Podemos pensar que, num mundo altamente conectado digitalmente, o principal recurso é a tecnologia. Mas me permita falar da essencial ferramenta que permitirá sempre a evolução de nossa sociedade: as pessoas. Não no sentido individualizado, mas nas conexões que estabelecem umas com as outras. 

Nascemos e já estabelecemos conexões com o ambiente onde estamos e, ao longo da vida, criamos novos vínculos: em nosso trabalho, amizades e interesses variados. Naturalmente, esses vínculos se fortalecem, num processo de retroalimentação. Assim, o fortalecimento dessas conexões permite que nossas ideias ganhem substância.

Se deixamos nossos vínculos fracos, entramos num processo repetitivo, não ampliamos o fluxo de retorno e passamos a depender só de nós mesmos; como somos limitados, nos enfraquecemos, pois o novo vem do saber dos outros, das experiências, suprindo as carências que possuímos.

Nosso pensamento cria aquilo que queremos e as conexões nos ajudam a dar materialidade ao que era apenas potencial em nossa mente. É o processo de adensamento do possível para o real, o plasma cultural. O conjunto está sempre em movimento e precisamos dele para termos mais densidade em nossas ações. Ninguém vive sozinho. A riqueza do contato com pessoas com habilidades diferentes nos permite aprender muito além de onde chegaríamos sozinhos.

A tecnologia, presente em todas essas conexões, é uma aliada e um suporte, não o objetivo final. A facilidade e eficiência que trazem são tão integradas ao nosso dia a dia que se ficarmos alguns instantes sem internet, é quase uma catástrofe mundial. As pessoas mal conseguem trabalhar, lojas podem ficar inviabilizadas de vender. Essas tecnologias se tornam quase invisíveis, tal como eletricidade ou água encanada, cuja falta momentânea gera inquietação.  Alguns minutos de indisponibilidade causam a comoção do absurdo e esquecemos que de 525.600 minutos de um ano, ficar sem um serviço por 120 minutos, por exemplo, é aproximadamente 0,02% do tempo. É tão crítico que deveríamos propor uma nova categoria na hierarquia de necessidades de Maslow (Pirâmide de Maslow), adicionando abaixo das necessidades fisiológicas, a categoria Tecnologia (wifi, bateria, internet, aplicativos etc). Quem não sente o pavor de apenas um tracinho no sinal wifi ou do arrebatador sinal da bateria ficando sem carga?

Entretanto, essa dependência da tecnologia não deve obscurecer o fato de que a aprendizagem e a evolução mais significativas ocorrem no movimento fluido e constante entre a comunicação do grupo e a individual, entre a colaboração com pessoas motivadas e o diálogo de cada um consigo mesmo. Nesse contexto, a tecnologia será nossa aliada nesse processo. Como disse o professor do MIT Richard Bookstaber: “Nenhum homem é melhor do que uma máquina. E nenhuma máquina é melhor do que um homem com uma máquina.”

Chico Xavier já dizia para que ninguém guarde a presunção de elevar-se sem o auxílio dos outros, embora não deva buscar a condição parasitária para a ascensão. Referimo-nos à solidariedade, ao amparo proveitoso, ao concurso edificante. O diálogo pessoal constante e atento mantém os canais abertos para a intuição, para uma percepção mais ampla e acurada, para mapear melhor o que pode ajudar-nos e enriquecermos como pessoas, para iluminar sentidos obscuros, rever crenças inadequadas, superadas, simplistas e poder descartá-las. A colaboração provoca uma contínua adequação das expectativas e intenções, a partir das trocas, contribuições de cada um, que nos servem de espelho para enxergar-nos e, ao mesmo tempo, nos desafiam a ampliar nossa visão, ideias, sentimentos e valores.

Que possamos deixar no real e no potencial o registro do caminho do que achamos que é o melhor. Porque se outras pessoas se somarem a este caminho, teremos sustentabilidade suficiente para a tão desejada modelagem cultural. Do contrário, se cada um pensar apenas em si, a sustentabilidade se enfraquece, e não se molda uma nova forma de pensar.

A administração pública é muito abstrata para quem não a vive plenamente, muito complexa para quem está dentro dela e, ainda assim, essencial para a vida de todos. Servir aos outros é uma regra da natureza e um dos maiores ensinamentos de Jesus. Servir implica tornar-se um agente do progresso. Quem serve vive em paz, pela consciência do dever atendido.

Nós servidores públicos temos uma riqueza em nossas mãos. A capacidade de melhorarmos a vida de muita gente. Mas dilatados recursos nas mãos, a serviço de uma mente sem propósito e impregnada pelo individualismo, constituem tesouros nos braços da insensatez. No final de nossa vida há um posto alfandegário chamado túmulo e seremos questionados sobre o que fizemos com a nossa oportunidade de servir e deixar um legado significativo para a sociedade. 

Sandro Brandão
Sandro Luís Brandão Campos, Mestre em Propriedade Intelectual e Bacharel em Ciências da Computação pela UFMT, atua como Secretário Adjunto de Planejamento e Governo Digital do Estado de MT. Ele possui várias pós-graduações em áreas como E-Business, Gestão Estratégica e Pública, além de certificações em Segurança da Informação e Gerenciamento de Serviços de TI. Com 22 anos de experiência no serviço público, é palestrante e professor, com foco em Transformação Digital e Inovação. Suas ações e pesquisas em Governo Digital renderam premiações nacionais e reconhecimentos internacionais, incluindo o Prêmio Excelência em Governo Digital da ABEP-TIC.