Descoberta é de estudo realizado por pesquisadores da Alemanha; método reduz em 90% a taxa de mortalidade de formigas feridas, segundo os cientistas
Um novo estudo, publicado na terça-feira (2), descobriu que formigas têm o costume de amputar os membros feridos de outras formigas do mesmo ninho para garantir a sua sobrevivência. A descoberta foi relatada por pesquisadores da Universidade de Würzburg, em Baviera, na Alemanha, e publicada na revista científica Current Biology.
Segundo o estudo, as formigas carpinteiras da Flórida (Camponotus floridanus) amputam membros de formigas da mesma espécie como medida de precaução para impedir que infecções com risco de morte se espalhem pelo corpo do inseto.
Essa espécie de formigas é encontrada predominantemente no sudeste dos Estados Unidos. Com cor marrom avermelhado, elas são relativamente grandes, medindo 1,5 centímetros de comprimento. Elas costumam fazer ninhos em madeira podre e defendem seu lar contra colônias de formigas rivais, em combates que aumentam o risco de ferimentos.
Os pesquisadores escolheram estudar essa espécie de formiga por não terem glândula metapleural. Em outras espécies, essa glândula produz uma secreção que atua como antibiótico. O objetivo do estudo era entender como as formigas carpinteiras se protegiam contra infecções.
Para isso, a equipe analisou filmagens das colônias de formigas. Posteriormente, a equipe causou ferimentos na coxa (ou fêmur) e induziu infecções em 72 formigas carpinteiras. Metade delas recebeu amputações nas coxas realizadas pelos pesquisadores, enquanto as outras foram usadas como controle.
A taxa de mortalidade das formigas amputadas foi 90% menor em comparação ao grupo de controle, o que sugere que esses procedimentos são bem-sucedidos para impedir a disseminação da infecção. Apesar da perda de uma de suas seis pernas, esses insetos são capazes de retomar as suas tarefas no ninho.
Amputações são feitas apenas em coxas feridas
Os pesquisadores descobriram que as formigas realizam a amputação apenas se os ferimentos nas pernas forem na coxa, independentemente de os ferimentos serem estéreis ou infectados com bactérias. Por outro lado, se as feridas forem localizadas na parte inferior da perna (tíbia), as amputações não são feitas.
Nesse segundo caso, os cuidados são realizados de outra forma: as formigas lambem as feridas intensamente, possivelmente como uma forma mecânica de remover as bactérias. Segundo os pesquisadores, esse mecanismo é relativamente bem-sucedido, com uma taxa de sobrevivência de 75%.
Para entender se as formigas poderiam, também, amputar a parte inferior da perna ferida, os pesquisadores decidiram amputar essa região das formigas analisadas no estudo que estivessem feridas e infectadas por bactérias. Segundo o estudo, a taxa de sobrevivência após o procedimento foi de apenas 20%.
De acordo com os pesquisadores, há uma possível explicação para essa diferença: há muitos músculos nas coxas das formigas cuja atividade garante a circulação da hemolinfa, o “sangue” das formigas.
“Lesões na coxa prejudicam os músculos e dificultam a circulação”, explica Erik Frank, do JMU Biocentre, em comunicado. “Como o fluxo sanguíneo é reduzido, as bactérias não conseguem sair do ferimento para o corpo tão rapidamente. Nesse caso, a amputação vale a pena: se a ação for tomada rapidamente, há uma boa chance de que o corpo ainda esteja livre de bactérias”, completa.
Por outro lado, não há músculos na parte inferior da perna que sejam relevantes para a circulação da hemolinfa. Se essa região for ferida, as bactérias penetram no corpo de forma mais rápida. Nesse caso, o tempo disponível para uma amputação bem-sucedida é mais curto e a chance de sobrevivência é pequena. “É exatamente isso que as formigas parecem ‘saber’, para colocar em termos humanos”, diz o biólogo.
“Nosso estudo prova pela primeira vez que os animais também usam amputações profiláticas no curso do tratamento de feridas. E mostra que as formigas orientam o tratamento para o tipo de ferimento”, acrescenta Laurent Keller, uma das líderes do estudo.