Lucas Bernardino trabalha com inovação há vários anos, construindo sua carreira em negócios, projetos e startups, sempre com uma forte presença de tecnologia. Em 2017, ele iniciou o projeto TEDx em Cuiabá, e o primeiro evento foi realizado em 2018. Desde então, o evento já teve cinco edições e caminha para uma nova no próximo ano, com muitas ideias e conteúdos relevantes em planejamento.
Para ele, falar de inovação e criatividade é uma grande paixão, especialmente no âmbito da inovação corporativa e aberta, áreas nas quais atua diretamente. Seu papel principal é utilizar a inovação para construir negócios e desenvolver novos projetos que possam se tornar produtos e serviços no mercado. Ele vê a inovação como uma atividade que deve estar a serviço da estratégia empresarial, integrando-se ao núcleo das empresas e instituições para atender às expectativas do mercado. Lucas acredita que sua principal contribuição reside nesse olhar estratégico e focado na inovação como parte essencial das operações corporativas.
O 360 News convidou Lucas Bernardino para compartilhar suas perspectivas sobre inovação e criatividade, trazendo sua experiência em projetos, startups e no TEDx Cuiabá. Confira!
360 News: Como o TEDx tem contribuído para disseminar a inovação e o conhecimento na comunidade local de Cuiabá ao longo desses sete anos?
Lucas: O TEDx completou 40 anos este ano, foi fundado em 1984 no Vale do Silício, com o objetivo de trazer palestras e conteúdos sobre tecnologia, entretenimento e design — daí a sigla TED. Naquele contexto, em meio ao boom de inovação e design, a palavra “inovação” ainda não era amplamente difundida. Quando algo novo ou diferente precisava ser desenvolvido, o termo mais comum era “design”. Dizia-se que era necessário um design melhor, um produto com um design aprimorado. Com o tempo, o TED foi ganhando notoriedade e atraindo grandes personalidades de diversas áreas, desde presidentes dos Estados Unidos até figuras como Bill Gates e Brené Brown, todos compartilhando suas ideias no palco do TED. À medida que o evento crescia, percebeu-se a importância de dar voz a outras histórias e de disseminar conhecimento para o maior público possível. Em 2009, surgiu o TEDx, um programa do TED com eventos organizados localmente. Em Mato Grosso, especialmente em Cuiabá, o TEDx tem acontecido há quase sete anos, desde seu primeiro evento em abril de 2018, carregando consigo a essência da inovação presente desde a origem do TED.
360 News: Como a sua experiência como organizador do TEDx influencia na sua abordagem em projetos de inovação e novos negócios?
Lucas: Quando estruturamos o evento, organizamos as palestras, temos muito esse olhar de trazer ainda mais conhecimento sobre nossa comunidade e nossos parceiros, compreendendo como é importante promover discussões profundas que envolvem negócios, tecnologia e inovação. Essas discussões são essenciais, e buscamos trazê-las de várias formas. No último evento, por exemplo, o foco foi saúde mental e bem-estar, com participação de diversas áreas para abordar o tema, não apenas da perspectiva clínica, mas também no contexto de negócios, esportes, marketing e outras áreas importantes para tratar desse assunto.
Quando penso em uma nova edição do TEDx, junto com a equipe, é sempre com esse olhar. Precisamos trazer inovação e tecnologia com um desdobramento que permita aplicá-las a diversas áreas, pois temas como inovação e negócios são transversais e podem ser aplicados em qualquer campo. Dessa forma, criamos um “guarda-chuva”, um pano de fundo que nos permite explorar o tema em diferentes áreas. Embora eu não possa dar spoilers sobre a próxima edição, já estamos com muita coisa encaminhada para apresentar à comunidade em breve.
Quando levo o TEDx às empresas, sei que nosso público em Cuiabá é bastante corporativo, devido às temáticas que abordamos, mas meu objetivo é tornar o evento cada vez mais acessível, um evento para a comunidade, onde qualquer pessoa possa participar. Falar de inovação é sobre tornar acessível esse olhar e essa linguagem, permitindo que todos tenham acesso a isso.
Acredito que qualquer pessoa pode ser criativa, desde que exercite essa habilidade. Há o que chamamos de inteligência cristalizada, algo que se vê no setor público, onde a competência está em fazer bem a mesma coisa repetidamente. Mas também existe a inovação fluida, que se baseia na neuroplasticidade, na capacidade de desenvolver e treinar o cérebro para ser mais criativo, permitindo que faça várias coisas diferentes.
