s corredores da reunião técnica do grupo de trabalho de pesquisa e inovação do G20 são periodicamente inundados com o aroma do café do cerrado mineiro. O produto servido durante os intervalos atende ao nome de ‘Porandu’, termo tupi que significa pesquisa, resultado de ciência, tecnologia e inovação para elevar o café de commodity para um produto especial.

O trabalho que se iniciou em 2019 no aperfeiçoamento do processamento dos grãos conta com investimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e de agências estaduais de fomento. Além de buscar aumentar a qualidade do produto, o projeto se dedica a implementar processos que sejam sustentáveis economicamente e ambientalmente.

O grupo multidisciplinar utiliza várias abordagens científicas para a obtenção da melhor rota de produção do café. Entre as técnicas e tecnologias estão a indução de fermentação controlada no café, utilização de internet das coisas para o monitoramento em tempo real das condições dos processos de fermentação e secagem, inteligência artificial para determinar a proporção de frutos verdes e maduros e seu impacto na qualidade. Além disso, é empregado o sequenciamento de DNA para definir as espécies microbiológicas responsáveis pelos melhores resultados sensoriais após a fermentação.

“Tudo isso aplicado diretamente às operações de pós-colheita, promoveram um aumento significativo na qualidade do café produzido no cerrado mineiro”, explica o professor da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Thomás Valente de Oliveira, e um dos coordenadores do Grupo de pesquisa “Da Semente à Xícara”.

O projeto também adotou técnicas que reduzem o consumo de água e energia nas operações, práticas que promovem a saúde do solo e, mais recentemente, reaproveitamento dos resíduos da operação. O principal resultado é agregação de valor ao produto e a otimização das operações de pós-colheita. “O produtor aumenta o valor recebido no momento da comercialização de seu café e economiza recursos por meio de operações otimizadas”, afirma Oliveira.

Segundo o pesquisador, a saca de 60kg do café comum é comercializada com valor em torno de R$1,5 mil enquanto o café especial padrão Porandu é vendido à R$ 2 mil a saca. Atualmente, as fazendas envolvidas no projeto totalizam cerca de 4 mil hectares de café plantado. O projeto não dispõe de dados sobre o número de famílias envolvidas. “Entendemos que não apenas as famílias dos produtores ganham neste processo, mas todos os atores envolvidos nas diferentes etapas de produção, pós-colheita e comercialização”.

As técnicas e tecnologias empregas foram transferidas para as fazendas produtoras e podem ser aplicadas no beneficiamento do grão em outras regiões do país. Contudo, é preciso observar as peculiaridades regionais. “Cada região possui características de clima, solo e microbiota natural diferentes. A rota de fermentação deverá ser estudada para se obter o melhor produto possível”, destaca.

Impactos da mudança do clima – De acordo com dados disponíveis na Quarta Comunicação Nacional do Brasil à Convenção do Clima, estudos de impactos climáticos indicam que a produção agrícola brasileira será afetada, reduzindo a produtividade. Com base em cenários da mudança do clima, a projeção para 2050 é de redução de 21,5% da produtividade de café.

Na avaliação do pesquisador, as diferentes tecnologias aplicadas aos processos pós-colheita podem ajudar o produtor frente às mudanças climáticas. “Auxilia a otimizar as operações diárias, reduzindo custos e evitando condições de operação que afetariam a qualidade do produto negativamente, e permite agregar valor e aumentar sua renda, mesmo em lotes menores”, afirma Oliveira.Foto: Alex Pazuello – Secom AM