A evolução tecnológica dos últimos anos tem transformado o setor de saúde e impulsionado o surgimento de inúmeras startups com soluções dedicadas ao segmento, as chamadas healthtechs.
Por sua vez, essa modalidade de negócio de base tecnológica com foco na saúde digital está transformando a forma como os cuidados de saúde são oferecidos e recebidos pelos pacientes.
Nas próximas linhas, entenda como a Inteligência Artificial, a edição de genes e a biotecnologia estão remodelando o cenário da saúde.
Inteligência artificial: diagnósticos precisos e tratamentos personalizados
A aplicação da inteligência artificial na saúde tem contribuído com diagnósticos mais precisos e tratamentos personalizados para pacientes.
Algoritmos de aprendizado de máquina, por exemplo, analisam grandes volumes de dados médicos para identificar padrões e prever doenças com maior precisão. Isso não apenas melhora os resultados dos pacientes, mas também otimiza os recursos dos sistemas de saúde.
Um artigo publicado no MIT Technology Review, intitulado Estratégias de Inteligência Artificial na saúde e nos negócios, apurou que o uso de dados internos, selecionados e avaliados por algoritmos no hospital St. Michael em Toronto, no Canadá, possibilitou automatizar o processo de agendamento de plantões de enfermeiros. Com a medida, a instituição de saúde conseguiu reduzir fatores como tempo e esforço humano para organizar as escalas de trabalho.
Além disso, o mesmo artigo identificou outras oportunidades no uso de IA na saúde digital. São elas:
- no aprimoramento e na identificação de tendências para auxiliar no desenho de estratégias preventivas;
- nos negócios, sendo usada como vantagem competitiva para expandir e aumentar a base de clientes;
- para combinar informações oriundas de bases do sistema público de saúde com registros de pacientes em consultórios privados, melhorando o histórico e os cuidados oferecidos.
No entanto, os desafios em relação à segurança e da privacidade dos dados continuam a ser uma preocupação importante para o desenvolvimento e uso de soluções com base em IA na saúde. As empresas devem garantir que informações sensíveis sejam coletadas e tratadas com consentimento das partes envolvidas e transparência.
Saúde da mulher: empoderamento e inovação
Um setor que desponta na saúde digital diz respeito à saúde da mulher. A área tem recebido uma crescente atenção com o surgimento de tecnologias dedicadas ao acompanhamento da menstruação, fertilidade, gravidez e saúde sexual.
Dessa forma, desde aplicativos a uma outra série de dispositivos inteligentes permitem que as mulheres monitorem sua saúde.
E o mercado tem um enorme potencial de crescimento. Foi o que apontou um estudo conduzido pela McKinsey: até 2040, 3,9 bilhões de mulheres devem ser impactadas positivamente por esse desenvolvimento em todo o globo.
O relatório do McKinsey Health Institute em parceria com o Fórum Econômico Mundial salientou que o impacto no produto interno bruto (PIB) global no desenvolvimento da saúde digital feminina pode alcançar a marca de US$ 1 trilhão por ano. Desse total, US$ 13 bilhões correspondem apenas ao Brasil.
O estudo apontou ainda que, com relação à população feminina brasileira, a grande oportunidade está associada a possíveis soluções para a síndrome pré-menstrual. Avalia-se que este mercado pode resultar em US$ 2,4 bilhões.
Outra grande queixa das mulheres diz respeito a quadros de enxaqueca. Nesse sentido, as healthtechs que decidirem criar soluções para resolver esse problema podem gerar até US$ 1,5 bilhão em recursos.
Edição de genes e biotecnologia: rumo à medicina personalizada
Tanto a edição de genes quanto a biotecnologia oferecem perspectivas para o tratamento de doenças genéticas e a criação de terapias personalizadas.
Nesse cenário, estão ferramentas como o CRISPR, as quais permitem aos cientistas modificarem o DNA com precisão, abrindo caminho para a cura de doenças hereditárias. O feito foi indicado no levantamento 10 Breakthrough Technologies 2024 publicado pelos editores do MIT Technology Review.
Um tratamento baseado em CRISPR conduzido pela Vertex, organização que se tornou a primeira a obter aprovação regulamentar no Reino Unido e dos EUA para utilizar o recurso, identificou uma possível cura para a doença falciforme.
Durante sua participação no SXSW 2024, a futurista Amy Webb citou o “superciclo tecnológico”. Nesse sentido, emerge um novo tipo de IA, chamado de Organoid Intelligence ou Inteligência Artificial de organoides.
Por meio dessa inovação, seria possível usar células vivas interligadas ao meio computacional, de acordo com Webb. O projeto GNoME, do Google Deepmind, já faz uso do recurso para criar proteínas novas a partir de testes tecnológicos.
Inclusive, os pesquisadores à frente da iniciativa publicaram em conjunto um artigo na revista Nature sobre o tema.
Ainda: a futurista explicou na oportunidade que tais células têm o potencial de uso para gerar mais conexões do que é feito usando chips de silício. Corresponderia, assim, a um sistema de biocomputação feito com células cerebrais humanas vivas. Em testes realizados, essa espécie de organismo teria conseguido reconhecer vozes humanas sob aprendizado prévio, identificando uma entre 240 vozes diferentes.
No entanto, ainda que tenha um futuro promissor, tanto a edição de genes quanto a biotecnologia ainda precisam passar por questões de compliance e de ordem regulatória.
A preocupação em torno da proteção de dados e de atuar em conformidade com normas internacionais devem ser considerados ao desenvolver soluções para saúde digital. (Fonte: Getty Images/Reprodução)
Outras tendências em saúde digital e oportunidades para healthtechs
Já detalhamos algumas oportunidades de negócios para as healthtechs, mas ainda há outras apresentadas a seguir. Elas envolvem o uso massivo de tecnologias emergentes para além da IA, e prometem transformar ainda mais a saúde digital:
A primeira tendência diz respeito aos wearables, como smartwatches, pulseiras fitness e dispositivos de monitoramento de saúde. Esses gadgets podem coletar uma variedade de dados biométricos, como frequência cardíaca, atividade física, qualidade do sono e até níveis de glicose no sangue.
Com todas essas informações valiosas os usuários e os profissionais de saúde podem realizar o monitoramento contínuo, a detecção precoce de problemas e a personalização dos planos de tratamento. Porém, além de desenvolver os wearables, vale na mesma medida sofisticar os algoritmos usados para a análise de dados, a fim de extrair insights relevantes.
Outra tendência na saúde digital é o uso da Realidade Virtual (RV) na reabilitação física e mental. Para tanto, são criados ambientes digitais imersivos e interativos nos quais os pacientes fazem exercícios de reabilitação, terapias de exposição e treinamento cognitivo.
A medida é especialmente útil em pessoas com lesões musculoesqueléticas, distúrbios neurológicos, transtornos de ansiedade e outros problemas de saúde mental.
Por fim, a tecnologia blockchain também tem sido empregada na gestão de dados de saúde, oferecendo segurança, transparência e interoperabilidade. Por meio de um registro distribuído e imutável, garante-se a integridade e a privacidade dos dados. De quebra, facilita-se o compartilhamento seguro entre diferentes partes interessadas, como pacientes, médicos, hospitais e seguradoras.
Ao utilizar o recurso, é possível mitigar problemas associados à fragmentação dos sistemas de saúde e à falta de interoperabilidade entre plataformas e instituições.
Em resumo, a saúde digital está redefinindo os cuidados aos pacientes a partir do emprego de soluções inovadoras que melhoram a eficiência, a acessibilidade e os resultados dos diagnósticos.
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