dos efeitos das tragédias climáticas de 2024 será o aumento de investimentos em inovação no setor. Aportes que vinham sendo adiados, por causa dos custos e da demora so retorno, serão finalmente concretizados, e as beneficiadas serão as cleantechs com soluções rápidas e eficientes contra o colapso do clima e a favor de infraestruturas e cidades mais resilientes. Uma nova pesquisa do MIT prova que é possível implantar sistemas de dessalinização alimentados por energia solar que não exigem baterias extras: este é um exemplo de tecnologia a ser explorado. Outras áreas de desenvolvimento que podem ganhar tração são os sensores de emergência para florestas e micróbios projetados que ajudam a reduzir as emissões de carbono.

10. Big techs no poder

Elon Musk (Tesla, SpaceX e X) não será o único a investir na política em 2025, embora sua posição neste momento seja a mais privilegiada. Como uma espécie de “consultor” do presidente eleito Donald Trump e um dos futuros diretores do DOGE – Departamento de Eficiência Governamental, que terá como objetivo revisar processos internos e reduzir gastos públicos -, ele já mostrou que tem força até mesmo para influenciar uma votação no Congresso. Impossível saber quais serão os desdobramentos dessa aliança, afirma relatório do CB Insights. Difícil também prever até que ponto outros empresários da tecnologia, como Mark Zuckerberg (Meta) e Jeff Bezos (Amazon, Blue Origin), conseguirão pegar carona nessa nova tendência de aliar iniciativa privada e poder público. As fartas doações desses dois empresários para a posse do novo presidente mostra, porém, que eles estão dispostos a tentar.

Por Marisa Adán Gil