Dicas para obter sucesso ao criar um empreendimento existem aos montes – na literatura, na internet, em talks, em eventos… Por isso, para quem está começando a jornada empreendedora, nem sempre é fácil saber quais apontamentos são realmente efetivos. Mas dois professores do Massachusetts Institute of Technology (MIT) afirmam que a adoção de uma certa estratégia funciona quase como uma “tática infalível” para o sucesso das startups.
Em dois livros lançados neste ano, Bill Aulet e Paul Cheek oferecem uma metodologia integrada e baseada em dados, mas para ser aplicada no mercado real. Bill é diretor administrativo do Martin Trust Center for MIT Entrepreneurship no MIT e professor de prática na MIT Sloan School of Management e no MIT Sloan Executive Education. Paul é professor sênior e diretor-executivo do Martin Trust Center for MIT Entrepreneurship.
Para a dupla, o segredo do sucesso é simples: encarar o empreendedorismo como uma engenharia.
Além dos livros “Empreendedorismo Disciplinado: 24 Etapas Para uma Startup Bem-sucedida” (de Bill Aulet, lançado originalmente há mais de 10 anos e com uma nova edição de 2024) e “Disciplined Entrepreneurship: Startup Tactics” (de Paul Cheek), os professores também comandam o programa acelerador de startups do Trust Center, o delta v. E é justamente esse programa que indica o quanto a tática aplicada pelos especialistas é efetiva: ao longo de 10 anos do projeto, 69% das startups tornaram-se empresas reais que existem até hoje ou foram adquiridas com sucesso.
Segundo o MIT, para efeito de comparação, a taxa global estimada de sucesso de novos empreendimentos é de menos de 10%.
Engenharia do empreendedorismo
Segundo Paul Cheek, há uma ‘matemática empreendedora’ na qual os projetos do MIT são baseados. “Adotamos uma abordagem de engenharia para o empreendedorismo”, explica Cheek em entrevista ao MIT. “É essencialmente o método científico tradicional: trata-se de identificar variáveis e refutar hipóteses para tomar decisões mais acertadas no futuro”, diz.
Embora os dois livros abordem essa metodologia, cada um aplica-a em uma parte diferente da jornada empreendedora, funcionando, assim, como conteúdos complementares.
“Nos estágios iniciais de uma startup, os fundadores precisam desempenhar muitas funções, desde recrutador e líder até chefe de marketing. Eles não podem ser especialistas em todas as áreas funcionais, mas podem fazer o suficiente nessas áreas para o crescimento da empresa”, avalia Cheek.
Segundo o especialista, essa abordagem de engenharia no processo empreendedor consegue aumentar as chances de sucesso de uma startup — basicamente porque o processo de identificar variáveis e refutar hipóteses resulta em “dizer a você o que fazer ou não fazer”.
“Construir um negócio é basicamente passar de uma ideia ou tecnologia a um plano de negócios, e o desafio é como colocar esse plano no mundo. Quais são as ações que você precisa realizar? Esta é a pergunta-chave que a matemática empreendedora consegue responder”, analisa Cheek.
Ensino didático na era da IA
Aulet destaca que tratar o empreendedorismo como uma engenharia também significa ensinar a prática de forma didática. “Atualmente, não existe um conjunto comum de conhecimentos com foco no empreendedorismo, e isso deixa as coisas em aberto”, disse Aulet ao MIT. “O que estamos fazendo com esses livros é criar uma linha de educação para o empreendedorismo”.
A dupla concorda que tópicos como estratégia, tática e disciplina são extremamente importantes de serem ensinados — especialmente à medida que a IA generativa passa a ser adotada para simplificar o processo de desenvolvimento e validação de ideias de negócios.
“Isso significa que as barreiras tradicionais cairão e a concorrência no mercado aumentará. Todos irão operar a um nível muito mais elevado”, diz Cheek. “O acesso a estratégias empresariais de alta qualidade será democratizado e o ritmo da inovação vai aumentar”.
Para os especialistas, neste novo cenário, só vai se destacar os projetos que tiverem líderes com competências empreendedoras fortes e uma grande capacidade de liderança. “Os líderes terão que adotar uma abordagem iterativa e científica à inovação, ou correrão o risco de se tornarem irrelevantes”, diz Aulet. “Este é o futuro da formação e educação em empreendedorismo – a integração de teoria, da prática e da táticas – para criar mais e melhores líderes orientados para a inovação”, conclui.
Por Soraia Alves