No início do século 19, inovadores na Europa e Estados Unidos começaram a explorar o conceito de um veículo movido a bateria e criaram alguns dos primeiros carros elétricos de pequena escala
Está cada vez mais comum ver em estacionamentos de shoppings, supermercados, escritórios e até condomínios pontos para recarregar carros elétricos. E não é para menos: a popularidade destes modelos está crescendo no Brasil. Segundo a ABVE (Associação Brasileira de Veículos Elétricos), em julho deste ano, a venda de veículos eletrificados leves ultrapassou o total de 2023, com emplacamento de mais de 94 mil veículos.
Para chegar até este ponto, porém, os carros elétricos percorreram um longo caminho. Não é possível dizer exatamente quem foi o inventor deste modelo — afinal, foi preciso uma série de avanços que não se limitam a uma pessoa só.
Segundo o Departamento de Energia dos EUA (DOE), no início do século 19, inovadores na Europa e Estados Unidos começaram a explorar o conceito de um veículo movido a bateria e criaram alguns dos primeiros carros elétricos de pequena escala.
Robert Anderson, um inventor britânico, desenvolveu o primeiro carro elétrico bruto com baterias não recarregáveis, mas que tinha uma viabilidade limitada. Na segunda metade do século 19, outros inventores se arriscaram na construção de modelos práticos.
Em 1859, por exemplo, o francês Gaston Planté inventou a bateria de chumbo-ácido recarregável, permitindo a criação de veículos elétricos mais práticos. Já o inventor alemão Andreas Flocken construiu o primeiro veículo elétrico moderno, chamado “Flocken Elektrowagen”, que se assemelha ao que consideramos hoje como um carro elétrico.
Nos EUA, o primeiro carro elétrico bem-sucedido fez sua estreia por volta de 1890, segundo o DEO, com o químico William Morrison. Seu veículo para seis passageiros, capaz de atingir uma velocidade máxima de aproximadamente 23 km/h, era pouco mais que um vagão eletrificado, mas ajudou a despertar o interesse em veículos elétricos.
Nos anos seguintes, veículos elétricos de diferentes montadoras começaram a aparecer. A cidade de Nova York, por exemplo, tinha até uma frota de mais de 60 táxis elétricos. Em 1900, os carros elétricos estavam no auge, respondendo por cerca de um terço de todos os veículos nas ruas.
Durante os 10 anos seguintes, eles continuaram a mostrar vendas fortes. Mas à medida que os veículos elétricos chegavam ao mercado, também chegava um novo tipo de veículo: o carro movido à combustão. E não demorou muito para que eles começassem a dominar o cenário.
“Houve uma maior prioridade na evolução destes motores à combustão, até porque eles poderiam se utilizar do petróleo, e o petróleo naquela oportunidade era barato. De uma forma geral, os países estavam evoluindo na extração de tal forma a dar sustentação a essa motorização à combustão”, diz Antônio Jorge Martins, professor de MBAs da FGV (Fundação Getulio Vargas).
Evolução dos veículos elétricos teve pausa e retomada com a China
Com o avanço dos carros à gasolina, as empresas deixaram de apostar nos veículos elétricos para focar nos modelos à combustão.
“Alguns fabricantes se fortaleceram com os motores à combustão, todos eles no século 20. Surgiram fabricantes americanos, europeus, coreanos e japoneses. Eu diria que foi o leque de fabricantes que, de uma forma geral, fortaleceu o setor automotivo no mundo com a motorização à combustão”, diz o professor.
“Ficamos o final do século 19 e todo o século 20 voltados à motorização à combustão, que são os motores mais tradicionais hoje em dia”, afirma.
Durante esse processo, a China estabeleceu o setor automotivo como uma de suas prioridades e passou a investir em pesquisa e desenvolvimento. Porém, segundo Martins, o país asiático enxergou a possibilidade de, em vez de priorizar o motor à combustão, caminhar para a motorização elétrica.
“Isso fez com que realmente os chineses despertassem para algo que já tinha sido utilizado no passado muito longevo”, diz. “E que, de uma forma geral, fazia com que eles, China, deixassem de emitir CO₂ num montante tão grande que vinham emitindo nos últimos anos.”
Foi com incentivos à população e à criação de empresas que surgiram montadoras chinesas como BYD, GWM e Neta, por exemplo. Mas não só. Neste cenário também apareceu a Tesla, do bilionário Elon Musk, que conseguiu entrar no mercado chinês, com uma fábrica no país, e optou por ir além do carro elétrico e apostar também nos veículos autônomos.
“Hoje as empresas europeias — Volkswagen, BMW, Mercedes, Renault, Stellantis — estão sofrendo, porque estão enfrentando concorrentes que se utilizam de um profissionalismo muito grande para entrar com preços reduzidos e carros muito bons, recheados de tecnologia, que é o que, hoje, a sociedade gosta”.
Futuro dos carros elétricos
A aposta dos carros elétricos vem pelas suas melhorias, como redução na poluição, emitindo menos gases de efeito estufa e ajudando a combater as mudanças climáticas, menor dependência de combustíveis fósseis, fazendo uso de fontes renováveis de energia, e trazendo inovações tecnológicas, com avanços em baterias e direção autônoma, por exemplo.
Mas, apesar de ser uma invenção lá do século 19, os carros elétricos continuam em constante evolução e ainda têm questões que precisam ser discutidas, como a extração de materiais para baterias, que pode ser prejudicial ao meio ambiente; concorrência com novos combustíveis, como o hidrogênio; e problemas com o desempenho das baterias, que pode ser entrave para novos consumidores, além do custo de produção, que é alto.
Para Martins, não existe garantia de que o carro elétrico vá prevalecer no futuro, mas, segundo ele, há uma grande possibilidade, já que há um esforço grande em pesquisa e desenvolvimento deste modelo.
Por Thâmara Kaoru