sexta-feira,20 setembro, 2024

Influenciadores digitais, maduros e diversos

Pesquisa da agência Silver Makers mapeia 271 influenciadores com mais de 45 anos que também transitam por outros seis grupos de diversidade

A baiana Tâmara Tanner, de 50 anos, se define em seu perfil no Instagram (@tamara_tanner) como “Negra, Gorda, Alegre e Empoderada. Atriz, Modelo e Miss. Cheia de direitos, desafio estereótipos e celebro a diversidade com sorrisos contagiantes.” Tâmara tem 11.100 seguidores e está entre os 271 influenciadores identificados pela pesquisa Diversidade Conectada 45+, realizada pela agência Silver Makers, especializada em marketing de influência produzido por criadores maduros. A moradora de Salvador faz parte de um movimento que, até pouco tempo, era território dominado pelos jovens: pessoas mais velhas que usam as redes sociais para se expressar, defender uma causa, compartilhar conteúdo e, por que não, ganhar dinheiro.

“Há cinco anos, quando mapeamos 1.000 influenciadores maduros, poucos colocavam nas redes a sua diversidade de forma aberta e transparente”, diz a CEO Cléa Klouri, 64, que em 2019 fundou a Silver Makers com os sócios Márcio Weiler, Mylla Vieira e Hilton Chamis. “Agora, apareceu muita gente.” Os perfis maduros diversos foram identificados a partir de uma amostragem de 895 influenciadores que responderam ao questionário da Silver Makers no primeiro semestre deste ano. Os 271 influenciadores diversos pertencem aos grupos negros, LGBTQIA+, indígenas, PCDs, orientais e corpos. Alguns, como Tâmara (mulher negra, plus size e 50+), pertencem a mais de um tipo de diversidade.

Nem todos são ativistas de uma causa de diversidade. O carioca Marcelo Heizer, de 54 anos, que trabalhou como psicólogo por muitos anos, tem conquistado seguidores mostrando fotos de sua nova carreira: modelo e manequim profissional (@heizer_marcelomodel). Há também o mineiro Breno Venâncio Romanini, de 45 anos, produtor de conteúdo sobre turismo no perfil @otrotamundos, que tem 36 mil seguidores. E a carioca Luciene Giuliani, com 14,4 mil seguidores, que ganha dinheiro vendendo cursos de inclusão digital para pessoas com mais de 50 anos no perfil @sousenior. (A pesquisa completa será apresentada nesta sexta-feira, 16 de agosto, no MaturiFest 2024, em São Paulo).

Segundo a CEO da Silver Makers, desde que a empresa foi fundada, em 2019, as marcas vêm aumentando a procura por influenciadores mais velhos. Ela cita dois motivos. O primeiro é a constatação de que os clientes dessas empresas, assim como a população, também estão envelhecendo. O segundo é que, portanto, sentem a necessidade de conexão com esse público — e as redes sociais oferecem o ambiente propício para iniciar essa conversa. Cléa cita o Banco Mercantil, que, há três anos, decidiu focar toda a sua estratégia no cliente acima de 50 anos. Para marcar esse posicionamento, o banco mineiro, que tem mais de 80 anos de história, contratou a agência para uma “campanha com influenciadores para mostrar como os 50+ inspiram o desenvolvimento de seus produtos e serviços”, diz Cléa.

“O trabalho dos influenciadores digitais tem se tornado um grande aliado para as marcas em geral, em diversos segmentos. Para nós, do Mercantil, não é diferente”, diz Fernanda Palhares, coordenadora de comunicação de marca, citada no relatório Influenciadores digitais maduros & diversos 2024, que faz um apanhado da pesquisa. “[Os 50+] traduzem as mensagens que a nossa marca quer transmitir, de um jeito natural e próximo, como toda boa comunicação deve ser”, diz a executiva.

Agora, com os 271 influenciadores diversos em seu banco de dados, o desafio de Cléa e sua equipe é “dar voz, vez e valor a eles”, assim como vêm trabalhando com o grupo mais amplo desde o primeiro mapeamento de 2019. Não vai ser fácil, já que a maioria das empresas continua refratária à diversidade etária, seja na hora de contratar, desenvolver produtos e serviços, ou montar as estratégias de marketing. “Ainda existe, no consumidor maduro, a sensação de que é invisível, de que as marcas não se comunicam com ele. Nosso estudo é uma chamada para que elas respondam de maneira consistente ao fenômeno demográfico do envelhecimento, que se expressa também na diversidade, e deve ter o seu devido reconhecimento, fomentando assim uma sociedade mais inclusiva e sustentável.”

Por Maria Tereza Gomes, jornalista, mestre em administração de empresas pela FEA-USP, CEO da Jabuticaba Conteúdo e mediadora do podcast “Mulheres de 50”

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