As comunidades de inovação se desenvolvem nos municípios à medida que agentes locais se unem em prol do crescimento e avanço coletivo. Em Barra do Garças, localizada a cerca de 520 km de Cuiabá, esse processo seguiu o mesmo caminho. O município se destaca como um polo universitário, abrigando instituições como a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), o Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT), além de universidades privadas como UNIVAR e UniCathedral, e a Escola Técnica Estadual.
As primeiras iniciativas para formar uma comunidade de inovação surgiram em 2019, com a atuação de agentes do Sebrae. Naquele ano ocorreu o Startup Weekend Barra do Garças, o primeiro evento voltado à inovação na cidade.
Durante a pandemia, a comunidade ficou sem uma liderança definida, diante deste cenário uma mobilização importante aconteceu, o Edital Centelha 2, programa de subvenção econômica e apoio a inovação do Ministério de Ciência e Tecnologia, executado no Mato Grosso pela Fapemat. Márcio Chagas, que era agente de inovação da Fapemat, se conectou a Bruno Menezes, então empreendedor no ramo de tecnologia. A divulgação do programa Centelha possibilitou uma importante conexão com o Sebrae por meio de João Batista, retomando os projetos do ecossistema de inovação que haviam se perdido no período pandêmico.
Em 2021, a comunidade de inovação local já havia sido organizada sob o nome Roncador Valley, em referência à Serra do Roncador, que começa em Barra do Garças e se estende até o Pará, sendo cercada por importantes rios da região, como o Xingu, Kuluene, Araguaia e o Rio das Mortes. Naquele momento, a comunidade se organizava principalmente por meio de um grupo de WhatsApp com empreendedores e entusiastas.
Em 2022, o Sebrae MT realizou uma pesquisa para mapear o ecossistema de inovação em Barra do Garças, aplicando um questionário para diagnosticar e avaliar o nível de maturidade local. A pesquisa revelou um grande potencial tecnológico na cidade.
“Fizemos o mapeamento dos ecossistemas de inovação no estado, e Barra do Garças foi incluída nesse processo. Aplicamos a metodologia do Ecossistema Local de Inovação (ELI) e realizamos algumas reuniões. No entanto, em 2022, as coisas não avançaram como esperávamos, mesmo com um plano de ação montado. Desde então, a comunidade conseguiu levar adiante algumas ações por conta própria. No final de 2023, assumi essa área e começamos a trabalhar juntos novamente”, explicou João Batista, interlocutor de inovação do Sebrae em Barra do Garças.
O principal evento de inovação da cidade, o Barra Summit, organizado pela comunidade e o Sebrae, consolidou-se como uma referência. A primeira edição ocorreu em 2023, com o tema: Oportunidades de negócios inovadores na saúde e agronegócio. “O Barra Summit começou com o desafio de mobilizar o ecossistema para resolver questões locais, mas hoje o evento se tornou uma vitrine para as iniciativas de inovação de Barra do Garças”, destacou Bruno Menezes, agente local de inovação da Fapemat e participante ativo do Roncador Valley.
O evento impulsionou ideias inovadoras e ajudou a transformá-las em negócios de sucesso, contribuindo para a consolidação do ecossistema de inovação local.
Até o final de 2022, a comunidade Roncador Valley não possuía startups. Hoje são oito, com diferentes níveis de maturidade: duas em operação, uma em fase pré-operacional, duas em fase de prototipação e três em ideação. “Se considerarmos startups por mil habitantes, podemos dizer que somos três vezes mais eficientes que Cuiabá”, destacou Bruno Menezes.
Nos últimos anos, a comunidade do Roncador Valley, em parceria com o Sebrae, tem desempenhado um papel fundamental na construção de um ecossistema de inovação robusto, que vai além das startups. As ações realizadas focaram não apenas no desenvolvimento das empresas emergentes, mas também no fortalecimento de outros setores, como o workshop de captação de recursos voltado para empresas capacitadas a acessar o edital Tecnova, que é uma iniciativa voltada para apoiar financeiramente o desenvolvimento de produtos, serviços ou processos inovadores.
Além disso, uma missão técnica ao Startup Summit, um dos maiores eventos de tecnologia, inovação e empreendedorismo do Brasil, voltado para startups, investidores, aceleradoras, e empresas do ecossistema de inovação, buscou envolver empresários, acadêmicos e outros atores locais para que pudessem conhecer mais sobre o ambiente de inovação e compreender a importância de legislações como a lei de inovação e as políticas públicas. Esse esforço coletivo ajudou a transformar o Roncador Valley em um ecossistema completo, onde atores de diferentes esferas — da comunidade local a órgãos estaduais — colaboram ativamente. Ressaltando também o apoio significativo da área de educação, que se consolidou com a parceria de universidades públicas e privadas, reforçando o engajamento na criação de um ecossistema sustentável e inovador.
O ecossistema está comprometido em implementar uma lei de inovação para o município, com o apoio das universidades locais, que foram envolvidas em missões estratégicas. O objetivo do Roncador Valley é transformar a região do Médio Araguaia em um ecossistema robusto, capaz de produzir cases de sucesso, promover o empreendedorismo e fomentar a inovação.
Fazem parte do Roncador Valley as Secretarias Municipais de Educação, Finanças, Meio Ambiente e Cultura, o Sebrae, a Câmara Municipal, Unicathedral, Univar, UFMT, IFMT, a Fapemat, Liga do Araguaia, Instituto PCI (Produzir, Conservar e Incluir), Obras (Associação Brasileira de Sustentabilidade), Agrisensor, Com Alma Arquitetura, DormiU, Senac, Unimed, Unicred, CDL, Estúdio Roncador e Supermercado Nilo.