Fundadores da fintech Conta Black inovam ao desenvolver produtos e serviços customizados de acordo com as necessidades do público preto e periférico

Resolver o desafio da desbancarização, e consequentemente a exclusão financeira, ambas responsáveis pela desigualdade social, por meio de uma comunidade financeira. Esse foi o propósito que levou Fernanda Ribeiro e o marido Sérgio All a fundarem, no fim de 2017, a Conta Black, fintech que democratiza acesso a serviços financeiros para pessoas negras e periféricas.

Ambos nascidos em periferias de São Paulo, os empreendedores sentiram na própria pele a frustração ao serem desvalorizados pelo mercado financeiro. Mais especificamente Sérgio, ao ter o crédito negado em um banco tradicional, mesmo sendo cliente antigo e tendo movimentado grandes quantias. Viram ali, então, uma oportunidade de negócio e assim nasceu a Conta Black.

Sérgio, atualmente Chairman da fintech, atuou no segmento dos jogos de videogames e ficou à frente da sua agência de comunicação por quase 25 anos, antes de ingressar no mercado financeiro. Já Fernanda, CEO da companhia, trabalhou em empresas multinacionais nas áreas de qualidade, e-commerce, experiência do cliente, treinamento e comunicação interna.

“Entendo que inovamos ao colocar o olhar intencional para o desenvolvimento de produtos e serviços customizados para atender as especificidades do público preto e periférico, que por muitos anos foi visto pelo mercado financeiro como se fosse só mais um. E muitas vezes até marginalizado, ignorado”, afirma Fernanda em entrevista a Época NEGÓCIOS.

Para Sérgio, a tecnologia é só uma haste desse processo. “Nós, como Conta Black, acabamos atingindo outras áreas da inovação, desenvolvendo não só a acessibilidade a serviços financeiros, mas também um veículo de empregabilidade, ao dar a essas pessoas a possibilidade de se capacitarem no mercado financeiro.”

Inclusão econômica e educação financeira

Mais do que oferecer uma conta digital e serviços financeiros como empréstimos, investimentos, planejamento financeiro e cartão virtual, a Conta Black tem uma atuação forte na educação financeira de pessoas de comunidades sub representadas.

Há três anos, a fintech promove, em parceria com o grupo de mulheres pretas Black Swan, o Black Hour, evento que reúne profissionais negros atuantes no mercado financeiro. Focados em criar conexões, os encontros proporcionam oportunidades de negócio e empregabilidade no mundo das finanças.

Agora, a Conta Black anuncia mais uma iniciativa, focada em três pilares: educação financeira, formação profissional e desenvolvimento de cadeias de valor e crédito. Neste mês, a fintech lançou o Instituto Black, visando a capacitação profissional para o mercado financeiro e a oferta de soluções de crédito acessíveis, com foco na inclusão e no desenvolvimento econômico.

Em termos de educação financeira, o instituto oferecerá cursos que vão desde os conceitos básicos até estratégias avançadas, capacitando os indivíduos para alcançar a independência financeira. Na formação profissional, serão disponibilizados programas de certificação reconhecidos a fim de preparar os participantes para o mercado financeiro. Além disso, o Instituto Black promoverá o desenvolvimento de cadeias de valor e crédito, oferecendo soluções acessíveis e fomentando o empreendedorismo para criar novas oportunidades econômicas.

“Com o passar dos anos, entendemos que tínhamos uma voz dentro do ecossistema. E compreendendo essa grande demanda de pessoas pretas querendo se tornar profissionais do mercado financeiro, percebemos que ter essa bandeira do instituto nos permitiria trazer mais aliados à pauta”, diz Sérgio.

Superando desafios

Segundo Fernanda, um dos principais desafios enfrentados por ela e Sérgio na jornada da Conta Black foi ter tocado os dois primeiros anos do negócio, já com clientes ativos, somente no bootstrap, ou seja, com investimento próprio. O primeiro aporte de capital veio em 2019.

“Existem pesquisas que mostram que os fundos de venture capital geralmente optam por investir mais no empreendedor do que no negócio, algo que é mundial. E daí, quando a gente faz o recorte de gênero, as mulheres são as que menos recebem investimento, e no recorte por raça, os negros são os que menos recebem”, diz a CEO.

Sérgio acrescenta que há um celeiro de startups de negócios pretos que precisam ser vistas e apoiadas. “Isso acaba colocando na gente a vontade de, quem sabe no futuro, termos o nosso próprio fundo para investir em negócios pretos. Sonhar não custa nada, né?”, comenta ele. “Se a gente já hackeou o sistema o bastante para estar construindo pontes, caminhos, mostrando que é possível estar na Faria Lima, a probabilidade é que comecemos a ensinar os fundos de venture capital a ter um olhar com menor julgamento”.

Para 2025, a Conta Black pretende voltar o olhar muito mais para o crédito, em como ampliar as ofertas de empréstimo para seus 60 mil clientes. Fernanda e Sérgio também querem disseminar mais programas de educação financeira, firmando novas parcerias que lhes permitam chegar em outras organizações sociais, expandindo o alcance de seus projetos.

Por Fabiana Rolfini