A adoção de novos modelos de trabalho fica evidente ao conferir os perfis detalhados das 85 melhores empresas para trabalhar no Brasil entre 1.000 e 9.999 funcionários
A edição de 2024 do ranking As Melhores Empresas para Trabalhar do Brasil, elaborado pelo Great Place to Work, trouxe duas novidades relacionadas ao formato de trabalho. O estudo mostrou a consolidação do modelo híbrido, que começou a ganhar força durante a crise da covid-19 e no pós-pandemia. O sistema em que os empregados trabalham alguns dias da semana presencialmente e outros em home office foi adotado por 81% das empresas.
“A flexibilidade se tornou um componente forte para apoiar e promover a qualidade de vida, o equilíbrio e a saúde dos funcionários”, afirma Daniela Diniz, diretora de conteúdo e relações institucionais do GPTW. Outra mudança nesse sentido é a redução do número de horas trabalhadas: 30% implantaram a jornada de trabalho reduzida, eliminando apenas algumas horas de trabalho por dia – como a tarde de sexta-feira, por exemplo – ou adotando a semana de quatro dias.
A adoção de diferentes modelos de trabalho fica evidente quando se observa os dados das melhores empresas para trabalhar entre 1.000 e 9.999 funcionários – a maior parte delas adotou os novos formatos no ano que passou. Confira a seguir um perfil aprofundado das 85 companhias vencedoras nessa categoria.
AS VENCEDORAS – GRANDES
Diversidade e benefícios exclusivos
Os ambientes fabris costumam ser cheios de regras rígidas, sem espaço para conversas. A indústria farmacêutica Novo Nordisk busca fugir do estereótipo. O ambiente de trabalho respeita 100% das normas de produção e de segurança, mas o clima entre os 1,6 mil funcionários é de descontração, seguindo a cultura da companhia. No momento do onboarding, o funcionário é recebido por Reinaldo Costa, VP Corporativo da fábrica da Novo Nordisk em Montes Claros (MG). “Eu sempre digo que ele é bem-vindo e que pode ser quem quiser”, afirma Costa. Programas que incentivam os colaboradores a serem autênticos são comuns na Novo Nordisk, e a iniciativa gera resultados. “Em 2019, o censo de diversidade apontou que apenas 2% dos funcionários se declaravam homossexuais. Hoje, são 9%”, diz o executivo. Costa implantou vários grupos para trabalhar temas sensíveis, como diversidade étnico-racial e inclusão de pessoas com deficiência. Benefícios como acesso a médicos, nutricionistas, psicólogos, dentistas, cursos de yoga e meditação, além de um clube exclusivo para os funcionários, ajudam a construir essa cultura. “Não estamos aqui só para produzir insulina, mas para sermos pessoas melhores”, diz Costa.
Incentivo ao aprendizado dos funcionários
José Adalberto Ferrara, presidente da Tokio Marine Seguradora, costuma dizer que a empresa está sempre preocupada em contribuir para o desenvolvimento pessoal e profissional dos “resolvedores”, como denominam os funcionários. “Isso é importante não somente para a realização deles como pessoas, mas também para que a companhia possa usar essa capacidade diversa, criativa e comprometida para atingir seus objetivos”, diz. Aparentemente, a estratégia está funcionando: em 2023, a empresa bateu a marca de R$ 1,4 bilhão de lucro líquido, o melhor resultado da história da Tokio Marine, que está no país há 65 anos. Com o “Tokio com Todos”, programa que engloba iniciativas voltadas à promoção da igualdade e da diversidade, a companhia vem obtendo resultados importantes, como a valorização das mulheres no trabalho: hoje, 55,9% do quadro da seguradora é feminino. Um dos pontos altos do desenvolvimento de carreira é o acesso à educação: a Universidade Corporativa Tokio Saber conta com mais de 150 cursos online, com diferentes focos. Há ainda um subsídio de até 80% do valor do curso escolhido pelo colaborador, que pode ser de idiomas, graduação, pós-graduação ou MBA.
Atenção aos clientes e aos times
O Grupo São Luiz – varejista cearense que inclui 25 lojas, entre unidades do Mercadinho e do Mercadão São Luiz – sempre se orgulhou de ser uma empresa familiar. Há quase cem anos, mantém uma cultura focada na valorização dos funcionários. “Ao longo do tempo, essa cultura foi sendo lapidada”, diz Severino Ramalho Neto, CEO da companhia entre 2008 e abril deste ano, quando foi substituído pelo irmão Luiz Fernando Ramalho. Fazer parte do ranking do GPTW em anos anteriores ajudou. “Muitas vezes, as avaliações dos funcionários revelaram questões nas quais precisávamos trabalhar”, afirma. Em 2023, o grupo chegou ao posto de melhor empresa de varejo para trabalhar. Segundo Neto, o prêmio só reforçou o que praticavam no dia a dia. “Pagamos os melhores salários do mercado, e o funcionário enxerga que pode crescer, como aconteceu com 95% das lideranças aqui”, diz o executivo. Neto destaca que, nas avaliações feitas nas lojas, além de checar se os clientes estão satisfeitos, observam também os funcionários. “Temos os mesmos cuidados com clientes e equipe. Não existe uma coisa sem a outra”, afirma.
Por Mônica Kato e Mauro Silveira