360 News: Como você equilibra a necessidade de inovação com os riscos inerentes ao desenvolvimento de novos projetos?
Lucas: Acredito que ter a inovação como uma aliada estratégica é fundamental. Então, se quero inovar como empresa, mas não alinho nem estabeleço indicadores claros dentro do meu plano de inovação, fica difícil mensurar e perceber o real impacto que a inovação está trazendo para o meu negócio. Isso é especialmente importante em ambientes corporativos e empresas que estão em busca de inovação. Assim, é essencial primeiro entender o que quero fazer em termos de inovação e de que forma ela pode ser aplicada. Se tenho uma estratégia de negócio para o ano, para o biênio ou triênio, como vou alinhar e criar indicadores de inovação que estejam alinhados a essa estratégia?
Outro ponto importante é a parceria, especialmente quando falamos de inovação aberta. Se quero diluir os riscos de empreender, de criar um novo projeto de inovação ou até um novo negócio a partir do meu, a parceria é fundamental. Muitas empresas grandes, como o Bradesco através do Next, criam braços de negócios independentes a partir da empresa-mãe. No entanto, isso não se aplica apenas a grandes empresas; uma empresa pequena que busca inovação para melhorar processos e ganhar produtividade pode também se beneficiar de parcerias. Existem vários parceiros no mercado prontos para ajudar, incluindo universidades, institutos de ciência e tecnologia, e o próprio Senai, que faz um trabalho relevante em nível nacional com seus mais de 60 centros de pesquisa.
Outra maneira de mitigar riscos é captar recursos. Não preciso colocar todo o investimento a partir do próprio capital. Dependendo do tipo de projeto e da área, há muitos recursos disponíveis por meio de fundações de amparo, como a Fapemat no Mato Grosso, ou a Finep. E por que falo tanto de inovação? Porque há muito dinheiro disponível para isso. Em 2023, foram investidos 50 bilhões de dólares em tecnologia no Brasil, colocando o país entre os principais no campo da inovação. O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, por exemplo, destina mais de 66 bilhões de reais, e o Programa Mais Inovação, dentro do projeto de Competitividade Industrial do governo federal, contempla mais de 200 bilhões de reais para investimentos nos próximos anos.
Outro incentivo significativo é o fiscal, como a Lei do Bem, que no ano passado permitiu às empresas arrecadar 36 bilhões em recursos e economizar 7 bilhões em impostos ao aplicá-la em projetos de inovação. E não é só para as grandes empresas; mesmo empresas que não são do Lucro Real, como as do Simples Nacional, podem acessar outros recursos, incluindo financiamentos mais competitivos. Assim, vejo que há muitos caminhos para reduzir custos e impulsionar a inovação.
360 News: Você já pode contar um pouco sobre o que Cuiabá pode esperar do TEDx em 2025?
Lucas: Sobre o TEDx, o que posso compartilhar é que teremos dois eventos no próximo ano, o que significa um crescimento ainda maior. Haverá um evento no primeiro semestre e outro no segundo. Preparem-se para muito impacto e conteúdo de qualidade! Traremos palestras e temas cada vez mais relevantes, que envolverão a comunidade, o mundo dos negócios, o ambiente corporativo e tudo o que compõe essa nova economia.
360 News: Como o Startup Weekend contribui para o desenvolvimento do ecossistema de inovação e empreendedorismo?
Lucas: Assim como o TEDx, ele é um programa global, mas com um foco na educação empreendedora. Esse programa foi criado pela aceleradora Techstars, uma das três maiores aceleradoras de startups do mundo, sediada no Vale do Silício. O objetivo principal do Startup Weekend é apoiar pessoas que desejam empreender e lançar seu primeiro negócio. Ele se popularizou globalmente e já está presente em mais de 150 países. Quando falamos de maratonas de inovação e hackathons, que estão em crescimento, muitos desses eventos se inspiram no modelo do Startup Weekend, o primeiro evento do tipo no mundo, o que influenciou várias outras grandes iniciativas.
O grande propósito do Startup Weekend é ajudar os participantes a entenderem o que significa empreender e viver a experiência de criar um negócio — especialmente uma startup — em apenas 54 horas. O desafio é intenso: em um final de semana, com o apoio de mentores, a ideia deve sair do papel e ganhar forma, passando pela chamada “Jornada do Herói” para que o negócio possa surgir. Foi nesse evento que entrei no mundo da inovação, em 2015, quando ainda era universitário.
Para dar uma ideia de impacto, um dos cases globais de sucesso do Startup Weekend é o Easy Taxi, uma das startups brasileiras mais influentes, que começou em um Startup Weekend no Rio de Janeiro.
Em Cuiabá, tivemos um Startup Weekend por ano de 2015 a 2021, além de alguns outros eventos pelo interior. Contudo, desde 2021 não houve mais edições na capital; apenas algumas em Sinop e outras regiões. Fica então o convite para quem tiver interesse em organizar e fomentar o ecossistema local. Como agentes de inovação, estamos aqui para somar forças e promover o conhecimento sobre inovação e sua aplicação. É fundamental termos mais agentes engajados em criar ações para a comunidade e o ecossistema, envolvendo desde universidades até o setor público e a sociedade, de diversas formas.